Tema: Guerra de areia na praia
Problema: "Perder o fio da meada"
"O ruivinho afundou os joelhos na areia ensopada e, tão logo seu pai sentou na cadeira para ler um jornal, passou a cavoucar porções generosas de areia, armazenando as bolas disformes na pequena bacia amarela ao seu lado. Apenas quarenta passos para frente, na mesma linha, este ruivinho era observado com acerácea pelos olhos do gordinho de sunga verde, que tapava o sol em seu rosto com a mão fofa estendida por sobre a sobrancelha. Os dois sorriram de modo a baixar bem o queixo, num indicativo de iminente azucrinação.
Antes do ligeiro ruivinho contar sua vantagem de bolotas disformes, já estava o gordinho de sunga verde arrastando uma prancha de isopor com perfeitas bolas aveludadas, empilhadas com grande apuro. O ruivinho esboçou surpresa ao ver tantas perfeitas bolas e como um raio inesperado passou a tacar sua munição em direção ao alvo principal, girando os braços cumpridos, tal qual uma hélice louca de ventilador. Mas este giro não produziu efeito satisfatório em relação a pontaria, pois a areia caia muito mais longe que o necessário.
No lado oposto, agachou estrategicamente o gordinho, e com boa pontaria jogou suas primeiras três bolotas. As três acertaram a cabeça de fogo do inimigo. O ruivinho deu apenas um passo para trás e pronto, inesperadamente ficou a salvo das certeiras granadas de areia, pelo enorme guarda-sol azul que seu pai havia posto naquele ponto. O garoto aproveitou o alivio para mirar com precisão, segurando a mais pesada e molhada bola de sua coleção. E com toda pose de triunfo que conseguiu impor, atirou para pegar em cheio o nariz do outro. Mas o gordinho de sunga verde guardava mais habilidade que se poderia supor, desviando como um gato do grande tolete voador, que acabou por cair em grande angulo na bunda volumosa de sua mamãe, que descansava de bruços aproveitando o sol forte do meio dia. Abruptamente ela pôs-se de pé, esbravejando com o filho e estapeando as nádegas.
Mal pode se defender o gordinho de sunga verde, pois cortava o ar a alta gargalhada do ruivinho, observado pelo pai, agora atento à mulher que estapeava as nádegas ao longe. Quando ambos os adultos perceberam o que se passava ao redor, dois surfistas passaram a arremessar cocos verdes recém tomados em direções opostas, até acertarem a cabeça de um policial que acabara de estacionar sua bicicleta. Três famílias começaram a vaiar o policial e chutar areia da parte mais seca da praia em todas as direções, inclusive por cima do frango assado que ainda seria degustado. Um batalhão do exército juntou-se ao policial ainda zonzo da cocada e prontamente começou a avançar em direção ao mar, de modo a acuar os praieiros.
Surfistas acabaram por deixar suas ondas com intenção de defender os colegas que também estavam acuados. Havia muito coco verde espalhado na areia e que serviu como bala de canhão. Neste ponto, a selvageria instaurou-se de tal maneira, que jornalistas de várias emissoras sobrevoavam de helicóptero aquele trecho outrora pacato do litoral. Somente voltou a ordem das coisas quando o ruivinho e o gordinho de sunga verde transformaram-se em estrelas cadentes, e após flutuarem até muito alto, caíram em direção ao horizonte do mar. Todos fizeram seus desejos em voz baixa, cada um com a esperança de dias melhores pela frente".
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