segunda-feira, 28 de julho de 2014

Croma Silvana e o Jantar Quadriculado.

Cansada de esperar a passeata contornar o quarteirão, Croma Silvana levantou-se da escada. A temporada de festas em honra de Santo Pardinho do Abaluê estava já em seu penúltimo dia e a caminhada tradicional de "Um Milhão de Passos" levou toda a população da cidade de Pardo até o ponto mais alto da região. Croma Silvana girava o dedão pelo gatilho de sua câmera e batia fotos a esmo dos muitos fiéis.

Mãe de Deus. Ó Mãe de Deus. Ó Abaluê do Pardinho. Salve a fome do povo.

Dos gritos do negro esquálido, parte dos devotos fizeram meia lua em volta do desvairado. Croma ergueu a câmera no buraco de corpos que conseguiu atravessar e saiu disparando. O negro tremeu o corpo e saracoteou como um possesso, pisava pé ante pé no contorno cada vez mais espaçado das pessoas.


Ó Santo Pardinho. Dá-me um bocado de comida. Eu me farto com um pouquinho.

A multidão debandou cascando de rir. Croma Silvana agachou na frente do homem e perguntou seu nome.
 

Seráfico Bonfim. Trinta e oito de vida. Vinte de fome, pois foi com dezoito que larguei mão da boa sorte e sofri a passagem da fé. Dez anos de devoção. Foi quando encontrei o caminho da boa marcha de Santo Pardinho. Cinco anos de chão frio nas noites deste interior perdido do mundo de Deus. Três minutos do tempo que me humilhou o populacho e o agora, em que chegou você com teu cabelo de ouro.

Ela encantou-se com as palavras populares de Seráfico e seu discursar proeminente. Percebeu logo a importância folclórica de tal personagem.
 

E diga, tão sofrido projeto, por que deste forte grito em sua fala? 

Moça bela, parece alheia as minhas palavras, apesar de ter se aproximado gentilmente. Por acaso faltou clareza no meu anseio de fome? Pois é fome exatamente o meu protesto. 

Eu entendo, Seráfico. Seu desempenho teatral foi um encanto. Penso agora numa ponta de destino, pois, ao meu passo curioso,  te vi surgir neste canto como uma personagem de fábula.

Croma riu da estranha figura e girou o gatilho novamente, disparando novas fotos. Ele sorriu e ergueu-se de um pulo.
 

E há destino mais eficiente do que gritar clamores no momento em que mais se apinha gente nessa romaria? Aproveito a oportunidade. Você mesmo, loura, viu que logo riram de meus modos. 

Vamos comigo até o fim da pequena jornada religiosa e de lá procuramos juntos algo para jantar. Que tal? 

Claro que sim! Aceito. Mas se pensa que eu paro de pé, como uma vara de pau, sem nem ao menos o café... 

Uma queijadinha na Dona Vera e podemos ir.

E foi-se Seráfico seguido por Croma. Ele abriu caminho com facilidade pelos devotos, que evitavam a todo custo o seu contato. Quarenta passos contados até a queijadinha e alguns segundos para engolir três bolinhos.


  Então, ainda me quer até o jantar? 

Não sei, não sei não, senhorzinho. Se for boa pessoa, podemos chegar lá.

Ele espremeu os olhos e limpou os dedos engordurados na calça puída.
 

Oxalá! Saiba que sou de paz.

E as horas do dia foram preenchidas por diversas atividades religiosas, supersticiosas e até mesmo esdrúxulas (quiçá todas fossem). No clic de sua fotografia, Croma Silvana registrou o máximo possível.

Um septuagenário deitou-se atrás da carroça de bois e, segurando firmemente no laço que sobrava da traseira, foi-se arrastado, comendo poeira e cantando com a multidão.

Certa senhora, pele morena estilhaçada de sol, empurrava com esforço uma carriola com seus quatro filhos adultos.

Um matuto esvaziara a garrafa de alambique em sua esposa. E a rodeava em uma dança complicada de bate-pés.

O padre chibatava três pupilos, bem a frente de todos os devotos. Um dos pupilos carregava Santa Madalena de Dias Plenos em gesso.

Outro que chibatava, era o suado dono de burro. Louco por continuar a caminhada, paralelo ao santo da festividade.

Quatro e meia da tarde e o íngreme percurso já castigou o que pôde do povo crédulo. Pararam os padres, parou o bispo. Estacionou o Santo Pardinho.
 

Sem a oração, nunca poderá uma alma produzir bons frutos. Poderosos somos nós que aqui, a partir de agora, rezaremos — Declamou em bom tom, um dos muitos religiosos ali presentes.

“Mimimimimimi
Ó santo Pardinho perdoe-nos,
Mimimimimimimi
somos dignos. Ó Abaluê.
Mimimimimimimi
Mimimimimimimi
Na prata da casa.
Mimimimimimimi
Proteja-nos!
Mimimimimimimi
Misericórdia.
Mimimimimimimi
Estaremos gratos.
Mimimimimimimi.
Amém!”.



