quinta-feira, 27 de março de 2014

Rosto

|Neste. Dá-se aula de poesia|

Aqui que dá aula de poesia?

Dá-se.

Quero fazer.

Face!

quarta-feira, 26 de março de 2014

Vamos dar uma volta?


00:01
ლ(ಠ益ಠლ)

23h30min へへへへへへへへ  Inicio de passeio



Alô, felizardos da sintonia Minini. “Olé”, para quem aguarda a transmissão mais feroz dessa noite! Viajantes temporais liguem seu aparelho hora-dimensional e comecem a dedilhar essas cordas com tesão. “Olé”! Sincronizem este horário no visor, pois agora vamos acompanhar um bando de bananas, otários de grife numa velocidade tremenda.

Dá-lhe, dá-lhe, dá-lhe, bem vindos os bem-aventurados de espírito, que não se importam em uma quadrilha de assaltantes de banco utilizar uma porra de um Ford Tunderbird Stock vermelho para realizar seus feitos criminosos. A estética é absolutamente vital. A história é plástica e eu sou uma dama muito, mas muito, pirueta das idéias. No entanto, vá lá você, saiba que o relato é real, é vital e o racha fedeu no final. É questão de tempo, você vai ver/ler, este tempo é cronometrado, pois a vida tem dessa sincronia caótica. Então é assim, no tempo real da coisa, dá-lhe, dá-lhe, dá-lhe:




O carro do Danilo Gabarem está preparado para ser a maquina mais potente da estrada dos Elmos, uma estrada com 10 km de extensão, deserta e utilizada em corridas clandestinas já há muitos anos. Mal iluminada, serve como um antigo acesso a cidade de Montafa. Esta noite ela recebe apostadores e uma platéia alucinada por álcool e drogas, todos ansiosos pelo deslize dos carros na pista. Danilo Gabarem dirige um Nissan branco surrado pela ação do tempo. Encarando o rosto de Danilo, está o “barbado Sem Nome” roncando o motor de seu Opala vermelho, bem aconchegado no banco de vinil branco. Faltam dois minutos para a largada, para o racha mais febril da região.

Olé! Tenho uns dados para apresentar para vocês, saquem só como são as coisas:


Objetivo: chegar à entrada da cidade de Montafa (Final da Estrada dos Elmos).
Recompensa: Honda Civic Si.
Bônus: Dinamômetro para diagnostico de desempenho e dez mil dólares, somente se um dos competidores for destruído durante o trajeto.



Restam poucos segundos antes da largada para Danilo Gabarem por em prática o seu vicio. Ele abre o porta-luvas e retira uma chapinha de metal junto com um pequeno cilindro de alumínio, despeja o pó branco e o organiza em três fileiras na chapa. Aperta a narina e aspira rapidamente. Os olhos estalam e a coragem flui; é a cocaína que chega ao seu cérebro esburacado. Na palma da mão esquerda um papel do tamanho de um confete com um leão impresso num dos lados. Bota o papel no fundo da língua e dá a partida.

22h50min へへへへへへへへ O carro da morte

Quarenta minutos antes, no centro da cidade de Morsei, Eva Ritinha sofre um ataque epilético na calçada em frente a sua loja de doces. Com espasmos violentos, salivando e de olhos virados, ela tomba com violência no meio fio. A pequena cidade de Morsei dorme quase por completo e o único centro hospitalar entrou em greve há mais de uma semana. Abandonada sobre a calçada, Eva respira ofegante. Um furgão preto, com letras brancas enormes pintadas na lateral, encosta ao lado da senhora.
Sr. P. escorrega sua barriga imensa por detrás do volante com certa dificuldade e caminha em volta do furgão para auxiliar a senhora Eva.
– Minha senhora, muita calma, ajudarei no que puder.
– Eu tenho epilepsia e não tomei o medicamento esta noite. Estava a caminho de casa e tive um acesso. Respondeu Eva Ritinha, resfolegando e tentando se erguer sem a ajuda do estranho.
– Eu posso lhe ajudar, estou a caminho do hospital da cidade de Montafa.
Ao puxar um dos braços de Eva, Sr. P. notou a fratura na perna esquerda. O osso da velha senhora perfaz um “L”, repuxando a pele enrugada. Ela está em estado de choque e já não sente dor alguma.
– Levanto a senhora em meu colo e te coloco dentro do furgão, pois pela minha experiência, temos pelo menos quinze minutos antes que a perna piore.
– Piorar por quê? Disse Eva, com lagrimas e desconfiança nos olhos.
– A senhora fraturou a perna.
 Sr. P. fechou a porta e entrou rapidamente no furgão. Eva Ritinha inicia o trajeto rumo ao hospital de Montafa de uma maneira milagrosa e fúnebre, dentro do carro do IML, ao lado de uma pilha de cadáveres.



