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23h30min へへへへへへへへ Inicio de passeio
Alô, felizardos da sintonia Minini. “Olé”, para quem aguarda a transmissão mais feroz dessa noite! Viajantes temporais liguem seu aparelho hora-dimensional e comecem a dedilhar essas cordas com tesão. “Olé”! Sincronizem este horário no visor, pois agora vamos acompanhar um bando de bananas, otários de grife numa velocidade tremenda.
Dá-lhe, dá-lhe, dá-lhe, bem vindos os bem-aventurados de espírito, que não se importam em uma quadrilha de assaltantes de banco utilizar uma porra de um Ford Tunderbird Stock vermelho para realizar seus feitos criminosos. A estética é absolutamente vital. A história é plástica e eu sou uma dama muito, mas muito, pirueta das idéias. No entanto, vá lá você, saiba que o relato é real, é vital e o racha fedeu no final. É questão de tempo, você vai ver/ler, este tempo é cronometrado, pois a vida tem dessa sincronia caótica. Então é assim, no tempo real da coisa, dá-lhe, dá-lhe, dá-lhe:
O
carro do Danilo Gabarem está preparado para ser a maquina mais potente da estrada
dos Elmos, uma estrada com 10
km de extensão, deserta e utilizada em corridas
clandestinas já há muitos anos. Mal iluminada, serve como um antigo acesso a
cidade de Montafa. Esta noite ela recebe apostadores e uma platéia alucinada
por álcool e drogas, todos ansiosos pelo deslize dos carros na pista. Danilo Gabarem
dirige um Nissan branco surrado pela ação do tempo. Encarando o rosto de
Danilo, está o “barbado Sem Nome” roncando o motor de seu Opala vermelho, bem
aconchegado no banco de vinil branco. Faltam dois minutos para a largada, para o racha mais febril da região.
Olé! Tenho uns dados para apresentar para vocês, saquem só como são as coisas:
Objetivo: chegar à entrada da cidade de Montafa (Final da Estrada dos Elmos).
Olé! Tenho uns dados para apresentar para vocês, saquem só como são as coisas:
Objetivo: chegar à entrada da cidade de Montafa (Final da Estrada dos Elmos).
Recompensa:
Honda Civic Si.
Bônus:
Dinamômetro para diagnostico de desempenho e dez mil dólares, somente se um dos
competidores for destruído durante o trajeto.
Restam poucos segundos antes da largada para Danilo Gabarem
por em prática o seu vicio. Ele abre o porta-luvas e retira uma chapinha de
metal junto com um pequeno cilindro de alumínio, despeja o pó branco e o
organiza em três fileiras na chapa. Aperta a narina e aspira rapidamente. Os
olhos estalam e a coragem flui; é a cocaína que chega ao seu cérebro
esburacado. Na palma da mão esquerda um papel do tamanho de um confete com um
leão impresso num dos lados. Bota o papel no fundo da língua e dá a partida.
22h50min へへへへへへへへ O carro da morte
Quarenta minutos antes, no centro da cidade de Morsei,
Eva Ritinha sofre um ataque epilético na calçada em frente a sua
loja de doces. Com espasmos violentos, salivando e de olhos virados, ela tomba
com violência no meio fio. A pequena cidade de Morsei dorme quase por completo
e o único centro hospitalar entrou em greve há mais de uma semana. Abandonada
sobre a calçada, Eva respira ofegante. Um furgão preto, com letras brancas
enormes pintadas na lateral, encosta ao lado da senhora.
Sr. P. escorrega sua barriga imensa por detrás do
volante com certa dificuldade e caminha em volta do furgão para auxiliar a
senhora Eva.
– Minha senhora, muita calma, ajudarei no que puder.
– Eu tenho epilepsia e não tomei o medicamento esta
noite. Estava a caminho de casa e tive um acesso. Respondeu Eva Ritinha,
resfolegando e tentando se erguer sem a ajuda do estranho.
– Eu posso lhe ajudar, estou a caminho do hospital da
cidade de Montafa.
