Abaçaí / abacalhoar / Abacamartado / Abaçanado / Abaçanar
Urerê agachou na beira do rio para beber água. Sentiu uma presença em
suas costas. Por intuição, mergulhou no rio sem olhar para trás. Boiando
no trecho mais calmo das águas, viu outro indio no mesmo local onde
havia agachado.
"Quem é?" Gritou.
"Sou eu, o seu perseguidor."
"Suma. Suma daqui. Você é um Abaçaí."
"Pegue na água esse peixe. Vou abacalhoar ele para o jantar."
Urerê sentiu então um peixe roçar sua mão submersa. Prontamente o
afugentou e então nadou até a margem oposta. Saiu da água e correu para a
mata fechada. Topou com o seringueiro Matias, único morador branco da
região. Ele segurava um tronco de madeira abacamartado.
"Calma lá, indio. Seu lado de caça é pra lá. Pode voltar."
"Um Abaçaí me persegue."
"Não quero confronto tribal aqui. Volte!"
"Me dá o tronco. Estou de mãos vazias."
O seringueiro Matias entregou a madeira para Urerê, esperando dar fim a
chateação. De volta a margem, viu o Abaçaí no mesmo ponto, deitado
sobre folhas secas. Então apontou o tronco abacamartado e gritou: "Vou
te matar com o chumbo". O Abaçaí pôs-se de pé.
"Acha que sou como a anta? Não caio nessa. É truque de homem branco. Fraco."
Matias surge da mata, vindo para conferir se o indio retornara para o lado certo do rio.
"Isso é ridiculo. Vamos, nade para o outro lado."
Furioso, o Abaçaí rogou uma praga: "Como o abaçanado de minha pele, vai
o homem branco abaçanar. Abaçanado então, te seguirei por toda a vida,
até enlouquecer!"
Matias retirou um revolver de sua cintura e atirou
em Urerê. Mirou no Abaçaí e atirou mais duas vezes. Urerê tombou sem
vida dentro do rio. Abaçaí urrou, com um ferimento no estomago. Mancou
para o meio da mata. Matias guardou a arma, satisfeito. Apenas no fim do
dia, em sau casa, viu com horror no espelho, seu rosto abaçanado.
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