Cyber Junky Sexy Bar
apresenta:
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Elas são gemas
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Ano: 2.085
Anel 2 - Zona Amorfa da constelação Andrômeda
Um estrondo repercutiu pela plataforma de pouso. A lataria sucateada da Gertrudes V ralou as placas de titânio do piso até bater na guarita. A aparência rústica da nave se desfez e aos poucos, rangendo e vibrando, Gertrudes V virou do avesso, revelando um contorno polido de aço niquelado. Arnaldo "Tesão" Kass pulou para fora, sacudindo seu macacão ultra selado feito de verbena a 500º graus.
- Chamô, chamô pessoal! Tô na área.
A plataforma superlotada, forrada de estrangeiros, perdia-se em curvas, gritaria e pilhas de encomendas. Kass carimbou o visto de permanência e passou três horas preenchendo um formulário de entrega, perfurando a lâmina de alumínio com um canetão laser.
- Pô bicho, tu tá me dizendo que do Rio até aqui eu tenho que deixar sinalizadores betas por todo o caminho?
O polvo hominídeo encarou Kass com a impaciência de seus vinte olhos oblíquos. Ergueu o tentáculo numero 6, lilás e gosmento, e apertou com leveza a nádega do piloto.
- Ah, seu puto. Toma essa merda de prancheta. Termina você de marcar essa porra. Eu to indo pro bar.
Kass trombou meia dúzia de anãs laranjas, ainda esbravejando contra o polvo hominídeo, que lá ficou, sorrindo animado. Virou três plataformas à direita do pouso e entrou de uma vez.
"Bem vindo ao Cyber Junky Sexy Bar. Experimente nossas bebidas. Bem vindo viajante das estrelas."
A voz feminina saiu das duas caixinhas enferrujadas, penduradas na porta. Kass puxou um banco para perto do balcão.
- Eae Abecê. Bota duas talagadas de cachaça.
Abecê, o barman, firmou o laço de sua bandana encardida na testa e sorriu. Desarrolhou uma garrafa em forma de azeitona e a encostou no nariz de Kass.
- Deus é mais! Essa veio de onde?
Abecê serviu a dose, tampou a garrafa. Coçou o cotovelo esquerdo e debruçou sobre o balcão.
- Veio de um tal de triângulo com minas.
- Tái, meu velho, um lugar que nunca ouvi dizer.
- Coisa boa, coisa forte, Kass.
- Meu bisavô tomava isso. Meu pai tomava também. Tô tomando por causa disso e também que é coisa brasileira.
- Ah... É, lá da Terra. Isso é.
Kass virou o corpo sobre o banco e olhou o salão. Um neon lilás predominava no ambiente, terminando na borda do balcão.
- Isso aqui, Abecê... Isso aqui está deprimente.
- Estamos de luto.
- Luto? Por causa do Colapso Lizard?
- É, você sabe.
Kass alinhou a barriga no balcão, de frente para Abecê e também debruçou o corpo.
- Hey velho, descola alguma gata exótica?
Abecê abriu um sorriso de dentes separados. Pegou uma caderneta debaixo do balcão.
- Mas é claro, meu querido. Tudo para um conterrâneo.
Abecê dedilhou as páginas da caderneta com uma expressão séria.
- Kass, vulgo “Tesão”, grande Kass. Meu amigo, dei-me conta de que talvez toda a população de gostosas que operam nesse canto do espaço, está no enterro do Capitão Colapso Lizard.
- Ah... Bela bosta. Pô, cara! Estou subindo nas paredes da minha nave. Arruma qualquer coisa.
- Eu tenho duas coisinhas especiais, cheias de excitação. São irmãs. Inseparáveis. São gemas. Se você gosta desse tipo eu...
- Puta vida!
Arnaldo “Tesão” Kass ficou de pé e espremeu os dedos no balcão.
- É isso Abecê! Pode marcar,AGORA! Pode cobrar quatro horas. Aí cara... Você é sádico, guardando essa belezocas.
Abecê ergueu as sobrancelhas.
- Olha, Kass, eu raramente as oferto. Quem gosta delas e só vai com elas é mesmo o povo lá de Mirion, cê sabe... Lá do segundo anel de Saturno.
