sexta-feira, 3 de fevereiro de 2017

O país dos Políticos In memoriam


Cubicolândia, ao norte de Bankar, banhada pelo mar Olympe de Gouges, distante mil quatrocentos e cinquenta e dois quilômetros do Brasil, é um mediano país onde os políticos elegem-se in memoriam

Radamés H. Impossum (RIP), atual presidente, elegeu-se com apenas 19 anos de idade. Sua campanha tramou-se trinta meses antes do dia da votação, como é a práxis de todo candidato. Com uma população de dois milhões de cubicolandeses, a nação tem a maior taxa de comparecimento às urnas mortuárias de seus elegíveis. 

De costume singular, as eleições funcionam com pesado programa de propaganda, composto por leituras publicas de um programa de metas sociais que corre por meses. Um dia antes da votação, cada concorrente dirige-se ao abismo de sua preferência; que pode ser compartilhado ( é uma terra abundante em abismos). Da melhor maneira possível, cada candidato salta para o mais profundo e absoluto nada.

Caem com garbo, treinados em ginásios e acompanhados por jornalistas de todo o mundo. Alguns seguram placas de campanha, com muito grafite, composições plásticas e frases de impacto. Aos mortos, apenas resta a glória póstuma de um bom programa político para sua amada nação. Este que deverá ser seguido à risca pelo parlamento. 

Em 2018, um novo presidente deverá assumir no lugar de Radamés H. Impossum (RIP); e a disputa estará acirrada entre João From Macau e Helenita das Oito. Ambos descendentes portugueses radicados na étnica Cubicolândia. 

Em 2014, um fato curioso, o historiador Eric Hobsbawm, na casa de João, perguntou para um de seus assessores, ao vivo pela rádio Night Shift: "Quem? Eu? Eu não." Ao que o repórter retorquiu: "Então quem foi"? E o historiador finalizou: "Foi a Helenita". Bastou para provocar a ira de diversos setores radicais da esquerda, mesmo estes não sabendo do que se tratava o diálogo. Exploram alguns, que tratavam da partilha de pães para os mais pobres. Por isso a próxima eleição é tão importante e servirá de exemplo para todo o mundo ocidental. 

Cubicolândia ficou famosa não apenas por seu processo eleitoral controverso. Em agosto de 2016, Sérgio Malandro realizou uma visita ao principal abismo da capital Hangen Dazamiga e prometeu naturalizar-se cubicolandes e concorrer a presidência em 2018. Adiantou até mesmo seu cartaz para o salto mortal, grafado com um enorme "salsifufu". Apesar do claro tom jocoso, boa parte da população fez coro de apoio na internet, posto que as leis abertas do país permitem tais inclusões de nacionalidade. 

Mortos serão, e sempre foram, os presidentes desta terra de quinhentos anos. E entre os milhares de altares políticos que recontam a trajetória da nação, estão também suas tábuas de leis, veneradas, compridas e cumpridas. *In memoriam

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