1_ No século XVI, Dabunde Bagaha Batulê, nativo da tribo canibal dos
Mbangalas, no litoral africano, descobriu certa manhã um naufrágio vindo
das Ilhas Chilenas. E no meio dos destroços, um grande amontoado de
batatas! Tomado por um impulso gustativo, provou-as cruas. Em seguida,
Dabunde comeu as batatas junto com pedaços dos náufragos mortos. E,
excitado com a saborosa junção, cozinhou-as, perfazendo um excelente
purê. Abraçando o máximo que pode dos tubérculos, tratou de correr de
volta a sua tribo para espalhar a descoberta. No caminho de Dabunde, no
entanto, Deus alimentou noventa e quatro hienas famintas, dando fim ao
começo de uma era de canibalismo com purê de batatas 3 estrelas
Michelin.
2_Nena LaRusseau, vedete do Bal Mabille, em Paris de
1845, conheceu após uma picante apresentação de cancã, o imigrante
italiano Toni Taglialone, padeiro em busca de prosperidade na cidade
luz. Conectados por uma paixão sexual intensa, provaram todas as
fantasias que a época poderia proporcionar. Após alguns meses, o casal
entediado teve uma ideia que Deus arquivou na gaveta numero 44 da sala
das Coisas que Nunca Deverão Voltar a Ser. Na madrugada de 6 de Janeiro
de 1846, com as portas da Boulangerie de Toni cerradas e um forte
inverno castigando os ossos da brilhante Paris, Nena LaRusseau fez um
monte no chão com mais de cinquenta quilos de farinha. Quebrou cento
e vinte ovos, juntou um punhado de fermento, leite e sal. Convidou seu
amante embasbacado para um tórrido romance na mistura até estarem
cobertos de massa fresca e fofa. Inaugurava-se o sexo na massa. Nena
fervilhava as ideias do quanto a sociedade festiva dos bailes gostaria
de transar dentro da massa do pão. Evitando um futuro com padarias
sexshop, Deus acordou na mesma noite Gregório de Santalacqua, ajudante
de Toni, com sonhos sobre o melhor pão do mundo. E tal não foi a
surpresa do ajudante ao encontrar aquela grande massa que pulsava no
chão sujo. E foi a melhor coisa que ele assou em vida.
3_Olerif
Al Shreddar, num almoço trivial em 2 de maio de 1964, encarava o
petróleo puro que sua esposa servira em um prato de sopa, furiosa com a
pão durice do marido. Ele sentiu-se desafiado a comer e espremeu um
pequeno limão, salpicou sal marinho e adicionou algumas gotas de água de
rosas à gosma. Afundou a colher na mistura e levou-a à sua boca apenas
após certificar que sua mulher o espiava através da cortina de contas.
Sem saber, com aqueles poucos acréscimos, Olerif tornava o petróleo
comestível e incrivelmente saboroso. Na mesma tarde, ocorreu uma
emergencial necessidade de nicotina em Olerif Al Shreddar, ex-fumante,
no momento em que ele discutia por telefone com seu primo Hanun Chaddel,
de Beirute, a possibilidade de abrirem um nova rede de restaurantes.
Embora Hanun soube queera possível se alimentar de petróleo, jamais
descobriu de que forma o preparar, pois a ligação terminara subitamente
enquanto o primo Olerif pegava fogo pelas ventas, literalmente.
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