segunda-feira, 19 de novembro de 2012

Disneybomba (Dia D)




As trombetas do apocalipse não tocaram quando o Pluto explodiu seu colete de dinamite na Disneylândia. O jovem que havia sido contratado para se vestir de Mickey ficou preso no abafado traje parcialmente derretido e grudado em sua pele. Ele cambaleou até os escombros do que sobrou da Casa dos Sete Anões, buscando por água. Após descolar os dedos do cadáver, de um dos sete figurantes anões, de um cantil de alumínio, o jovem trajado de Mickey tentou derramar o liquido por dentro do vão dos olhos para que escorresse até sua boca. Neste momento alguém se aproximou por trás. Uma criança, com a boca esfolada e vertendo sangue em abundância, segurava um revólver nas pequenas mãos, apontado-o para o Mickey.

"Você está sorrindo?"


Mickey tentou responder, mas sua garganta estava inchada e a língua seca, a voz falha produzia apenas um fino assobio.

"Meus pais morreram e você está sorrindo..."

O cantil se movimentava nervosamente na mão trêmula do Mickey.

"A Disneylândia matou meus pais?"

Outro assobio de voz, Mickey deu um passo para frente. A criança recuou.

"Eu quero saber por que você está sorrindo..."

A criança chorava, as lágrimas passavam pela bochecha chamuscada e se juntavam ao sangue. Mickey deu mais um passo e pisou em metade de um tronco de mulher.

“Você pisou na minha mãe!”

A criança ergueu a arma. Mickey retirou o pé do corpo da mãe da criança e se agachou lentamente.

“Mickey! Você tá dando risada. Você tá rindo da mamãe”.

A arma vacilou na pequena mão. Mickey largou o cantil e avançou novamente. A criança aprumou o revólver com mais firmeza. Mickey estancou à poucos centímetros do cano. Por cima da criança havia um policial empalado por uma viga de concreto. Mickey deduziu que a arma era real. A criança se enfureceu, soluçou e chorou copiosamente.

"A Disneylândia matou meus pais... Matou meus pais. Você tá dando risada."

A criança virou o rosto para o lado. Mickey sentiu que era a hora do disparo. Não sabia o que fazer. Ergueu as mãos. O Pato Donald despontou de um amontoado de brinquedos queimados, segurando uma espécie de gatilho. Neste instante, um zunido ecoou e a criança se partiu em vários pedaços, em seu lugar, tomou forma uma imensa bola de fogo que engolfou a sorridente grande cabeça de pelúcia do Mickey. Ele voou por alguns metros e antes de perder por completo os sentidos, viu o Pateta ajudando a Minnie a apertar outro colete de dinamite em seu peito. O sorriso da fantasia pegou fogo e, pouco a pouco, entortou em sinal de tristeza.

sexta-feira, 9 de novembro de 2012

Feudal



Yodel, era de Abacaxi.
Imperador Tsuchimikado, era de Kamakura

‎1198-1210
Arts Insolites HOJE e não AMANHÃ

quinta-feira, 8 de novembro de 2012

Patos, patos, patos



O velho assistente Douglas Matrato apertou a fivela de arame da gaiola de patos e a ergueu com  esforço na traseira da caminhonete.

- Madame Rita Rica Sá aguarda-nos, pontualmente, para as dezoito horas.

A camisa pólo do velho assistente, em listras azuis e amarelas, agarrou-se de tal forma à gaiola que se desfez quase por completo quando a estrutura quicou na borracha do veiculo. O psicoterapeuta Marcus Bono Pino, formando da turma de 58 na universidade Bobone, com três de quatro citações possíveis no quadro de prodígios mantido pela instituição, levou três dedos finos e brilhosos à frente de sua boca. Emitiu um estalo agudo que por toda sua vida foi o máximo de que poderia expressar numa risada.

- Vai ter sopa?

O doutor girou a aba do seu panamá e bateu a ponta da bengala no chão, arremessando três pedrinhas em seqüência, razoavelmente longe.

- Mas obviamente teremos sopa, caviar, lagosta e mais. Exceto pato, definitivamente não os teremos. Não mencione patos, não discuta patos, não aluda a patos, não cheire a pato, não se movimente como pato.

O velho fechou a tampa e fungou suas axilas.

- Impossível não cheirar igual a estas aves depois de carregar mais de trinta gaiolas. Passemos em casa e tomarei uma ducha.