Ao puxar um dos braços de Eva, Sr. P. notou a fratura
na perna esquerda. O osso da velha senhora perfaz um “L”, repuxando a pele
enrugada. Ela está em estado de choque e já não sente dor alguma.
– Levanto a senhora em meu colo e te coloco dentro do
furgão, pois pela minha experiência, temos pelo menos quinze minutos antes que
a perna piore.
– Piorar por quê? Disse Eva, com lagrimas e
desconfiança nos olhos.
– A senhora fraturou a perna.
Sr. P. fechou
a porta e entrou rapidamente no furgão. Eva Ritinha inicia o trajeto rumo ao
hospital de Montafa de uma maneira milagrosa e fúnebre, dentro do carro do IML, ao lado de uma pilha de
cadáveres.
23h47min へへへへへへへへ Luz no campo
A estrada dos Elmos é rodeada por um vasto campo de
centeio que se perde no horizonte, nos dois lados da pista. Agricultores
construíram suas casas de alvenaria em toda a extensão do cultivo, há muitas décadas.
Hoje, o local está abandonado e sem qualquer iluminação, exceto por um
gigantesco galpão de madeira com uma pequena casa acoplada em seu topo. Situado
exatamente no meio do trajeto entre Montafa e Morsei, na beira da pista. Moradia
de um humilde casal de agricultores oriundos do sertão do país, que no auge dos
quarenta e poucos anos, mantêm vivas as esperanças de riqueza e paixão através
de discussões inflamadas.
– Desgraçada, vaca maldita. Tava se esfregando com
quem na cidade?
A loira de cabelos embaraçados caminha para trás em
direção a janela.
– Tava não, com ninguém ué!
– Ouvi que não era assim. Toninho falou que sou
corno, lá no bar.
Após calar-se por alguns segundos, a mulher balbucia:
– Você é um porcão. Eu dei pra outro mermo. Ele é
doutor na cidade.
O homem, rústico, de botas, calção e uma regata
surrada apertada contra sua barriga, bufa toda sua indignação, chutando
caixotes de madeira espalhados pelo chão do quarto. A única iluminação da casa
é provida por um lampião de querosene, que faz com que, vista debaixo, a janela
de frente para a estrada dos Elmos se torne um farol e único ponto de
referencia para toda escuridão que impregna o local.
22h30min へへへへ Os criminosos ardilosos
Estilhaços de vidro cobrem o chão do banco Royal na
pequena cidade de Morsei. Os dois seguranças noturnos do banco estão amarrados
e amordaçados, observando a movimentação de Zé Traquina e seus dois comparsas,
Silú e Ed Grogue. Somando uma quantia de dois milhões em dinheiro fruto do
trabalho rápido de coleta, o bando pula para rua estourando a vidraça da
entrada, de modo a facilitar a retirada dos cinco malotes de dinheiro. Esse
movimento dispara um alarme alternativo do banco. Em poucos minutos a policia
vai cercá-los. Silú corre em direção a sombra, do outro lado da rua, para ligar
o carro da fuga. Uma raridade e orgulho de Silú, um Ford Tunderbird Stock vermelho, de 1956. Os
malfeitores entram apertados junto com o dinheiro; assim que o pneu canta no
asfalto a policia surge com três viaturas, quebrando o silêncio da cidade com
suas sirenes. A tarefa dos ladrões é despistar os carros e achar a melhor rota
de fuga. O destino é a grande cidade de Montafa, onde se localiza o covil.
23h35min へへへへへへへへ Duas máquinas
A traseira do Nissan patina de um lado para o outro,
projetando o veiculo como um foguete em direção a escuridão da estrada. Dois
segundos de vantagem em relação ao Opala. É o suficiente.
– Maldito, maldito, maldito. O sem nome, com a barba
oleosa e escura gotejando no volante, pragueja enquanto troca as marchas.
O frio do asfalto extingue-se com a borracha quente
dos pneus que percorrem o leito numa dança desenfreada, em velocidade absurda.
A ânsia dos pilotos é carnívora, logo o canibalismo de seus carros surge com um
ziguezaguear cego e objetivo. O Opala avança forte e irrefreável até colar a
poucos centímetros do Nissan, desvairado e corajoso, ciente de sua tecnologia.
