Mister Mago
O feiticeiro estava pronto. Após cinco mil anos de estudo, meditação, e alguns cursos online de ocultismo aplicado, enfim testaria seus poderes transmutadores na prática.
Escolheu como campo de provas um supermercado.
— Papel higiênico, despapele-se!
Imediatamente, os rolos brancos se desfizeram em pasta de celulose e, num segundo depois, transformaram-se em troncos de madeira. O corredor se fechou numa densa floresta.
— Vinho, desvinhe-se!
Dentro das garrafas, o líquido púrpura borbulhou e, no lugar dele, uvas saltaram, explodindo contra os vidros.
— Manteiga, desmanteigue-se!
As barras amareladas liquefizeram-se em leite fresco, formando um rio espumante pelo meio do estabelecimento.
— Picanha, despicanhe-se!
As peças reluzentes de carne tremeram, juntaram-se e, com um mugido gutural, um boi bundudo e confuso surgiu no corredor 6.
— Nuggets, desnuggete-se!
O freezer se agitou. Dezenas de pintinhos histéricos e minhocoçus albinos se embolaram lá dentro, até transbordarem pelo chão gelado.
Atrás do mago — nada discreto com sua capa azul estrelada de bolas brancas fluorescentes — os clientes fugiam em desespero, gritando entre as prateleiras vivas.
Um policial à paisana surgiu, arma em punho.
— No chão! Tá preso, doido!
O mago ergueu a mão, sereno.
— Arma, desarme-se.
A pistola derreteu na mão do agente, virando uma pedra irregular.
— Policial, despolicie-se.
O homem se contorceu e, em segundos, virou um bandido mal-encarado.
— Passa a grana, mago otário!
— Desbandide-se.
O sujeito virou um político, de terno amarrotado e sorriso oleoso.
— Qual o problema? Talkey, mago?
— Despolitize-se.
Bandido de novo.
— A grana, meu chapa!
— Desbanditize-se.
Político.
— Talkey, mago?
— Despolitize-se.
Bandido.
— Bora, passa tudo!
— Desbanditize-se.
Político.
— Talkey, mago?
O mago olhou para as próprias mãos, confuso.
— Ué... meus poderes falharam?
Uma voz grave e ressonante ecoou de dentro de um saco de batatas fritas congeladas:
— Não falharam, não!
Era Merlin, o Mestre dos Magos, empoleirado sobre as batatas, com uma aura de sabedoria e leve cheiro de gordura hidrogenada.
— Só não funcionam com redundâncias!
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