- É compatível – Respondeu o doutor conferindo seu Dumont. 

Dezoito horas na mansão da Madame Rita Rica Sá. A construção de ares coloniais, isolada da vizinhança por metros e metros de um jardim bem podado e diversificado, ladeado por dois caminhos de pedra mármore, um rústico para veículos e outro polido, para elegantes passeios ou saídas furtivas para a cidade. Postes de ferro se multiplicavam em tamanhos diversos para sustentar os globos de iluminação, alternando a luz até a entrada principal.  

“Pim, Pim, Póm, Póm, Póm, Pim”. 

Soou a campainha.

Abriu a porta um homem baixo e careca, vestido num puído casaco de camurça, um jornal debaixo do braço e careta de poucos amigos.

- Boa noite.

- Doutor Marcus Bono Pino, psicoterapeuta cinco estrelas.

- Boa noite e até breve, doutor.

O pequeno homem caiu ligeiro pela esquerda, tão rápido quanto à seca saudação, abandonando o psicoterapeuta cinco estrelas e seu assistente. Prontamente o “ploc, ploc” dos saltos da Madame Rita chegaram até a entrada.

- Doutor, que prazer recebê-lo em minha humilde residência. Como me foi instruído, dispensei Weberklein, o mordomo, que acaba de passar por vossa pessoa. Também liberei as demais criadagens, Alzira, a cozinheira, Almir Cavalo, o jardineiro e Toloco, o meu descanso de pernas.

- Perfeito, minha cara Rica.

Atravessaram em marcha imperial por dois extensos corredores ornados por quadros de Miró e Cavalcanti. As portas, coadjuvantes do trajeto, todas elas cerradas e rotuladas com pequenas placas, advertiam que “Esta noite é a noite da superação”. Por fim, despontou a sala de jantar.

À meia luz de candelabros italianos, a mesa de vidro retangular coberta por um delicado linho de cor vermelha, os pratos de porcelana grega repetiam o padrão de pintura, três damas segurando ramalhetes de açucena num campo verde, esperando a sopa, a salada ou a carne. As panelas de bronze também já dispostas liberavam o aroma da culinária. Sem os serviçais, cada um colheu o seu bocado entre variadas opções. Doutor Marcus rodeou o tablado servindo o cabernet sauvignon.  

- Quando quiser doutor, estou preparada para a parte pratica.

Na saleta da lareira, doutor Marcus Bono Pino riscou o terceiro fósforo para dar continuidade à brasa de seu cubano.

- Ao assinar este documento, madame, estará concordando com o procedimento psicoterápico que empreenderemos nesta noite. Estará sujeita a todas as metodologias que aplicarei.

Ela apertou o vestido violeta e sentou-se com os quadris largos no braço da poltrona oposta ao psicoterapeuta.

- Confio em todo seu histórico de curas. Confio em teus altos custos. E me entrego, apesar do terror que me toma às suas experiências.

- Veja bem, o que farei aqui é altamente experimental. Acredito que tua aversão seja, talvez, a mais ficcional que já lidei. Não existem, até o momento, registros ou estudos profissionais de tua desordem. Acredito que a madame está sendo induzida pela fantasia de um escritor, um desenhista qualquer, que tenha feito alusão ao tema e este passou pelos seus olhos de forma galopante. Cá estamos para trazer-te ao mundo real.

O doutor espremeu o charuto no cinzeiro de pedra e caminhou para fora da saleta, parando na porta ao lado de seu assistente.

- Confronte, sem agressividade. Confie em si mesma. Você é forte e nada vai te abater. Fique em teu quarto até as vinte e duas horas. Saia e ande por toda a casa, ou até onde puder ou ter vontade. Vemos-nos às oito da manhã. Não se esqueça dos exercícios de respiração.

A mansão, em contagem regressiva para as dez horas da noite, recepcionou a marcha de patos desengonçados, que o velho assistente Douglas Matrato desembocou pela porta da dispensa.  

- Vamos topetudos, entrando, entrando. Patinho, patão, pata, patona.

E “quá, quá” pra lá e pra cá. “Quá, quá”, entrou casa adentro. Grasnaram cada vez mais alto os patos do mato.