As faíscas dão brilho à noite e os dois cavalos se tocam.
23h30min へへへへへへへへ Prenuncio de
morte
No lado oposto ao da corrida alucinada, a Estrada dos
Elmos recepciona, com toda sua escuridão, a fantasmagórica carona de Eva Ritinha.
O furgão lustroso do IML chacoalha sua estrutura com uma velocidade
precipitada, assustadora.
– Senhora, fique calma. É só atravessarmos este
atalho e sairemos rapidamente na cidade de Montafa. – Disse o balofo Sr. P. – Suando
como um porco prensado ao volante.
Com grande esforço a boca de Eva contorce para cuspir três palavras:
– Não... Tenha... Pressa.
O Sr. P. acelera, em pânico com a situação. Nos trinta
e cinco anos atuando como legista, o Sr. P. gosta de trabalhar com clientes
rígidos, frios e mortos. No entanto, a perspectiva da morte, o limiar da vida,
a proximidade de um último suspiro, deixa os seus nervos tilintando como fios
de metal. A pressão faz com que o braço comece a doer. O gordo Sr. P. observa
ao longe um ponto luminoso que se aproxima rapidamente. Seus olhos estão
vidrados, o rosto inchado e vermelho se contorce para o lado. Uma pontada no
peito. O lindo campo de centeio que se espalha pela planície é banhado pela luz
azulada da noite.
23h25min へへへへへへへへ Sangue e
balas
Tiros. Os projeteis passam zunindo entre os carros da
policia. O Tunderbird vermelho rasga as
estreitas ruas de Morsei. Dois balaços atingem a lateral polida do carro. O
barulho seco da intrusa revolta Silú: – Seus filhos da puta.
– Anda com
essa merda, porra – Zé Traquina se pendura na janela tentando acertar um tiro na
cabeça de um policial.
O sangue que jorra quente
pelo couro do assento é estancado com dificuldade pelas mãos pequenas de Ed
Grogue. Duas curvas fechadas, o pneu canta e a raridade do carro ganha vantagem
da lei.
– Dez minutos
Ed e estamos livres. Agüenta as pontas. – Silú fez a promessa.
23h36min へへへへへへへへ Efeito
colateral
Euforia,
excitação, onipotência. Danilo, o dono do
mundo, mescla sua viagem pervertida no caviar das drogas com a maldita
corrida.
Não há medo. Os trancos na traseira do Nissan são fortes, Danilo
permanece com
o controle do volante e freia em pequenas doses para atingir o Sem Nome.
Uma
paranóia reversível acomete seus olhos com alucinações. Seu carro tem
vida. O
volante derrete queimando a palma da mão. Tudo treme, a estrada se
desmancha
lentamente em pedaços. Focos
de luz despontam na retina, vindos de um horizonte cada vez mais perto. –
Elevação! – Ele grita, e o carro se embrulha com intento de
mastigá-lo. O alivio do piloto é acelerar mais. Sua viagem não tem fim.
23h40min へへへへへへへへ
Abatimento
Silú leva uma das mãos ao seu ventre. Empapado de
sangue, ele ergue o tecido grudado à pele. A bala penetrou no estômago,
rasgando a barriga e saindo na perna de Zé Traquina. Os ferimentos já não
importam. A rota da fuga esta à frente deles. A estrada dos elmos hoje é o
palco de criminosos, drogados, famílias, a morte e também dos abutres. A voz
gutural de Zé Traquina se espalha pela noite: – Não pare no inferno. – O cenário
ferve e a luz dos faróis faz surgir em meio à escuridão o carro da morte, o
furgão do Sr. P.
– Desvia, porra!
– Cuidado!
Ed baba sangue enquanto atira desordenadamente para o
alto. O thunderbyrd desvia pela esquerda ralando toda a lateral do furgão.
– Desgraçado!
23h41min へへへへへへへへ Expirar
Sr. P. enfarta. Sua barriga trava o volante, seu pé
enrijece, afundando o acelerador. Eva desmaia e o carro da morte envereda sem
controle pista afora.