Croma não rezou o “Mimimi”, tampouco Seráfico.


  Que estranho burburinho! Nunca ouvi nada igual. 

  Loura... essa coisa sempre me causa arrepios. Até da pontada no peito.

— Moro aqui apenas há poucos meses, Seráfico. Estou absorvendo essa cultura.
 
Um rapaz muito gordo gritou, do alto do cesto em que carregava a imagem sagrada principal da caminhada. Abrindo os braços, mostrando as marcas de suor, ele acenou para todos os lados.
 

FALTAM QUINZE PARA AS SEIS! Gritou como berrante o rapaz gordo no cesto.

Seráfico apertou a mão direita de Croma e a puxou com firmeza.
 

Vem comigo, pois a coisa vai explodir!Que vai o quê? Se-Seráfico, o que ocorre?

A multidão disparou desvairada, em risos e choros. Gritos loucos, num corre ladeira. A poeira que levantou, cobriu os topos calvos e as cabeleiras. Era corrida e tossida. Croma e seu amigo tropicavam de lado em cata cavaco, esbarrando em muita gente com medo, até debandarem de bunda em um trecho de mato. Também estavam descendo, mas no lado contrario do morro.

O vento balançava os arbustos e filetes de um sol vermelho  desapareciam no horizonte. Acima da terra, as estrelas começavam a se interpor no céu azul escuro. Duas figuras assistiam o final do dia e escutavam ao longe a turba, que havia partido em desespero.
 

Seráfico? O que aconteceu que fez as pessoas correrem como se fugissem do Diabo?  

É assim que sempre foi. Assim o é. Como fez São Pardinho do Abaluê! Deus lhe enviou um sinal. Às seis da tarde, seu estômago roncou e uma fome que não conhecia fim o arrebatou. O Santo negou as ofertas do Diabo, que o tentava com perfumadas especiarias e delicados bocados, para correr em direção ao seu lar. Lá, ele se refestelou num grande banquete. 

Uia! E é por isso que correram? 

Quem faz o trajeto e permanece aqui, como nós, no relento após as seis horas da tarde... É enganado pelas artimanhas do Diabo. 

Então lascou-se pra nós, homem. 

Credo em cruz, loura!

Seráfico cruzou o “Pai nosso” no peito.


O que lhe passou na cabeça para não sair correndo, Bonfim? 

Perderia a senhora de vista. Tu não viste a poeira que desgraçou toda a vista? E, além do mais, pela fé ou pela crendice do povo... Fico EU mais o MEU jantar!

Croma corou as maçãs do rosto, sorrindo para o esquálido homem. Os dois puseram-se de pé e bateram o pó do corpo. Terminaram a descida guiando-se pela luz opaca da lamparina de uma casebre de paredes amareladas. Finalmente na entrada, um bode com três patas os recepcionara com olhar perdido enquanto fungava uma tigela de água. Três moscas estilingavam  uma galinha branca e um gato cinza sem o rabo rolava pelas tábuas do solado. Croma e Seráfico avançaram exaustos e bateram na porta, que fora prontamente aberta.

A loura bateu uma foto com flash assim que o vulto esgueirou a cabeça para fora. Um homem calvo e de nariz filado fechou os olhos e os espremeu com o polegar. Croma gargalhou e Seráfico permaneceu imóvel e inexpressivo.
 

Desculpe-me senhor. Ai, ai, ai. Sou fotógrafa e passo por essas bandas para tirar fotos espontâneas. Eu sei que nem de longe você esta acostumado com a luz de uma legitima clicada.

O homem, mais alto que a porta do casebre, a mediu de cima a baixo e, com um sorriso de dentes amarelos, a respondeu com voz doce:
 

Não sei, jovem bonita, se entendo suas palavras. No mais, convido-a para entrar. Se está vindo da procissão, digo que chega perfeitamente atrasada para os deveres.

Seráfico  fez menção de puxar Croma para a direção oposta a da casa. Ela desvencilhou-se da trêmula mão e entrou sem cerimônias.
 

Vem Seráfico... Vamos conhecer.

Vem Seráfico! — Repetiu o anfitrião, agitando seu avental vermelho. Vamos nos conhecer. 

Cochichou o amedrontado Seráfico no pé do ouvido da loura:
 

  É muito irresponsável entrar numa casa erma de um estranho, não acha não?

Ela retorquiu também no cochicho:


   Muito arriscado, sim, pois aqui ninguém sabe quem é quem. Ele está na mesma situação que nós!

  Onde estamos, senhorita?
 
  Ah! Estamos no sentido oposto da cidade! Alias, me chamo Croma Silvana e este é Seráfico Bonfim.

O homem puxou duas cadeiras e os fez sentar. Quebrou o gelo com risadas e perguntas corriqueiras. Fez-se de assunto e indagou sobre novas histórias. Ficou-se sabendo que seu nome era Montalbano e vinha de uma cidade afastada do outro lado do rio.
 