Numa guarita, da entrada próxima ao portão, o psicoterapeuta, doutor Marcus Bono Pino montou guarda e observou de binóculos as janelas amplas da casa. Dez horas badalaram. Madame Rita Rica Sá calçou sua pantufa de veludo e apertou a cinta de seda da camisola púrpura. Respirou fundo e abriu a porta.

Douglas lançava por todo o andar debaixo punhados de insetos, moluscos, peixinhos, e grãos. Bateu os braços, curvado ao chão e os patos trombaram uns nos outros e nas paredes, desordenados, sempre adiante. Pedaços de batata no pé da escada. Dez horas e dez minutos, era hora de cair fora.



- Os procedimentos foram executados?

- Certamente, doutor.

- Fechou a porta da dispensa?

- Esqueci, doutor.

Doutor Marcus espremeu as linhas de sua testa e Douglas girou os dedos impaciente, ciente de sua falta.

- Volto lá?

- Não, deixe. Estarão os patos distraídos com a comida.

Deixados os patos e a comida, restou a madame Rita apalpando o corrimão com as palmas suadas. “Flap, flap”, ela escutava logo abaixo.

- Asas! Óh, Deus, o ruído de asas!

O coração da balzaquiana trotou ligeiro, vibrando sua garganta. A respiração soprou na boca seca. E pequeninos olhos negros como caroço de mamão despontaram no último degrau. A madame soltou um tonificado “Úúú” pela boca, recostando-se na parede. O pato mascava meia carcaça de peixe.

- Olhando minhas pernas. Maldito a olhar minhas pernas.

Ela contorceu-se, os nervos paralisados. Inspirou e expirou. Lembrou das inúmeras passagens pelo consultório do terapeuta, o plano para um confronto cara a cara com o motivo de sua fobia.

- Hoje ou nunca. Vamos lá, Rita Rica Sá.  

Deu quatro passos e pulou direto ao quinto degrau da escadaria. Infelizmente escorregou em um agrupamento maligno de mexilhões. O desbunde acabou já no corredor térreo, atiçando cinco topetudos que esvoaçaram como puderam para não serem esmagados. Rita, de face amarela, ergueu-se levando alternadamente um pulso e logo o outro pulso em direção a testa.

- Ai de mim. Não consigo mais. A dor, o horror.



O horror, logo o panorama do inferno grafou-se em sua frente, por todo o lado. Patos, patos e mais patos. “Quá, quá, quá”. O grito alcançou a guarita e despertou o doutor Marcus e seu velho assistente Douglas Matrato.



- Opa, começou. Opa, vamos lá.

- Doutor, como faremos?

- Não faremos nada até as oito da manhã. E já fomos pagos. E mais do que todo este trabalhão, teria que cobrar mais e a mulher está falindo, com seus quadros e toda sua gordura.

Posto que o doutor nada fizesse, Rita afogou-se num ataque de pânico. Gritou e correu como os próprios patos do mato, selvagem e balançando seus pés desengonçadamente com o veludo fino das pantufas resvalando nos bicos duros e sujos dos bichos.

- Vencendo a anatidaefobia, vencendo a ornitofobia. Eu estou! Eu estou!

Louca, com os olhos de caroço de mamão por baixo de sua camisola, tentando conquistar suas coxas. Sentiu a primeira bicada, um belisco leve e o grasnar da vitória dos patos. “Quá, quá, quá”!

- Ainda não!

Chutou a bunda de três patos retardatários que se empanturravam com milho, derrubou dois Miró e quatro Di Cavalcanti. Finalmente, esbaforida, cruzou a sala de jantar e deitou na mesa de vidro. Caiu a louça grega no chão, coisa que irritou os patos. “Quá, quá, quá,quá,quá”.  

- Socorro, doutor Marcus. Socorro, bom doutor.

A súplica chegou redonda na guarita e prontamente Douglas levantou-se.

- O que está fazendo, meu velho?

- Oras, não ouviu?

- Ouvi algo que faz parte dos tratamentos mais ousados e bem sucedidos. Continue o pife. Vamos, meu velho.

Os patos abriram um semi-circulo ao redor da mesa e interromperam a nojenta refeição no meio da bagunça. Madame Rita deslizou na mesa encharcada com abundante suor, ao tentar se por de pé. Ouviu então um grasno cavernoso e mais outro e outro. Saltaram das estantes de cristais, os patos mutantes, medonhos, gigantescos.