 23h47min へへへへへへへへ Luz no campo

A estrada dos Elmos é rodeada por um vasto campo de centeio que se perde no horizonte, nos dois lados da pista. Agricultores construíram suas casas de alvenaria em toda a extensão do cultivo, há muitas décadas. Hoje, o local está abandonado e sem qualquer iluminação, exceto por um gigantesco galpão de madeira com uma pequena casa acoplada em seu topo. Situado exatamente no meio do trajeto entre Montafa e Morsei, na beira da pista. Moradia de um humilde casal de agricultores  oriundos do sertão do país, que no auge dos quarenta e poucos anos, mantêm vivas as esperanças de riqueza e paixão através de discussões inflamadas.
– Desgraçada, vaca maldita. Tava se esfregando com quem na cidade? 
A loira de cabelos embaraçados caminha para trás em direção a janela.
– Tava não, com ninguém ué!
– Ouvi que não era assim. Toninho falou que sou corno, lá no bar.
Após calar-se por alguns segundos, a mulher balbucia:
– Você é um porcão. Eu dei pra outro mermo. Ele é doutor na cidade.
O homem, rústico, de botas, calção e uma regata surrada apertada contra sua barriga, bufa toda sua indignação, chutando caixotes de madeira espalhados pelo chão do quarto. A única iluminação da casa é provida por um lampião de querosene, que faz com que, vista debaixo, a janela de frente para a estrada dos Elmos se torne um farol e único ponto de referencia para toda escuridão que impregna o local.


22h30min へへへへ Os criminosos ardilosos

Estilhaços de vidro cobrem o chão do banco Royal na pequena cidade de Morsei. Os dois seguranças noturnos do banco estão amarrados e amordaçados, observando a movimentação de Zé Traquina e seus dois comparsas, Silú e Ed Grogue. Somando uma quantia de dois milhões em dinheiro fruto do trabalho rápido de coleta, o bando pula para rua estourando a vidraça da entrada, de modo a facilitar a retirada dos cinco malotes de dinheiro. Esse movimento dispara um alarme alternativo do banco. Em poucos minutos a policia vai cercá-los. Silú corre em direção a sombra, do outro lado da rua, para ligar o carro da fuga. Uma raridade e orgulho de Silú, um Ford Tunderbird Stock vermelho, de 1956. Os malfeitores entram apertados junto com o dinheiro; assim que o pneu canta no asfalto a policia surge com três viaturas, quebrando o silêncio da cidade com suas sirenes. A tarefa dos ladrões é despistar os carros e achar a melhor rota de fuga. O destino é a grande cidade de Montafa, onde se localiza o covil.


23h35min  へへへへへへへへ Duas máquinas

A traseira do Nissan patina de um lado para o outro, projetando o veiculo como um foguete em direção a escuridão da estrada. Dois segundos de vantagem em relação ao Opala. É o suficiente.
– Maldito, maldito, maldito. O sem nome, com a barba oleosa e escura gotejando no volante, pragueja enquanto troca as marchas.
O frio do asfalto extingue-se com a borracha quente dos pneus que percorrem o leito numa dança desenfreada, em velocidade absurda. A ânsia dos pilotos é carnívora, logo o canibalismo de seus carros surge com um ziguezaguear cego e objetivo. O Opala avança forte e irrefreável até colar a poucos centímetros do Nissan, desvairado e corajoso, ciente de sua tecnologia. As faíscas dão brilho à noite e os dois cavalos se tocam.