  Bom, é sempre um prazer receber visitas. Como hoje calhou de ser um dia religioso, estava eu a preparar um jantar de devoção.

Seráfico finalmente ergueu a cabeça com sorriso pleno e animado.
 

  Quanta honra participar de tão digna refeição. Espero estar apto a provar da sua culinária, Monsenhor Montalbano!

Os dentes amarelos riram de baterem-se uns aos outros.
 

Ora, ora, Seráfico... Há muito não me nomeavam por Monsenhor. Digo a vocês que tenho um forno recheado das mais deliciosas tentações.

Croma e Seráfico entreolharam-se.
 

  E o que seriam essas guloseimas? — Perguntou Croma enquanto calibrava sua máquina fotográfica.  

  Diversos traços comestíveis. Cor sim, cor não. Vocês ainda não sabem, mas, no baile dos quadrados, lhes sirvo qualquer coisa em xadrez. Hoje, havia eu decidido degustar uma suculenta carne de bode. Trançada e riscada a faca. Faca amolada na lua dos chorões! Magníficas e tristonhas arvores do fim do mundo.

  Qual o quê? Bode? Este que tem três pernas? — Apontou Seráfico em direção a porta cerrada.
 
Pela única janela da cozinha apertada e desarrumada, incidiu um facho de luz vermelha. Por um momento, os três ficaram de cor sanguinolenta e as sombras dos poucos objetos do recinto inclinaram-se, umas sobre as outras. Cada pequeno quadrado de luz que era refletido parecia grudar na pele de todos e este mosaico cerceou toda a pequenez daquilo tudo.
 

  Olhem ali, olhem! Bradou Montalbano. O sol voltou para uma última espiada em nossas fuças.

Croma assustou-se com um fio de luz que espocou nas panelas penduradas sobre a pia e ergueu instintivamente sua câmera. O fogão enferrujado passou a ranger, arrastando pra frente e pra trás sua lataria enferrujada. A porta do forno abriu e fechou diversas vezes cuspindo uma fumaça de aroma delicioso.
 

  O forno! Olhe o forno, loura! Está se movendo... Está gritando! Bradou Seráfico jogando-se por debaixo da mesa.

Do teto, serpentearam tripas de linguiças curadas que se retorciam de um lado a outro. Montalbano pulou sobre a mesa. Com as mãos na cintura, ele gargalhava sonoramente. A cabana começou a rodar lentamente como um carrossel e, tal qual um caleidoscópio, as cores do ambiente alternavam-se e partiam-se em pequenos quadrados. Croma Silvana clicava a esmo, admirada com os eventos, sedenta por fotos.
 

  Santo Abaluê do Pardinho, proteja-me de todo o mal. Resgata minha alma e me tira deste mau bocado. 

  Você é meu bode, negro Seráfico. O anfitrião sapateou. Já  esqueceu de sua pena da romaria passada? Você que ousou vagar após as seis, blasfemando! Rindo do diabo! Passando fome! Lembra de como fui generoso contigo? E de como lhe ofereci do bom e do melhor?

E Seráfico levou as duas mãos a cabeça, chorando.
 

  Eu tinha fome... Fome!

Croma Silvana, pela primeira vez naquele dia, sentiu medo.  de costas, alheia em participar daquele quadro, foi pé atrás de pé, até encostar as costas na porta da entrada.

Montalbano passou a expelir fumaça das narinas e seus olhos  borbulhavam labaredas. As botinas estouraram e delas saíram pequenas cabeças enrugadas e disformes; e das pequenas cabeças escorregaram línguas bifurcadas; e das línguas bifurcadas brotaram olhos; e dos olhos abriram-se bocas; e das bocas saltaram batatas cozidas; e do vapor das batatas cozidas refletiram-se as figuras de Seráfico e do Diabo Montalbano. No vapor vítreo das silhuetas, Croma petrificou-se, assistindo o empalamento de seu amigo.
 

Acho que já chega, não chega, minha gente? Ela balbuciou.

O Seráfico de carne e osso rezava todos os cânticos que conhecia, ajoelhado no chão. Sua boca tapou-se então com uma grande maçã. Croma gritou:
 

  Corre homem de Deus. Salva tua pele.

Ela abriu a porta com força e o bode de três pernas voou em seu peito, derrubando-a sobre a mesa. A fraca madeira desabou. Ficaram estendidos e desmaiados, Seráfico e Croma. Montalbano, em sua forma horrenda, permaneceu a flutuar.

