A louca do castelo de cartas - Relato sobre Bóson de higgs
“Somos um universo infinito de partículas, movendo-se em ondulação por
malhas entrelaçadas. É sabido que o tempo e o espaço podem ser
distorcidos, moldados, reconstruídos e muito mais, desde a primeira
manipulação bem sucedida da partícula Bóson de Highs. Em 2.045, a
compositora, multi-instrumentista e cantora pop Aditi Daya, inspirada
por Deus, encontrou em sua composição a nota matriz derivada do trítono.
O trítono é o intervalo mais alto entre duas notas musicais de três
tons, gerando um som emotivamente perturbador.
“Aditi Daya, em
sua casa na cidade de Surate, no estado de Gujarate, na Índia;
reproduziu o trítono com uma sitar de onze cordas no momento em que uma
quantidade incontável de Bóson de Highs, dispersos acidentalmente pela
indústria Shapur Marat Inc. de tecnologia robótica, circundou
ofensivamente as cordas do intrincado instrumento. O encontro gerou uma
sonoridade até então desconhecida, nomeada por nós como Sítono”.
“Temos relatos esparsos sobre o ocorrido. No período do evento, a
imprensa marrom dominou a formulação de noticias e autoridades locais
minaram os relatos oficiais. A verdade foi conhecida e resguardada
apenas por oficiais de alta patente Mata-Galloana.
A queda do
império Mata-Gallo há cinco anos, possibilitou o acesso a documentos
esclarecedores. Após eliminarmos todas as inverdades capituladas do
caso, conhecido popularmente como - A louca do castelo de cartas -,
analisamos cientificamente os dados extraídos do experimento
involuntário”...
“Aditi Daya era casada com Sherman Fork, um
inglês decadente, colecionador de baralhos. Este senhor ostentava uma
coleção de aproximadamente quatorze mil decks variados. Tarô, numéricos,
desenhos, comemorativos, temáticos; um sem fim de tipos. Na época,
assim como por toda sua história até a extinção do país, a Índia possuía
uma conduta organizacional e higiênica, peculiar e impraticável para
demais sociedades. A despeito disso, estrangeiros tidos como – Porcos
Crônicos – acostumavam-se muito facilmente a condições pouco usuais de
vida. Claro que, culturalmente, um observador externo nada mais é que
uma vizinha enxerida, minando comportamento alheio. Portanto, aquém do
lado ético da questão e atento a customização de pessoas higienicamente
corretas, pensando no nosso antigo ocidentalismo e pressupondo sobre a
boa educação de um cidadão inglês, Sherman Fork era um vagabundo, sujo e
desorganizado. Sua coleção vivia espalhada pela casa, caoticamente
empilhada em todos os cômodos. Temos slides de matérias a respeito de
sua excêntrica pessoa, e nas poucas fotos, vemos botijões de dedetização
junto a cartas semi roídas...”
“ Ao dedilhar o instrumento, no
momento em que o Bóson de Highs o circundava, produziu-se o sítono. Um
pico de energia derrubou toda a rede elétrica da cidade. Um ruído
constante, descrito na época como um motor a diesel em baixa potencia,
ressoou por pelo menos quatro quarteirões. Grupos de moradores locais
saíram em direção a fonte do som, munidos de obsoletas lamparinas e
lanternas. No lugar da casa de Aditi e Sherman, havia uma parede de
cartas, as mesmas colecionadas pelo inglês. Tal construto mantinha-se
elevado por alguma espécie de gravitação única e direcionada. Com baixa
luminosidade, testemunhas relataram que por ínfimos espaços entre uma
carta e outra, viam o sol, o mar, areia, palmeiras e sapos armados. Tal
visão entrecortada e absurda, durou apenas poucos segundos. Aditi Daya
varou as cartas e tombou ao lado das testemunhas. Foi seu ultimo
movimento em vida. As 23:47 aproximadamente, foi-se a alma num infarto
fulminante. Deus a tenha”.
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