Os patos gordos, que alimentam grandes famílias, saltaram com suas carecas vermelhas e o peito explodindo em um marrom opaco. Caíram em pares na mesa de vidro. O pranchão, tão grosso, não suportou o bombardeio e partiu-se em quatro, levando ao chão estilhaços, Rita e os patos gigantes, suculentos, mutantes. “Ao ataque” diziam aqueles olhinhos diferentes, azulados, craquelados.

- Cruzes! Santo Antão.

Rita Rica Sá teleportou-se da sala de jantar, com cortes por todo o corpo, descabelada, espavorida. Como um trem bala, zuniu na cozinha e agarrou o primeiro cutelo pendurado ao lado dos famosos salames da colônia de Witmarsum.

- Desgraça fedida.

Varava o vácuo, tilintando em panelas. Com pequenos avanços, patos loucos foram golpeados e sucumbiram por cima de batatas e temperos. Penas duras salpicaram o campo de batalha.

- Vencendo a anatidaefobia, vencendo a ornitofobia. Eu estou! Eu estou!


A grande pata choca, enfurecida com a morte de seus amantes, galgou até os peitos da Madame louca e os buzinou com um bico voraz. As unhas de Rita, esmaltadas em rosa grená, estrangularam o pescoço da ave e esta borbulhou vestígios de ração até o último grasnopiro, o derradeiro suspiro dos patos amaldiçoados.  

Já em frangalhos, o medo corrosivo das criaturas destrambelhadas, deu lugar ao ódio, a fúria, a coragem de uma mulher posta em grande perigo mental. Agarrou o pequeno botijão de uma lamparina empoeirada e riscou o cabeçote do fósforo. A mulher e sua tocha, endemoniada pela casa, soltando os lampejos do bafo do capeta nas penugens do caminho. A luz do fogo destacou-se nas janelas e a silhueta chamou a atenção dos vigias.

- Esplêndido, Douglas. Como uma pintura em um churrasco caipira. A mulher finalmente assumiu o comando.

Oito horas da manhã. O psicoterapeuta Marcus Bono Pino encaixou o chapéu panamá e flutuou como um lorde até a dispensa da mansão. Douglas saiu de dentro da casa e reportou a situação.

- As paredes chamuscadas, a tapeçaria em frangalhos. Objetos inúmeros, em cacos. Incrivelmente, todos os pobres patos mortos. Alguns varados por flechas, outros tostados, decepados, retorcidos, pisoteados, depenados, alguns pendurados e torturados com grampos. Na cozinha, há um pato com ervas e batatas, parcialmente cozido.

O doutor espargiu sua risada afetada de um só estalo. Bengalou três pedrinhas no chão e ergueu uma samambaia que estava caída na saída da dispensa.

- E aqui está a corajosa, a vencedora, madame Rita Rica Sá. Descansando em sua glória.

Rita afastou o cabelo de seus olhos e sorriu com dentes trincados. Douglas empunhou o braço vermelho dela e endireitou-a de pé.

- Parabéns, madame. O caminho era de pedra e você foi uma das poucas a traçá-lo.

Ela piscou inúmeras vezes antes de se pronunciar.

- Patos, patos, patos. Adeus patos. Adeus doutor. Curou-me. Recomendo-te. Teu custo alto me salvou. Recomendo-te. Melhor não há. Patos, patos, patos. Melhor não há. 

Com uma gorda gorjeta em mãos, o velho assistente Douglas deu a partida na caminhonete. O psicoterapeuta  satisfeito, bocejou sonolento. E a madame, ela espalhou aos quatro ventos sobre os bons serviços prestados. Dizia sempre, no chá da tarde, em meio à reforma da mansão, para seletas amigas.

- Não se afobem em manias, não se percam em fobias. Ele é bom e eu recomendo. Quer mais uma fatia, Madame Blavatsky?


***

quarta-feira, 7 de novembro de 2012

[Soletramento de Palavras]



É o que estava escrito na plaquinha da garagem aberta no numero 66 da Rua Apesares Cunha. Que, por ser ao lado da oficina de costura da Dona Diana, me aguçou a curiosidade. Deixei uma calça para acertar em dois dedos a barra e fiquei olhando o interior da garagem.