Croma acordou desorientada, ainda no chão. A primeira reação foi apertar a câmera envolta de seu pescoço. Olhou para frente e observou com desconforto Seráfico retorcido numa assadeira imensa. O gato cinza sem rabo, ereto, com a altura de um homem comum, pincelava melado no corpo nu daquele pobre faminto. Croma bateu uma foto e o gato esgoelou um miado agudo em sua direção. Montalbano, em sua aparência normal, debruçou-se surgido das sombras sobre a cabeça de Croma e assoprou gentilmente seu rosto. A loura foi arrastada porta a fora pelo sopro e continuou assoprada no embalo, morro acima. A cabana encolheu e entrou por terra, extinguindo-se por último a lamparina.

Suja dos pés a cabeça e toda arranhada por espinheiras santas da mata, Croma Silvana andou aos tropeços até o centro da cidadela de Pardo. Amanhecia no vilarejo e os pequenos comércios abriam suas portas. A encardida garota sentou-se na mesa do mini mercado e pediu uma cerveja. Logo o dono do local puxou assunto e também seu ajudante fez gracejos sobre o pedido matinal. Croma narrou os fatos que marcaram sua noite fantástica, o casebre no meio do nada, o anfitrião demoníaco, o jantar quadriculado e seu amigo Seráfico; cuja pessoa, ninguém nas paragens nunca ouvirá falar. Poucos dias depois, revelou suas fotos, muitas belas e coloridas. Infelizmente, após as seis horas, todas as imagens tiradas, eram nada mais que hachuras e um vulto borrado.


GIMENEZ, Croma Silvana. Novas Lendas do Brasil – Relatos Encantados Encontrados. São Paulo: Ed. Cipó ; 2008

sábado, 26 de julho de 2014

Língua de vaca


"Credo !!! Eu não vou querer isso... onde já se viu comer uma coisa que sai da boca da vaca? Me traz um ovo!!!"

domingo, 20 de julho de 2014

Novo Oeste.



O pistoleiro desceu do trem por volta das 18:00. Acendeu um cigarro de palha e aprumou uma surrada bolsa de lona nas costas. Pousou a mão direita no coldre, com os dedos roçando nervosos o gatilho do revólver. Caminhou para fora da pequena estação e só parou ao chegar na avenida principal. Avistou, na ponta oposta da avenida, outro pistoleiro. Imediatamente arqueou as pernas. O braço direito suspenso na altura da cintura. O outro pistoleiro deu alguns passos em sua direção e parou.

"Quando chegou, forasteiro?" - Gritou o outro pistoleiro.

"Agora, no trem das dezoito horas." - Respondeu, também gritando.

Ambos deram alguns passos para frente e pararam a curta distância.

"Esta cidade é grande demais para nós dois!"

O pistoleiro recém chegado olhou ao redor e então encarou seu nêmesis com ferocidade.

"Concordo!" - Respondeu soltando uma cusparada no chão.

Após intenso silêncio, um virou as costas para o outro. Caminharam em direções opostas, perdendo-se no fluxo de pessoas apressadas pela hora do rush. Desde então, nunca mais tornaram a se encontrar.

sábado, 19 de julho de 2014

Com a ajuda dos amigos.



Atenas - 450 a.C.

O jovem Sócrates estava reunido certa tarde com seu querido amigo Lélio Caeculus, no sopé de uma construção abandonada de mais um dos muitos templos genéricos que se erguiam àquela época. Haviam terminado de erguer uma pequena pilha circular de pedras e colocavam agora, lascas de madeira no meio.

"Bora lá, Sócrates, taca fogo no toco".

Sócrates esfregou as mãos e riscou um pequeno pedaço de tecido numa pedra pomes besuntada com enxofre. Arremessou então uma chama laranja nas lascas.

"Dá-me a grelha, tão logo quanto pode ser agora, aqui neste momento, Lélio."

Aprumou a grelha por sobre a chama crepitante e voltou a esfregar as mãos, agora com um sorriso amistoso diante do resultado satisfatório.

"Trouxe-lhe-mo-nos coelho fresco pra nóis. Estica-lo-ei-o-lhe aqui nesse foguinho. Vai vendo, irmão, vai vendo que delicia, Sócrates."

Sócrates furou o cadáver do coelho com a ponta de uma faca e então soltou um fio de azeite sobre a carne. O azeite escorreu direto pelo furo, caindo no fogo e produzindo fumaça em demasia. Lélio Caeculus pôs as mãos na cintura e bufou em desaprovação.

"Tá tirando-me-lhe-tu, Sócra, olha a merda que fizeste-lhe-mo-nos"

Sócrates apontou a faca para o céu límpido de Atenas.

"Conhece-te a ti mesmo, torna-te consciente de tua ignorância e será sábio."

Lélio, sarrista como era, deu um passo para trás fingindo espanto. Sócrates então apontou a faca ao amigo, zunindo-a no ar.

"É costume de um tolo, quando erra, queixar-se dos outros. É costume de um sábio queixar-se de si mesmo."

 
Sócrates apontou a faca para o próprio peito e com a voz bem fina e um sorriso sacana, disse pausadamente:

"Só sei que nada sei".