23h30min へへへへへへへへ Prenuncio de morte

No lado oposto ao da corrida alucinada, a Estrada dos Elmos recepciona, com toda sua escuridão, a fantasmagórica carona de Eva Ritinha. O furgão lustroso do IML chacoalha sua estrutura com uma velocidade precipitada, assustadora.
– Senhora, fique calma. É só atravessarmos este atalho e sairemos rapidamente na cidade de Montafa. – Disse o balofo Sr. P. – Suando como um porco prensado ao volante.
Com grande esforço  a boca de Eva contorce  para cuspir três palavras:
– Não... Tenha... Pressa.
O Sr. P. acelera, em pânico com a situação. Nos trinta e cinco anos atuando como legista, o Sr. P. gosta de trabalhar com clientes rígidos, frios e mortos. No entanto, a perspectiva da morte, o limiar da vida, a proximidade de um último suspiro, deixa os seus nervos tilintando como fios de metal. A pressão faz com que o braço comece a doer. O gordo Sr. P. observa ao longe um ponto luminoso que se aproxima rapidamente. Seus olhos estão vidrados, o rosto inchado e vermelho se contorce para o lado. Uma pontada no peito. O lindo campo de centeio que se espalha pela planície é banhado pela luz azulada da noite.

23h25min  へへへへへへへへ Sangue e balas

Tiros. Os projeteis passam zunindo entre os carros da policia. O Tunderbird vermelho rasga as estreitas ruas de Morsei. Dois balaços atingem a lateral polida do carro. O barulho seco da intrusa revolta Silú: – Seus filhos da puta.
– Anda com essa merda, porra – Zé Traquina se pendura na janela tentando acertar um tiro na cabeça de um policial.
O sangue que jorra quente pelo couro do assento é estancado com dificuldade pelas mãos pequenas de Ed Grogue. Duas curvas fechadas, o pneu canta e a raridade do carro ganha vantagem da lei.
– Dez minutos Ed e estamos livres. Agüenta as pontas. – Silú fez a promessa.


 23h36min へへへへへへへへ Efeito colateral

Euforia, excitação, onipotência. Danilo, o dono do mundo, mescla sua viagem pervertida no caviar das drogas com a maldita corrida. Não há medo. Os trancos na traseira do Nissan são fortes, Danilo permanece com o controle do volante e freia em pequenas doses para atingir o Sem Nome. Uma paranóia reversível acomete seus olhos com alucinações. Seu carro tem vida. O volante derrete queimando a palma da mão. Tudo treme, a estrada se desmancha lentamente em pedaços. Focos de luz despontam na retina, vindos de um horizonte cada vez mais perto. – Elevação! – Ele grita, e o carro se embrulha com intento de mastigá-lo. O alivio do piloto é acelerar mais. Sua viagem não tem fim.

23h40min へへへへへへへへ  Abatimento

Silú leva uma das mãos ao seu ventre. Empapado de sangue, ele ergue o tecido grudado à pele. A bala penetrou no estômago, rasgando a barriga e saindo na perna de Zé Traquina. Os ferimentos já não importam. A rota da fuga esta à frente deles. A estrada dos elmos hoje é o palco de criminosos, drogados, famílias, a morte e também dos abutres. A voz gutural de Zé Traquina se espalha pela noite: – Não pare no inferno. – O cenário ferve e a luz dos faróis faz surgir em meio à escuridão o carro da morte, o furgão do Sr. P.
– Desvia, porra!
– Cuidado!
Ed baba sangue enquanto atira desordenadamente para o alto. O thunderbyrd desvia pela esquerda ralando toda a lateral do furgão.
– Desgraçado!


23h41min へへへへへへへへ Expirar

Sr. P. enfarta. Sua barriga trava o volante, seu pé enrijece, afundando o acelerador. Eva desmaia e o carro da morte envereda sem controle pista afora.


23h45min へへ Encontro Irrefreável...     

A morte vem para ceifar as almas. O Opala do Sem Nome emparelha com o Nissan, aos trancos os carros são jogados de um lado ao outro da pista. O asfalto começa a baixar para os olhos de Danilo, ele joga o carro para cima do Opala. O barbado não consegue manter o controle.
23h48min40seg... Um marido dedicado, porém traído, é passível de cometer uma loucura. Com fúria no olhar, o caipira rústico e sujo, habitante da única casa da Estrada dos Elmos, agarra o lampião balançando-o com uma das mãos, as sombras dos poucos móveis dançam na parede. Ele gira o lampião e o joga furiosamente em direção a sua mulher. O vidro de querosene explode no peito da loira. Ela voa pela janela envolta pelas chamas, caindo vertiginosamente.
23h48min12seg... O barbado Sem Nome se desespera para retomar a dianteira e assim não percebe o furgão do IML vindo ao seu encontro.
23h48min36seg... Zé Traquina segura o volante do Ford Tunderbird Stock. Silú desmaia em sua poça de sangue, Ed Grogue dá o último suspiro ainda com a arma em punho. As sirenes podem ser ouvidas ao longe. A velocidade continua e um cheiro de carne infesta o carro. Estão na metade do caminho entre Morsei e Montafa. 23h48min38seg Passam por um Nissan coberto de poeira. Zé Traquina perde a concentração ao ver o sorriso e os olhos vermelhos de Danilo Gabarem. 23h48min39seg. O Opala frita os pneus e buzina freneticamente. 23h48min40seg.

