Amanheceu no castelo.
— Rei Embratur, há vômito por todo palácio!
— Já estou sabendo, nobre Percevejo. Não te lembras da noitada d'ontem?
— Alguns clarões, majestade. E um incômodo no fiambre anal.
— Vá procurar a rainha Guenavara. Serviçais? Serviçais? Postem o desjejum.
— Sir Bosta de Canil, aprochegue-se para um pão na chapa.
O pão na chapa é servido com dedos decepados.
— Pelos deuses, que nojo. O que significa isso?
Serviçal 1 justificou:
— Tal qual vossa majestade ordenaste ontem.
— E como ordenei?
Serviçal 2 explicou:
— Se o cavaleiro Tristaço não sorrisse ao tomar aguardente do cu do
jegue, Percevejo lhe cortaria os dedos para o café da manhã.
O rei esmurrou a mesinha do café.
— Porra, estávamos estragados. Por que o mago Melzim não nos botou juízo?
Uma nuvem roxa perfez-se em frente a todos e surgiu dela o tenebroso mago Melzim.
— Hic, cadabra, hic. Sois estúpidos, todos. Enquanto dorme o dragão sob
vossos pés, teu mais fiel cavaleiro mama na encolha o teu mais refinado
vinho.
Sir Gala Rala adentrou a cena aos prantos:
— Oh, desgraça, acabaram com toda adega. Quem bebeu todo o vinho? Mil demônios o possuam.
Melzim lançou uma maldição:
"Pode falar, pode rir de mim, requebra o quebrante, sim. Que de todos aqui, ao menos um tenha um fim, hic!"
— ORDEM, ORDEM! Vai todo mundo tomar no cu, to com a cabeça martelando e
vocês só na groselha da ressaca. Nada faz sentido. A bebida só acabou,
Sir Gala Rala, pois provavelmente tenhamos enxugado todo estoque.
— Meu amor, bom dia. - A voz saiu doce.
— Guenavara? Onde dormistes?
— Ao teu lado, nobre roncador. Despertei cedo em busca de dipirona.
— Achaste?
— Sim, Sir Lançona tem muita dipirona. Nossa! Ufa, quanta dipirona.
— Lançona do Lago, grande cavaleiro, de fato. - Intuiu o rei.
AHÃM, UHUM — Rosnou o mago Melzim.
— Rei Embratur? Eis que não encontrei a rainha, mas veja quem arrastava-se nas catacumbas, Tristaço de Leonis.
— Melzim, ordeno que cicatrize as feridas de Tristaço.
— Como queira, Embratur. Tenho que lhe avisar, há uma presença maligna em seu castelo.
O rei desembainhou sua espada mágica, Elixir.
— É hora de nos reunirmos, cavaleiros, na távola girante.
— Tão cedo? — Impressionou-se Sir Bosta de Canil.
— Já são dez da manhã, oras. Percevejo? Vá juntar os demais, PRA JÁ!
Momentos depois, na távola girante.
— Fique, doce Guenavara.
— Ah, uh, preciso deitar-me. As dores...
Sir Lançona do Lago é anunciado na trombeta.
— Ah meu querido, já que insistes, ficarei.
A rainha sentou ao lado do rei. Em seguida sentaram, Sir Nemark Dublado,
Sir Gari, Sir Havan, Bosta de Canil, Gala Rala e Percevejo, ajudando o
pobre coitado Tristaço.
— Senhores, deitem suas espadas na tábula.
Embratur Pendragon ergueu sua Elixir, que brilhou, cegando
momentaneamente a todos. Mago Melzim cantarolou a abertura de Game of
Thrones.
Disse o mago:
"Morgada, a bruxa, envenenou um de vocês,
na última madrugada. E também, um de vocês não é quem diz ser. Um de
vocês é Mordido, filho de Embratur com Morgada. Foi o que disse o bafo
do dragão verde!"
Um trovão ecoou pelo amplo salão da távola girante.
— O que devo fazer, Melzim?
— Gire a távola a cada rodada de álcool. O primeiro a recusar será o
traidor Mordido, filho de Morgada. O último a sair, morrerá envenenado.
— Mas, e o antídoto?
— NÃO HÁ ANTÍDOTO PARA PECADORES! — Gritou Melzim, batendo o cajado no chão e acompanhado por mais uma trovoada.
— Sirvam! — Comandou o rei Embratur.
Serviçal 1:
— Este é Underberg, bebida tradição, com raízes e ervas do Brasil e do mundo. Servida aqui com gelo e fatia de limão. Saúde!
— Girem, girem a távola — Animou-se Gala Rala.
Serviçal 2:
— Jurubeba do norte, com ela nem o demônio pode! - E serviu numa cumbuquinha.
Serviçal 1:
— Caninha 51 com Pitu e mix de limões.
— MALDIÇÃO! ESTAMOS TODOS CONDENADOS! - Gritou em rompante, Sir
Percevejo. - Eu posso ver a Dama do Lacre! - E seus olhos anuviaram-se
por alguns segundos. O rei atentou-se.
— O quê diz ela?
— O último terá o Elixir!
— Mago, o quê diz disso?
Mas o mago roncava ao lado da garrafa de Pitu.
Serviçal 2:
— Conhaque Dreher e limão.
Dois cavaleiros beberam e imediatamente atracaram-se no chão. Não em amor, mas em
violento confronto. Embratur levantou-se e cortou o queixo de Sir Havan.
Percevejo se recompôs e Sir Havan ajoelhou perante o rei, suplicando
perdão. Melzim despertou.
— Girem a távola giratória.
Serviçal 1: Jurupinga tradicional.
Serviçal 2: Catuaba com Sprite
Serviçal 1: Cu de Burro
Serviçal 2: Suco Gummy
Serviçal 1: Batida de Halls
Serviçal 2: Bombeirinho
Serviçal 1: Maria Mole
Serviçal 2: Viuva Negra
— Chega! Num queru, ômi. Chá bibi dimais...
Mordido revelara-se. Sir Percevejo do País de Gales fora substituído por Mordido, o bastardo.
— O que faço agora, Mago Melzim? Estou bêbedo!
— Não fará nada, rei! Pois Percevejo agora trabalha num bar em Honolulu
ganhando 13 dólares por hora. Não há como condenar algo assim. E
Mordido está aqui, aceitando um cartão pra duas conduções e bebida a
vontade. Ele ainda mora em Carapicuíba! — Um raio invadiu o salão.
— Contiunem a cheirar a távola!
Porradinha
Conhaque com leite de Alcatrão
Rabo de Galo
Para Tudo
— Onde estão todos? Melzim? Cadê Elixir? Guenavara, aonde vai com Lançona?
O mago, translucido, rachando de bêbado, balbuciou um novo encantamento:
"Siricutico cá, siricutico lá, siricutico aqui, hihihi, que Embratur
expila o veneno daquela maria mole e viva para mais uma rodada"
O rei levou a mão ao peito latejante. Morgada flutuava de janela em janela rindo alto.
"Embratur Pendragon, sacrifico-me ao dragão por tua vida. O preço é sua
espada Elixir. Ela vai voltar para a dama do lacre e retornara para
tuas mãos apenas quando estiveres pronto para tomar uma caipirinha de
steinnhaeger."
Na manhã seguinte:
— Rei Embratur, há vômito por todo palácio.
— Tristaço? Está melhor? Lembra do que aconteceu ontem?
— Lembro mais ou menos. Estou com uma coceira terrível no cu, mas olhe só: não tenho dedos pra coçar-me!
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