Uma mesa pesada, toda em madeira escura que cheirava de longe a óleo de peroba, uma cadeira remendada com pedaços de borracha disposta ao lado da mesa, quadros de antigas propagandas de tubaína preenchendo grande parte da parede descascada com cor de verde-desmaio.

Parado em um dos cantos, me observava um senhor de camisa social branca socada uniformemente na calça marrom, sapatos que também recendiam a óleo de peroba, as mangas dobradas até o cotovelo, girando uma bola de madeira lisinha contra um pedaço de estopa, aparentemente embebido em... Óleo de peroba.

- Estou em vias de trocar essa cadeira velha.

Surpreso com a fala do velho senhor, dei um passo para trás, sorrindo para amenizar a sensação de intrometimento que me assaltou.

- Ela combina com a parede descascada.

“Poxa, como assim?” Foi o que pensei por responder deste modo zombeteiro, mas o velho senhor deu um riso acolhedor que ergueu seu gordo bigode cinza escuro até os tufos de cima aninharem-se nas narinas.

- Tem dificuldade em alguma palavra, rapaz?

O velho senhor pousou a bola de madeira no tampo da mesa e aproximou-se de mim. Cocei a cabeça em sinal de dúvida.

- Dificuldade com palavras?

- Sim, veja só na placa: “Soletramento de Palavras”.

Achei graça com o inusitado cenário.

- E como funciona?

Ele pôs uma das mãos em meu ombro e com a outra levou até a frente do meu rosto uma espécie de cardápio, tão rapidamente que não consegui descobrir de onde havia pegado aquele papel.

[Soletramento por palavra R$ 5,00]
[Palavra estrangeira R$ 12,00]
[Encaixe de neologismo R$ 45,00]
[Junção de palavras R$ 5,00]
[Entropia Canalha à moda antiga R$ 120,00 por lauda]

Acabei por segurar o cardápio por mim mesmo e com muita curiosidade apontei para o que parecia ser o carro chefe da casa, o dito “Soletramento”.

- Muito bem, que palavra lhe aflige?

Vasculhei a mente colegial para pegar uma palavra qualquer que metia-me em apuros vez por outra.

- Excomungado!

- Como é?

- Excomungado!

- Comece a soletração dela para que eu investigue seu problema.

Já havia, mais de uma vez, muitas vezes, consultado o modo correto de escrever excomungado, seja em dicionários ou internet. Mas resolvi sacanear um pouco com aquela estranha prestação de serviço.

- E, S, C, O, M, U, M, G, A, D, O.

Ele ouviu e foi direto para a parte de trás da mesa. Voltou arrastando uma tina cheia de água. Colocou a cadeira remendada de frente com a tina. Sorri e cruzei os braços esperando o movimento seguinte.

- Rapaz, seu caso com essa palavra é grave, sente aqui na velha cadeira. Pode sentar que ela é firme.

Sentei para ver a mágica. O velho senhor pôs-se de pé ao meu lado, ambos olhávamos para dentro do recipiente. Foi então que ele segurou firme minha nuca e, com um empurrão, fui com metade do dorso pra dentro da tina. Foi tão repentino que acabei engolindo muita água, pela boca e pelo nariz. Voltei com tudo para a cadeira, mas não consegui levantar, por conta do choque. O velho senhor me fitava sério, coçando o bigode com a ponta dos dedos da mão esquerda.

- Soletre novamente sua palavra.

Balbuciei a palavra de maneira correta.

- E, X, C, O, M, U, N, G, A, D, O.

Então ele deu um grande sorriso e me levantou de uma vez.

- Pois veja só, rapaz, não vai esquecer como funciona a palavra.

Agradeci enquanto apertava uma toalha azul extremamente fofa oferecida por ele.

- Só cinco reais, por favor.

Dei a nota.

- O senhor sabe que soletramento não está correto?

Dito isso, ele chutou a tina com água até minha canela e socou minha barriga. Assim que me curvei em dor ele pressionou com ambas as mãos minha cabeça em direção a água.

- S, O, L, E, T, R, A, M, E, N, T, O.