A bola de fogo que se tornou a esposa do caipira violento atinge feito um cometa o capô do Tunderbyrd vermelho que afunda contra o chão; ergue a traseira com a força do impacto e gira em meia lua para o outro lado da pista. 23h48min42seg, o Sem Nome sente o calor das chamas e as fagulhas se espalharem por cima do Opala, ele pragueja ao ver o Nissan de Danilo sumir na poeira e essa visão é tapada pelos dizeres I.M.L. que carimbam seu painel. O furgão e o opala rodopiam no ar. 23h48min45seg Zé Traquina recolhe os próprios dentes, espalhados em seu peito. Com movimentos limitados ele luta para soltar as pernas, moídas pela ferragem, antes que todo o corpo se junte ao fogo infernal. 23h48min49seg. O Sem Nome esta vivo, jogado na pista, não pode ver os pedaços de corpos caindo como chuva. Um cadáver remendado cai sobre Zé Traquina na única fresta que resta na massa de ferro; é logo seguido pela caçamba do furgão que termina a mistura de sangue e ferro. O Sem Nome tateia o ar com uma placa de vidro atravessada em seus olhos. Tanques cheios e prensados não resistem ao fogo e uma explosão ilumina toda a estrada. 23h48min55seg, Danilo recupera sua lucidez após cruzar a linha da vitória. Parado no acostamento ele olha para a grande coluna de fogo e fumaça que se levanta no meio da Estrada dos Elmos. Acende um cigarro e traga profundamente. Camuflado pelo final do campo de centeio, ele está a salvo dos inúmeros carros de policia que agora chegam. 23h58min45seg. A grande casa queima, levando todas as provas do crime ali cometido, e no fogo a gordura de um assassino derrete. Ferro espalhado pela pista, marcas de sangue que se arrastam por metros, fogo, fumaça, corpos e membros decepados por toda a parte. A morte impera absoluta, deixando por testemunha apenas um cego cambaleante, gemendo de dor, implorando por alivio. Danilo olha para o inferno pela ultima vez. Liga seu carro e segue o caminho sinuoso, é hora de recolher sua recompensa. 00h01min. Dá-lhe, dá-lhe, dá-lhe!


Postado originalmente (e) com trilha sonora no link:
http://tudismocroned.blogspot.com.br/2012/12/senhora-mixtape-vol-1.html

quinta-feira, 20 de março de 2014

Malandruvá (Séjio Ferare & Tiquinho de Feze)

Compus uma MPB Introspectiva Boêmia, com banquinho e violão.

Malandruvá (Séjio Ferare & Tiquinho de Feze)


Malandro é malandro é malandro é malandro

Mandruuuvá
Mandruuuvá
Mandruuuvá

Mastigando as folhas do pessegueiro
Incomodando com suas cerpas
É o fogo, é a fome, o olhar rasteiro
De galho em galho, é o faceiro

Mandruuuvá
Mandruuuvá
Mandruuuvá

Malandro é malandro é malandro é malandro

Malandruuuvá

Malandruuuvá

Perepe pe pere pe pe

Pa tu pa tu ta tu ta pa ta pá tu pará

Perepe pe pere pe pe

Pa tu pa tu ta tu ta pa ta pá tu pará

As cores do coração
dançando valsa no salão
A mata verde que abraça
As borboletas que disfarçam
A canção da madrugada
Navegando no orvalho
É o malandro...