O amigo, boquiaberto, subiu em um grande bloco de pedra e anunciou de pulmões cheios à pequena turma que organizava um piquenique ao lado:

"Galera, o bagulho é feroz aqui, vocês tem que ouvir essa porra. Só sei que nada sei e tal."

Então as pessoas se juntaram aos dois amigos e enquanto dividiam seus quitutes e desfiavam o coelho, escutaram atentos o primeiro sermão daquele que viria a ser um grande filósofo e famoso churrasqueiro.

segunda-feira, 14 de julho de 2014

Zé de Lima, Rua Laura, mil e dez





Atanásio acordou atrasado. Levantou-se do sofá de molas e foi ao banheiro lavar o rosto. Aguou as axilas e as cheirou, retirou remela do olho direito e fez bochecho com água boricada. Vestiu uma calça caqui e um blazer da mesma cor. Olhou para o braço do sofá e viu sua tesoura de unha. Pensou em cortar as suas, mas mudou de idéia. Pegou o jornal de cima da televisão, botou debaixo do braço, caminhou até a porta, abriu.
Fechou a porta e foi calçar o sapato que havia esquecido. Abriu a porta novamente. Olhou para baixo e se agachou. Atanásio ficou a virar com as mãos o envelope pardo que estava em frente a sua soleira. Entrou novamente em casa. Colocou o jornal por cima da televisão, sentou no sofá e rasgou o topo do pacote. Cheirou o interior e levou a abertura aos olhos. Atanásio ficou pálido. Espremeu a parte aberta do envelope, levantou-se do sofá, pegou o jornal de cima da televisão e o usou para embrulhar tudo, numa só maçaroca. Correu até a porta e colocou aquilo de volta a soleira. Fechou a porta.
Atanásio ficou abatido. Foi ao banheiro e coçou o olho direito, fez gargarejo com água da torneira. Voltou à sala, despiu-se e deitou no sofá de molas. Dormiu. O telefone tocou e Atanásio deu um pulo. Bateu com a mão no gancho e ergueu o fone.

- Alô!
- A Rua Laura?
- Sim...
- Zé de Lima, Rua Laura, mil e dez?
- Zé de Lima não mora mais neste endereço. Quem fala é Atanásio!
- Você é também um palíndromo?
- O quê? Eu não... Não tenho nada a ver com as maracutaias daquele bandido.
- A droga da gorda. Fique sabendo... Chegou hoje a sua porta!
- Não seu desgraçado... Me deixa em paz... Não faço parte disto. Zé de Lima foi embora daqui.
- Escuta mequetrefe... Ai sempre foi palíndromo... E os negócios vão continuar. A mala nada na lama. Se não colaborar, vai morrer.

A linha cai. Atanásio descola o fone da orelha. Batidas na porta. Seu rosto fica pálido. Caminha até a entrada e fica parado. As batidas se intensificam. Atanásio abre. Fica encarando com olhar temeroso o homem alto a sua frente. 

- Palíndromo. – Disse o homem estendendo a mão.

Calça quadriculada, sapato bico fino de cor gelo. Camisa pólo prata, boina vermelha. Atanásio cumprimentou a figura, que sorriu com dentes de ouro. 

- Mas quem é mesmo o senhor? – Indagou Atanásio
- Sou o Palíndromo.

E a expressão no rosto da figura encheu-se de raiva e sua mão direita voou na garganta de Atanásio. Uma mão de seis dedos!

- Onde esta o pacote?

Sufocado, Atanásio apontou para a soleira e falou cuspindo:
- Deixei no meio do jornal...

Palíndromo agarrou o embrulho.

- Eu me mudei prá cá faz uma semana, por favor, entenda... Não conheço nenhum Zé de Lima.
- Eu sei. Estou refazendo os passos do safado. Zé de Lima arrumou um modo de me despistar. Deixou de fazer as coisas ao contrario. Mas de uma maneira eficaz... Não deram os mesmos resultados. 

Palíndromo retirou um revolver da cintura e disparou no peito de Atanásio.

- O galo ama o lago. O lobo ama o bolo. – Declamou para a vitima.

Com a visão turva, quase a perder os sentidos, Atanásio empurrou Palíndromo para a rua e bateu a porta. Gotejando sangue pela sala, foi ao banheiro e fez bochecho com água boricada. Espremeu os olhos. Deitou no sofá sem retirar a roupa. O sangue se esvaia. Dormiu.
Atanásio acordou empapado em suor. Olhou para o relógio da parede, faltavam quinze minutos para o galo cantar. Estava adiantado. Levantou-se e tirou a roupa. Nenhum sangue, nenhum ferimento. Permaneceu apenas com os sapatos e foi ao banheiro. Jogou água boricada nos olhos e raspou a língua com as unhas. Voltou à sala e jogou o jornal no chão. Ergueu a televisão e a colocou debaixo do braço. Abriu a porta. Deu de cara com um homem colocando um envelope pardo na soleira. 

