terça-feira, 31 de julho de 2018

VERSUS - 1





Meio dia. Sentado em um rochedo. A armadura de ferro brilhava ao sol com centenas de borboletas brancas pousadas em sua estrutura. O cavaleiro observava fixamente sua espada cravada na terra.

— As borboletas procuram as flores dos candelabros de ouro no final da descida. O sereno seca no gramado. É alto o dia e seu corpo ferve um perfume doce.

O cavaleiro virou levemente o pescoço e o rosto encharcado ficou de frente para o recém chegado.

— E você é o mago?

Ao mesmo tempo, no mesmo local, mas em uma outra época:

357. — Identificou a própria arma de forma cuspida para uma garotinha.

A garotinha juntou as mãos em frente a boca e soltou um riso abafado. O rosto encardido fez-se corado e o velho pistoleiro ergueu a mão esquerda em sua direção. Antes de conseguir passar a mão no topo da cabeça da criança, ela saiu correndo colina abaixo, balançando as tranças cheias de flores secas. 

O velho pistoleiro sorriu e lentamente fixou os olhos na rocha enorme que despontava alguns metros à sua frente. Uma grande nuvem abafou o sol e da rocha sulcada, um homem com uma túnica bordô surgiu flutuando e em seu trajeto pequenas flores murchavam e caíam.

— .357, carregada, criança. — Disse pra si em sussurro enquanto punha-se de pé.

Abriu e fechou o tambor do revólver, apertando os olhos enrugados para não perder a aparição da rocha ante o retorno da luz solar. Mais nuvens mudaram as sombras daquela colina e pelas costas do pistoleiro, uma voz funesta anunciou-se.

— Até o fim desta tarde, a chuva nos cobrirá.

O tiro furou o tecido gasto do casaco do pistoleiro. Dedos grossos apertaram o metal da arma com firmeza. O homem da túnica bordô olhava para o próprio peito, vazado pela bala e tingido por sangue, tom sobre tom. 

— Que juntem-se agora ambas as linhas de tempo e ganhe o melhor. 

O homem na armadura infligiu a lâmina no mago no exato momento em que o ar tingiu-se de azul e tudo girou, espiralando com grande pressão o corpo embalado no metal. O tilintar da espada no cano do revólver reverberou ao longe e ambos os homens jogaram-se para trás. 

O cavaleiro abaixou a viseira e correu enfurecido contra o homem reles de trapos e com uma estranha peça de ferro polido. O pistoleiro deu dois tiros contra aquela massa pesada que corria em sua direção. 

Em alarme, atirou a terceira vez, pondo-se para o lado. Não tinha certeza de que sua bala surtiria efeito. Mas logo as gotas de sangue borrifavam à altura do cotovelo e uma grande mancha adensava-se no peito do pé esquerdo. 

Embora tal acerto não tenha impedido o avanço irrefreável. A espada aproximou-se o suficiente para abrir uma nova boca no queixo do pistoleiro. Alguns dentes voaram enquanto o homem rolava parte da colina. 

Um pezinho balançou a bota do pistoleiro, despertando-o em alarme. A mão tremulava enquanto tentava rapidamente recarregar o tambor. 

— Saía daqui, menina! — Balbuciou com grande agonia as palavras ensanguentadas. 

Empurrou a menina e esta rolou até perto do fim da descida. Agradeceu a sua própria sorte que aquela fera com uma espada descia tropegamente. Teve tempo de mirar o topo da cabeça. 

O cavaleiro anteviu aquela ameaça estranha, tal qual uma abelha enjaulada, que feria mortalmente, atravessando a potente armadura. Soube que não havia tempo para sobreviver e rogou aos deuses que lhe permitissem partilhar da morte com o inimigo. 

Apertou a metade da lâmina direcionando-a como lança e arremessou em direção aquele homem de chapéu estúpido.
O pistoleiro descarregou os seis tiros e finalmente o cavaleiro desabou, escorregando o peso de sua carne no próprio sangue, parando ao seu lado. Sua espada cravada na terra, longe do alvo. O pistoleiro empurrou o corpanzil sem vida e este jorrou sangue para o alto. 

A menina terminava mais uma vez a subida e ficou ao lado da cena caótica, a rir. 

— Vá pra desgraça de sua casa, pirralha. 

Enquanto a menina mudava grotescamente sua aparência para a forma do mago de olhos rasgados, a linha de tempo ajustava-se uma vez mais. 

— Lhe encontrei em sua chuva de sangue, grande vencedor. Em breve teremos mais uma batalha. Revólver X Bala de Canhão.

Os bolsos do pistoleiro encheram-se de moedas de ouro. E o mago desapareceu.

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