- Oras, aquele bando de casca grossa? Que isso meu amigo, eu vou dar um trato que elas vão se apaixonar então.
Abecê mensurou com a cabeça e colocou um fone no ouvido.
- Posso marcar então?
- Pode.
Discou quinze dígitos e falou numa língua cheia de estalos.
- Elas vão estar no cubículo doze. Só que, daqui duas horas. Estão com um cliente, cê sabe.
- Eu espero, bicho. Desce mais cachaça.
Kass bebeu gole por gole, impaciente. A visão turva observava criaturas indo e vindo do Cyber Junk.
- Abecê, de onde são mesmo essas irmãs?
- Organitrom. Longe pacas.
- É aquele planeta que se ergueu chupinhando tudo que era orgânico da terra, menos...
- ... menos os humanos. É esse mesmo, Kass.
- Meu primo já foi fazer entrega lá. Porra, ele vai pirar, quando souber que transei essas gatas.
- Escuta só, os caras de Mirion dizem que é como comer Fugu. Sabe sushi de Fugu?
- Sei. Em exagero, você pode morrer ou não.
- Mais ou menos isso, Kass.
- Bando de frouxos.
- Eles pagam por quinze minutos, todas as vezes. Não mais que quinze minutos.
- Danem-se. Dá mais dessa cachaça.
Passadas as horas de espera, Kass levantou desequilibrado, derrubando um jogo de saleiros. Entregou o cartão de debito intergalático para Abecê e aguardou o registro de seus gastos.
- Cobra o prazer aqui também?
- Claro chapa!
...
Kass desceu dois lances de escada. A temperatura caiu e as paredes estavam repletas de salamandras da neve. Uma prostituta velha esfregava uma das salamandras entre suas pernas gordas.
- Que cara é essa, querido? Todo mundo se limpa com o bichinho.
Ele desviou da velha e girou o disco da porta. Uma voz metálica e feminina ecoou no quarto:
“Bem Vindo ao aposento 12 do Cyber Junky Sexy Bar”.
- Blá, blá, blá... Garotas, o “Tesão” chegou! Garotas?
Kass fechou a porta e uma luz suave e branca preencheu o local aconchegante. Mergulhou numa cama de couro e, desajeitadamente, livrou-se da roupa. Do pequeno banheiro, de frente a cama, vazou uma luz entremeada por sombras disformes. Ouviu risadas estridentes. Com a visão embaralhada, acompanhou o lento abrir da porta.
- Pode vir, tá duro já.
Mais risadas. A porta abriu por completo. Kass esfregou os olhos embriagados. Uma claridade amarela invadiu o espaço. Risos. Esfregou novamente os olhos. Duas coisas partiram para cama. Mais risos. Duas gosmas amarelas e disformes subiram na cama. Risos. Passadas de mão na cara. Gosmas subindo pela coxa. Quente, muito quente. Gosmas rindo. Um cheiro nauseabundo corroendo Kass.
Enjoo. Quente, quente. Risos. Gosma na virilha. Uma parte dura da gosma desceu a cueca. Quente, muito quente. Enjôo, mistura azeda subindo na goela. Cheiro de ovo. Ovo! Amarelo no peito. Gosma na boca. Sugou sua língua. Risos. Gemido. Quente, queimando. Queimando. Olho revirou. Vontade de gritar. Gozou. Gozou? Ovo.
Quatro horas depois, Abecê enxugava copos com sua própria bandana, enquanto passava um palito de madeira de um lado a outro da boca. A escada em espiral no centro do bar deslocou-se; surgiu uma figura trêmula, desbaratada.
- Kass meu querido, gostou das... Minha mãe do céu... Kass?
O trôpego viajante das estrelas se ajeitou no banco do balcão. Seu corpo fedia e sua pele estava toda queimada. Ele pediu uma agua. Sua voz estava rouca e seca.
- Seu grande... Grandessíssimo filho da puta!
- Eu avisei, Kass...
- Avisou... Porra nenhuma!
- Claro que avisei. Elas são gemas!
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