- Quem é você?
- Zé de Lima.
- Por que esta colocando essa porcaria aqui?
- Por que esta de cueca, sapato e uma televisão no braço?

Atanásio quebrou a televisão na cabeça do Zé de Lima. O elemento caiu desfalecido no chão. O tal de Palíndromo saiu da penumbra, sorrindo. 

- Não adianta mudar a ordem dos fatos. Os resultados estão sendo os mesmos. A parte que me agrada é que, consegui encontrar Zé de Lima... Praticamente inevitável.

O telefone tocou. Palíndromo empurrou Atanásio da porta e atendeu.

- Zé de Lima, Rua Laura, mil e dez?
- Aqui é o Palíndromo. Pode se tranqüilizar. Consegui o pacote e o Zé. Anote a data da inversão. Diz pra gorda que a encomenda chega hoje. A droga da gorda.

Palíndromo bateu o fone no gancho e ao virar o corpo, Atanásio encaixou a tesoura de unha no segundo dedo mindinho do polidáctilo, que deu um berro de dor. Palíndromo olhou para o chão e viu seu dedo se debatendo, e de sua mão o sangue a jorrar do vazio recente. Palíndromo olhou para o teto – O céu sueco! - e desabou.
A madrugada estava chegando ao fim e os primeiros raios de sol batiam no rosto de Atanásio, que caminhava pela avenida, ainda sem roupas. 

- Senhor, vai ter que nos acompanhar! Qual seu nome? – Perguntou o policial que abordou Atanásio.

Ele apenas respondeu:
- Socorram-me, subi no ônibus em Marrocos!


segunda-feira, 7 de julho de 2014

PUF!

Pequeninos dedos de unhas brilhantes dos pezinhos gelados. Mãozinhas gordinhas apertando a manta rosa; corpinho magrinho, cabelo cacheado pretinho, caindo nos olhos castanhos, quase verdinhos. Fechados estão. Bem apertadinhos.

PUF! Estela! PUF! Estela! PUF!

“Acorda pequena! Desperta, espreguiça! Acorda criança. Salta da cama, bagunça e revira, abre a janela, me deixa entrar.”

PUF! Estela! PUF! Estela! PUF!

De um sono gostoso, desperto tão rápido, Estela olha a janela embaçada. Lá está a pequena criatura, sorrindo e saltando de uma ponta a outra, na borda de madeira. Estela desce da cama, levando a manta, esfregando os olhos, pisando descalça no chão gelado.

- O que foi? Quem é? Quem será?

PUF! Estela! PUF! Estela! PUF!

Sabendo o nome da pequena, numa melodia chata, seu nome repete e depois acena! Engraçado... Curioso... Fala, some e aparece novamente.

PUF! Estela! PUF! Estela! PUF!

Cuidado! Volta para a cama. Não, não abra a janela! Não será este o bicho papão? O homem do saco? Será? Tão pequeno, tão peludo, parece um ursinho. Será?  

PUF! Estela!

“Boa noite pequenina. Obrigado, obrigado. Já não me agüentava de frio lá no sereno. Quero ir pra casa, já é muito tarde. Sono, fome, frio, muitos problemas.”

PUF!

Ô ursinho, cadê você?

PUF!

- Você é de pelúcia?

“Eu? Sou de carne e osso, com um pouquinho de gordura. Minha barriga é estufada de pura fofura. Não sou ursinho, sou um Papão do pior tipo.”

- Bicho Papão? Papão? Mas tão pequenininho.

“Sou sim. Mas não vim sozinho!”

PUF! PUF!

Eu bem que avisei. Eu sabia. E agora Estela? Um bicho papão, que virou dois bichos papões!

PUF! PUF! PUF! PUF!

Que virou quatro bichos papões!

PUF! PUF! PUF! PUF! PUF! PUF! PUF! PUF! PUF! PUF! PUF! PUF! PUF!
PUF! PUF! PUF!

Que virou dezesseis bichos papões! Estela é melhor fazer alguma coisa.

- Papai! Papai!

Grite mais, grite mais!

- Papai! Papai! Papai!

Estela pula na cama e afunda nas almofadas. Um bicho papão gruda no outro, formando um ursão grandão. Feio, feio. Que medo, muito medo.
                                                                                                                            
- Papai! Papai!

Grite mais, grite mais!

- Papai! Papai! Papai!

“Olha só, que azar Estela criancinha. Vou te levar pra casa e te fazer de sopinha”.

A mão áspera de garras pontudas envolve Estela. Que medo, muito medo.

Para sorte dela, de repente: Toc, toc.

- Filha?

PUF!

Que bom, que alivio. Papai chegou. Sumiu o bicho papão. Está salva, Estela. Corre e abraça o herói. Ufa!

- Já falei para não abrir a janela, sapeca. Pula na cama, vou te embrulhar nessa manta. Beijo, boa noite. Sonha com anjinhos. Durma bem e não tenha medo. Mamãe e eu estamos aqui do ladinho. Beijos, beijos, boa noite princesa.

