segunda-feira, 7 de julho de 2014

PUF!

Pequeninos dedos de unhas brilhantes dos pezinhos gelados. Mãozinhas gordinhas apertando a manta rosa; corpinho magrinho, cabelo cacheado pretinho, caindo nos olhos castanhos, quase verdinhos. Fechados estão. Bem apertadinhos.

PUF! Estela! PUF! Estela! PUF!

“Acorda pequena! Desperta, espreguiça! Acorda criança. Salta da cama, bagunça e revira, abre a janela, me deixa entrar.”

PUF! Estela! PUF! Estela! PUF!

De um sono gostoso, desperto tão rápido, Estela olha a janela embaçada. Lá está a pequena criatura, sorrindo e saltando de uma ponta a outra, na borda de madeira. Estela desce da cama, levando a manta, esfregando os olhos, pisando descalça no chão gelado.

- O que foi? Quem é? Quem será?

PUF! Estela! PUF! Estela! PUF!

Sabendo o nome da pequena, numa melodia chata, seu nome repete e depois acena! Engraçado... Curioso... Fala, some e aparece novamente.

PUF! Estela! PUF! Estela! PUF!

Cuidado! Volta para a cama. Não, não abra a janela! Não será este o bicho papão? O homem do saco? Será? Tão pequeno, tão peludo, parece um ursinho. Será?  

PUF! Estela!

“Boa noite pequenina. Obrigado, obrigado. Já não me agüentava de frio lá no sereno. Quero ir pra casa, já é muito tarde. Sono, fome, frio, muitos problemas.”

PUF!

Ô ursinho, cadê você?

PUF!

- Você é de pelúcia?

“Eu? Sou de carne e osso, com um pouquinho de gordura. Minha barriga é estufada de pura fofura. Não sou ursinho, sou um Papão do pior tipo.”

- Bicho Papão? Papão? Mas tão pequenininho.

“Sou sim. Mas não vim sozinho!”

PUF! PUF!

Eu bem que avisei. Eu sabia. E agora Estela? Um bicho papão, que virou dois bichos papões!

PUF! PUF! PUF! PUF!

Que virou quatro bichos papões!

PUF! PUF! PUF! PUF! PUF! PUF! PUF! PUF! PUF! PUF! PUF! PUF! PUF!
PUF! PUF! PUF!

Que virou dezesseis bichos papões! Estela é melhor fazer alguma coisa.

- Papai! Papai!

Grite mais, grite mais!

- Papai! Papai! Papai!

Estela pula na cama e afunda nas almofadas. Um bicho papão gruda no outro, formando um ursão grandão. Feio, feio. Que medo, muito medo.
                                                                                                                            
- Papai! Papai!

Grite mais, grite mais!

- Papai! Papai! Papai!

“Olha só, que azar Estela criancinha. Vou te levar pra casa e te fazer de sopinha”.

A mão áspera de garras pontudas envolve Estela. Que medo, muito medo.

Para sorte dela, de repente: Toc, toc.

- Filha?

PUF!

Que bom, que alivio. Papai chegou. Sumiu o bicho papão. Está salva, Estela. Corre e abraça o herói. Ufa!

- Já falei para não abrir a janela, sapeca. Pula na cama, vou te embrulhar nessa manta. Beijo, boa noite. Sonha com anjinhos. Durma bem e não tenha medo. Mamãe e eu estamos aqui do ladinho. Beijos, beijos, boa noite princesa.

Pequeninos dedos de unhas brilhantes dos pezinhos gelados. Mãozinhas gordinhas apertando a manta rosa; corpinho magrinho, cabelo cacheado pretinho, caindo nos olhos castanhos, quase verdinhos. Fechados estão. Bem apertadinhos. Armário abrindo sozinho, bicho papão saindo. Sorrindo. Chega bem pertinho. 

PUF! PUF! 

Somem Estela e o monstrinho.


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