E me soltou. Cambaleei até a calçada com vontade de correr daquele lugar. O velho senhor havia voltado a lustrar a bola. Olhou-me e com um dedo em riste deu um recado:

- Por conta da casa!

segunda-feira, 5 de novembro de 2012

Cigarros & Mariposas

(ு ८ு)

|̶̿ ̶̿ ̶̿ ̶̿|  |̿ V ̿| |  |͇̿ ͇̿ ͇̿ ̶͇̿  |͇̿ ͇̿ ͇̿|  ͇ ͇̿ ̿ , 



|͇̿ ͇̿ ͇̿|



|̿ V ̿|  |̶̿ ̶̿ ̿ ̶̿|  |͇̿ ͇̿ ͇̿ ̶͇̿  |  |͇̿ ͇̿ ͇̿ ͇̿  |͇̿ ͇̿ ͇̿| 



|̿ ͇|  |͇̿ ͇̿ ͇̿|  ͇ /  |̶͇̿ ̶͇̿ ͇̿   ͇ ͇̿ ̿ -  |̶̿ ̶̿ ̶̿  ̶̿  |͇̿ ͇̿ ͇̿|  |̿ ̿ ̿ |̶̿ 
|̶̿ ̶̿ ̿ ̶̿| 

 
|̶̿ ̶̿ ̶̿ ̶̿ |͇ ͇ ͇ ͇ ͇|  |̿ V ̿|   |̶̿ ̶̿ ̿ ̶̿|


|͇̿ ͇̿ ͇̿ ͇̿   |  |͇̿ ͇̿ ͇̿ ̶͇̿   |̶̿ ̶̿ ̶̿ ̶̿| 
|̿ ̿ ̿ |̶̿  |̿ ̿ ̿ |̶̿  |͇̿ ͇̿ ͇̿|  ͇ ͇̿ ̿



|̶̿ ̶̿ ̶̿ ̶̿   |̶͇̿ ̶͇̿ ͇̿   |   ̿ ̿|̿ ̿   |͇̿ ͇̿ ͇̿|  ͇ ͇̿ ̿


|͇̿ ͇̿ ͇̿ ͇̿) |̶͇̿ ̶͇̿ ͇̿ 

|̿ V ̿|  |̶̿ ̶̿ ̶̿ ̶̿|  |̿ ̿ ̿ |̶̿  |  |̶̿ ̶̿ ̶̿ ̶̿'  |͇̿ ͇̿ ͇̿|  ͇ ͇̿ ̿  |̶̿ ̶̿ ̿ ̶̿|  ͇ ͇̿ ̿ 


|̶̿ ̶̿ ̿ ̶̿| |͇ ͇ ͇ ͇   |͇ ͇ ͇ ͇ ͇|  |͇̿ ͇̿ ͇̿ ͇̿  |  |̿ ͇|  |͇̿ ͇̿ ͇̿|  |͇̿ ͇̿ ͇̿ ̶͇̿  |̶͇̿ ̶͇̿ ͇̿  |̿ ͇|  |̶̿ ̶̿ ̿ ̶̿|  ͇ ͇̿ ̿ Ƹ̴Ӂ̴Ʒ


Ƹ̴Ӂ̴Ʒ Ƹ̴Ӂ̴Ʒ

(̅_̅_̅(̅_̅_̅_̅_̅_̅_̅_̅̅()ڪ

Ƹ̴Ӂ̴Ʒ

( ◔̯ ◔ ) - Cuidado com o que interpretam
sob o efeito desta droga!

███۞███████ ]▄▄▄▄▄▄▄▄▄▄▄▄▃ ===░
▂▄▅█████████▅▄▃▂
I███████████████████].
◥⊙▲⊙▲⊙▲⊙▲⊙▲⊙▲⊙◤...

======░ ▒▓▓█D (>‘o’)> AAAAHHHHHHH

┣▇▇▇═─ Ƹ̴Ӂ̴Ʒ Ƹ̴Ӂ̴Ʒ Ƹ̴Ӂ̴Ʒ Ƹ̴Ӂ̴Ʒ Ƹ̴Ӂ̴Ʒ Ƹ̴Ӂ̴Ʒ

√v^√v^√√v^√v^√√v^√v^√√v^√v^√♥ - --------------------------

><((((º> ><((((º> ><((((º> ><((((º> ><((((º> ><((((º>
><((((º> ><((((º> ><((((º> ><((((º> ><((((º> ><((((º>

><((((º> ><((((º> ><((((º> ><((((º> ><((((º> ><((((º>

><((((º> ><((((º> ><((((º> ><((((º> ><((((º> ><((((º>

><((((º> ><((((º> ><((((º> ><((((º>

† Aqui JAZ