Pequeninos dedos de unhas brilhantes dos pezinhos gelados. Mãozinhas gordinhas apertando a manta rosa; corpinho magrinho, cabelo cacheado pretinho, caindo nos olhos castanhos, quase verdinhos. Fechados estão. Bem apertadinhos. Armário abrindo sozinho, bicho papão saindo. Sorrindo. Chega bem pertinho. 

PUF! PUF! 

Somem Estela e o monstrinho.


sábado, 5 de julho de 2014

tio Pês

O médico oftalmologista, após minucioso exame, afirmou para o jovem paciente:

(ㆆ▃ㆆ) "Você é míope!"

Em um rompante entusiasmado, o jovem respondeu com voz esganiçada:

◦°˚\(*❛‿❛)/˚°◦ "Num sô, tiopê! Naum asho valid fala Miupês que tiop, el asho merad! PrEfiRuH mIgUxEiX!"

(ㆆ▃ㆆ) ...

(◕‿-) kwaiiiii

quinta-feira, 3 de julho de 2014

O último ingrediente

Sua mão perscrutada de veias, sob a pele fina e enrugada, apóia a cabeça, deixando os cabelos sebosos e brancos caírem entre os dedos de unhas cumpridas e trincadas. Um fedor incrusta no vidro da janela, cerrada há um quarto de século. O único ruído é o crepitar da madeira apodrecida, esmorecendo no fogo que aquece a caldeira enferrujada. A cada fio tecido, vagarosamente de um lado a outro pela aranha, faz-se o tempo de cair um ou dois galhos pela chaminé, que rolam direto as chamas. Os pés descalços na pedra áspera estão envoltos pelo musgo modorrento que avança já à flacidez da perna. Ratazanas de olhos inchados contorcem os corpos na cama de palha e poeira, sem chamar atenção da velha mulher na cadeira de pano. A respiração fraca pulsa o tórax de ossos saltados, levando pelo ar a colônia de ácaros, como fractais refletidos na baixa luz das labaredas. Os olhos, amarelos e sem brilho, derretem viscosamente apontados para a borda descosturada do longo vestido negro. Nesta veste recai uma camada grossa de limo, onde baratas traçam contornos e se reproduzem.
 
Batidas repetidas ressoam na porta da frente. As dobradiças rústicas cedem ao oitavo murro e aquela grande e grossa tábua desaba ao chão. O rude empreiteiro, louro e comprido, espia o interior do pequeno chalé. A luz opaca da cabana encontra os olhos do homem.

- Com licença... Mil perdões...

O empreiteiro retira seu capacete de segurança ao notar o pequeno corpo diante do fogo.

- Com licença... Senhora? Bom dia. Desculpe pela porta. Não quis assustar.

A caldeira borbulha. Os ratos fogem pela porta atravessada ao chão, assustam o homem. A velha mulher permanece num torpor rígido.

- Senhora, se não for incômodo, peço sua atenção. Sou da Construtora “Prisma” e vim lhe informar da futura construção de uma rodovia que irá dar acesso entre a cidade de Vale Seco e Vale Grande, neste exato trajeto e com certeza temos uma boa proposta. Afinal é a única casa em quilômetros de mata. Senhora? Está tudo bem? Senhora?

O empreiteiro aproxima-se da velha e seu corpo esfria e seu pêlo eriça. Na aba da sombra, que deita sobre o rosto da velha mulher, uma boca envolta por hachuras e pêlos quebradiços abre-se com um ranger contundente:

- Morto de desgosto. Morto. Foi o morto que lhe trouxe. Viajou de desgosto. Morto. Pois me falta um último ingrediente.

A rouquidão perpassa a boca apodrecida relampejando por todo o pequeno recinto. O esguio empreiteiro perde o equilíbrio do corpo. Um medo repentino lhe assalta, aflorando uma repulsa extrema e irracional daquela coisa velha, sentada disforme a sua frente. Sua perna trêmula retorna dois passos em direção a luz que preenche o limiar do vão, onde antes se erguia a porta. Com pouca flexibilidade, ele engancha o calcanhar na grossa madeira que havia derrubado e cai com um baque seco de costas.

- Morto, morto. Enfim o fim. Ceifou o corpo. Foi o morto que lhe trouxe.

A velha desgruda a mão da face coagulada. Ergue-se estralando todos os ossos, caminhando vagarosamente. O musgo de seu pé marca os passos que ecoam um barulho gelatinoso. Ajoelha-se diante do homem inerte. Roça as unhas com força na camisa, estourando os botões que prendem o tecido. Atordoado, ele ergue a cabeça e o sangue começa a verter do nariz. Sua visão turva o faz estirar a nuca novamente ao chão em um torpor. A velha enlaça seus dedos finos no galho podre que rola pelo chão. Salivando com um odor acre, ela tomba sua face ao peito do homem e afunda a ponta do toco, repleto de farpas, na barriga tenra. O empreiteiro, em desespero, resfolega um gemido ao sentir sua carne formigar.