23h45min へへ Encontro
Irrefreável...
A morte vem para ceifar as almas. O Opala do Sem Nome
emparelha com o Nissan, aos trancos os carros são jogados de um lado ao outro
da pista. O asfalto começa a baixar para os olhos de Danilo, ele joga o carro para
cima do Opala. O barbado não consegue manter o controle.
23h48min40seg... Um marido dedicado, porém traído, é passível de
cometer uma loucura. Com fúria no olhar, o caipira rústico e sujo, habitante da
única casa da Estrada dos Elmos, agarra o lampião balançando-o com uma das
mãos, as sombras dos poucos móveis dançam na parede. Ele gira o lampião e o
joga furiosamente em direção a sua mulher. O vidro de querosene explode no
peito da loira. Ela voa pela janela envolta pelas chamas, caindo vertiginosamente.
23h48min12seg... O barbado Sem Nome se desespera para retomar a
dianteira e assim não percebe o furgão do IML vindo ao seu encontro.
23h48min36seg... Zé
Traquina segura o volante do Ford
Tunderbird Stock. Silú desmaia em sua poça de sangue, Ed Grogue dá o último
suspiro ainda com a arma em
punho. As sirenes podem ser ouvidas ao longe. A velocidade
continua e um cheiro de carne infesta o carro. Estão na metade do
caminho entre Morsei e Montafa. 23h48min38seg Passam por um Nissan
coberto de poeira. Zé Traquina perde a concentração ao ver o sorriso e os olhos
vermelhos de Danilo Gabarem. 23h48min39seg.
O Opala frita os pneus e buzina freneticamente. 23h48min40seg.
A bola de fogo que se
tornou a esposa do caipira violento atinge feito um cometa o capô do Tunderbyrd
vermelho que afunda contra o chão; ergue a traseira com a força do impacto e
gira em meia lua para o outro lado da pista. 23h48min42seg, o Sem Nome
sente o calor das chamas e as fagulhas se espalharem por cima do Opala, ele
pragueja ao ver o Nissan de Danilo sumir na poeira e essa visão é tapada pelos
dizeres I.M.L. que carimbam seu painel. O furgão e o opala rodopiam no ar. 23h48min45seg
Zé Traquina recolhe os próprios dentes, espalhados em seu peito. Com
movimentos limitados ele luta para soltar as pernas, moídas pela ferragem,
antes que todo o corpo se junte ao fogo infernal. 23h48min49seg. O Sem
Nome esta vivo, jogado na pista, não pode ver os pedaços de corpos caindo como
chuva. Um cadáver remendado cai sobre Zé Traquina na única fresta que resta na
massa de ferro; é logo seguido pela caçamba do furgão que termina a mistura de
sangue e ferro. O Sem Nome tateia o ar com uma placa de vidro atravessada em
seus olhos. Tanques cheios e prensados não resistem ao fogo e uma explosão
ilumina toda a estrada. 23h48min55seg, Danilo recupera sua lucidez após
cruzar a linha da vitória. Parado no acostamento ele olha para a grande coluna
de fogo e fumaça que se levanta no meio da Estrada dos Elmos. Acende um cigarro
e traga profundamente. Camuflado pelo final do campo de centeio, ele está a salvo
dos inúmeros carros de policia que agora chegam. 23h58min45seg. A grande
casa queima, levando todas as provas do crime ali cometido, e no fogo a gordura
de um assassino derrete. Ferro espalhado pela pista, marcas de sangue que se
arrastam por metros, fogo, fumaça, corpos e membros decepados por toda a parte.
A morte impera absoluta, deixando por testemunha apenas um cego cambaleante,
gemendo de dor, implorando por alivio. Danilo olha para o inferno pela ultima
vez. Liga seu carro e segue o caminho sinuoso, é hora de recolher sua
recompensa. 00h01min. Dá-lhe,
dá-lhe, dá-lhe!
Postado originalmente (e) com trilha sonora no link:
http://tudismocroned.blogspot.com.br/2012/12/senhora-mixtape-vol-1.html
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