Malandro é malandro é malandro é malandro

Malandruuuvá

Malandruuuvá

Mandruuuvá
Mandruuuvá
Mandruuuvá

Malandruuuvá

Pa tu pa tu ta tu ta pa ta pá tu pará

Perepe pe pere pe pe

Pa tu pa tu ta tu ta pa ta pá tu pará

(c) 2013

Des Dez

A moça, cantora laríca na ópera, entrou na mercenária com uma lareira, o âmago roncando. Pediu um beijo gouda! NHAC

Arts Insolites HOJE e não AMANHÃ

quinta-feira, 13 de março de 2014

Lєпda₴ dё цмa cїdadё мцїто gяaпdє:



███▓▒░░Compro e vendo ouro.░░▒▓███

O senhor Cílio tinha idade avançada, daquela que é preciso ao menos uma muleta para apoiar o corpo. Mais velho que ele, era a residência de sua avó. Há muito falecida, ela deixara um casebre bonito para o solitário senhor Cílio cuidar. Certo dia, um pé de vento desviou de todos os arranha-céus da cidade e derrubou toda a casa da avó falecida. Senhor Cílio, desolado, fincou os quadris no morro de tijolos quebrados e telhas furadas por vários dias, lamentando-se por não ter previsto a tragédia material. Pouco antes de decidir continuar sua vida, um rato avançou por um monte de cacos de vidro, trazendo na boca uma barra de ouro. O velho arrepiou-se inteiro, reconhecendo a fortuna iminente. Ligeiro ele garfou, com uma tábua lascada, o corpo do gordo rato. Embrulhou a barra de ouro no casaco e rumou imediatamente ao centro da cidade.

...

"Compro e vendo ouro"
"Compro e vendo ouro"
"Compro e vendo ouro"
...

Papagaiava o velho banguela com uma placa pendurada no peito, com os mesmos dizeres daquilo que anunciava de boca.

"O senhor compra e vende ouro?" Indagou ansioso o senhor Cílio, após mancar lentamente até bem perto do outro velhote.

"Eu não, senhor. Quem compra e vende é meu patrão."

"E vamos até ele então."

Ambos arrastaram os passos morosamente até uma escadaria espremida num prédio comercial abarrotado de vendedores de perfume e relógios falsos. Após cinco lances sofridos nos curtos degraus, foi bem vindo o acesso ao elevador de carga acolchoado. Subiram até o quinquagésimo andar.

"Você desce aqui e eu volto pro calçadão. Segue o corredor até o fim, vira a esquerda, é no último guichê."

No último guichê, um buraco com grades numa parede sem portas, um novo velhote, com óculos profundos, dedicava atenção num racha cuca da Coquetel. Arranhou a garganta o senhor Cílio, ao mesmo tempo colocou o tijolo dourado para dentro de um pequeno vão no término das grades.

"Diga, diga quanto vale. Diga logo minha fortuna."

O novo velhote espiou o brilho do ouro e o pegou firmemente.

"Vou pesar, venho já".

Levou o ouro para algum lugar que não dava na vista. Voltou.

"Setecentos mil! Bem acima do mercado pois veja só, está cravado numa das faces o rosto de uma velhaca."

"Essa era minha avó."

"O que quer fazer?"

"Quero o dinheiro."

O novo velho dobrou seu quebra cuca e o pôs no bolso. Ergueu o ouro e também o guardou no bolso.

"Volto já."

Sete minutos e nada do dinheiro. O senhor Cílio passou a bufar preocupado. Tamborilou os dedos com força nas grades.

"Cadê?"

Sua perna começou a tremer involuntariamente, reflexo do prédio onde estava. Tudo chacoalhava. Passou um pé de vento no buraco da parede que entortou o rosto do senhor Cílio. Confuso, ele deu um passo pra trás. Então, tudo desabou. Paredes, pessoas, relógios, grades, guichê, escadas, elevador, bebedouro, amas de leite, motonetas, tudo voando em rodopios. Tudo feito de papelão, como perfeitas réplicas. Quando as últimas paredes de papelão desnudaram aquilo que antes fora um edifício, surgiu no céu o novo velho pilotando um helicóptero. Senhor Cílio tremia, confuso e amedrontado, de pé num pedestal, única estrutura firme que sobrara. Tal qual um equilibrista indiano, ergueu os braços em busca de equilíbrio. O helicóptero dava voltas ao contrário, toda a fuselagem da cabine até a cauda girava enquanto as hélices permaneciam paradas. As lentes graves do piloto brilhavam maldosas quando surgiam no meio do giro. Rindo e balançando o ouro maciço, ele gargalhava.

"GET TO DA CHOPPA, TROOOOOOOOOOOOOOUXA"

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E desapareceu no vasto montante de topos dos prédios daquela região.
Senhor Cílio resignou-se, vitima de um roubo pueril. Não mais desceu de onde estava. Principalmente porque ninguém mais naquela grande cidade possuía um helicóptero que voava ao contrário, ou uma escada estúpida o suficiente para o resgatar.