- Quarenta anos eu espero. Só falta um ingrediente.

A velha faz um corte do umbigo ao peito do empreiteiro, rasgando a pele com as mãos, espalhando o sangue escuro e encorpado por todo o piso. Com uma força demoníaca, diante das veias, das tripas, ossos, músculos e órgãos, ela revira tudo com os dedos. O homem perde os sentidos.
As corujas pousam como uma mortalha na borda do teto. O empreiteiro desperta ofegante no chalé. A noite vaza porta adentro. Ele desaba a chorar, dominado pelo medo e pela dor, amortecida e tenaz, que sobe em vagalhões por sua espinha. Ele levanta de súbito, apoiando as mãos na parede de teias. Seu peito e sua barriga estão rudemente costurados por um pedaço longo de arame descascado. Ainda assim o sangue verte em fios desalinhados por toda a pele arranhada. A luz do fogo esquenta a caldeira e traça os contornos da velha. Sentada na mesma posição de quando ele havia entrado. Como uma estátua amaldiçoada. A mão apoiando a cabeça, o longo cabelo caído pelo corpo, o limo, as baratas em sua rotina, no velho vestido abarrotado, os olhos amarelos semicerrados, a unha trincada, o musgo dos pés descalços no chão de pedra. E entre os lábios o balbuciar fraco:

- O morto não trouxe... O morto não trouxe... O morto não trouxe...

O empreiteiro parte como um ensandecido pela floresta, batendo dente com dente, com o pulmão ardendo, as veias do pescoço serpenteando a pele. Sem olhar para trás, debulha-se em lágrimas. Ao longe avista lanternas. Vozes clamando seu nome. Cai nos braços de dois homens. Desmaia. Fosse o próprio diabo vasculhando seu corpo, nada encontrou, senão sangue. 
 
Nos dias que passaram, a pequena casa foi abraçada novamente pela densa mata e o jovem empreiteiro tombou enfermo, sem poder definir seu aterrorizante encontro. E a velha bruxa retorna a sua espera, imóvel e pungente, pois ainda lhe falta um último ingrediente.

terça-feira, 1 de julho de 2014

Histórias que leríamos:




Índice:

O policial canibal faz pizza na prisão.
Pegue aquela borboleta e disfarce.
Nunes, o acobertador de bolos
Era uma vez duas vezes três
Agência SINCOPE e a crise dos artistas mancos
O mito Pal
Kobayashi, não sabe fazer sushi
O garçom que se chamava Garçom.
Moedas para moelas
A gaveta chacoalhando na beira do abismo.
Silva - Documentado, sujo, real.

Novamente: Variedades Notáveis



O primeiro sorvete a chegar na América veio em 12 de Outubro de 1492, na nau maior, Santa Maria. E, devido ao seu estado, foi apresentado aos índios nativos pelo nome de SUCO.

***
Horror Contemporâneo - O fax

Após limpeza no sótão, ficou curioso e ligou seu antigo fax na tomada. Imediatamente o aparelho começou a imprimir..

...príííí...prííí......príííí...prííí...
...príííí...prííí......príííí...prííí......príííí...prííí...

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Oasis é o equivalente britânico do Legião Urbana que é o equivalente brasileiro de passar uma noite inteira vigiando um oásis no deserto do Saara no topo de um solitário forte na sede da Legião estrangeira. De toda a forma, há sono no meio!

***

- Mestre? É verdade que você mora no topo desta montanha há dois anos?

- Sim.

- É verdade também que você se alimenta apenas dos frutos que caem desta macieira?

- Sim. E também de raízes secas e água da chuva.

- Mestre? É verdade que você não mata nenhum ser vivo?

- Nunca. Nem o menor dos insetos.

- Mestre... Vim lhe trazer isto...

- O que é?

- Neste vidrinho há um mosquito da dengue.

- Por que ele está aqui?

- Matariam-no na cidade. Vou solta-lo.

- Solte-o.

SEIS MESES DEPOIS.

- Mestre? É verdade que ficou doente após minha última visita?

- Sim. Dengue.

- Mestre...eu sinto muito.

- Tudo bem.

- Mestre, o mosquito...

- Viveu e foi embora.

- Mestre? Vim lhe trazer mais um mosquito da dengue.

- Qual o motivo?

- Querem mata-lo, pois este causa dengue hemorrágica!

- Tudo bem.

- Até breve, mestre.

QUINZE MINUTOS DEPOIS. NA CHURRASCARIA PAMPAS

- Hey, MESTRE? O quê faz aqui? Comendo carne?

- Escuta seu puto, vai pro caralho que te pariu e enfia o teu mosquito no cu.

- Mestre? O mosquito...

- Espatifei aquela merda. Você acha que eu sou um otário? Seu babaca, filha da puta.

- Mestre...

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Arts Insolites HOJE e não AMANHÃ