quarta-feira, 18 de abril de 2018

CENAS DE TERROR OBSERVADAS DE LONGE


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Da sacada do apto, pelo binóculos, o senhor Mero assistia a partida da tradicional Corrida de São Silvestre. Após os três primeiros pelotões, ele tremeu todo o corpo, incluso o foco do binóculos, quando notou uma sereia rasgando com um facão a carne de sua própria cauda, dividindo-se ao meio com uma expressão de dor extrema. Os demais atletas amadores desviavam apavorados. A sereia começou a correr, manca e espasmódica, com o apoio de suas recém feitas "pernas" de cauda. Ele acompanhou até onde pode o rastro de sangue. Do quarto andar, o senhor mero sentiu o cheiro forte de maresia. 

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Na feira de antiguidades, Leonora estava entusiasmada com as variadas opções que as barraquinhas dispunham. Muito detalhista, ela encostava as coisas bem perto do rosto para notar as nuances. Mesmo em concentração, algo a atraia de canto de olho. No fim de um dos corredores, um garoto, não mais que 8 anos, parecia pegar algo repetidas vezes da barraca em sua frente. O que mais incomodou Leonora, era o fato de que ele parecia levar até a boca, seja lá o que estivesse pegando. Ela parou o que estava fazendo e olhou francamente em direção a criança. Imediatamente o garoto abocanhou e engoliu um pequena xícara. Boquiaberta, ela apressou-se em ir até ele. O garoto assustou-se e começou a vomitar diversos objetos de antiguidade. Leonora não soube o que fazer, e seu passo vacilou. Preferiu dar meia volta quando ele passou a vomitar compulsivamente dedos amputados com anéis de brilhante. Correu em direção a rua enquanto um aglomerado balburdiava em torno da cena. Notou que lhe faltava a aliança com diamantes!

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Henrique e Rita passavam mais tempo em sua casa no campo do que na cidade grande. Tentando fugir do stress urbano, faziam de tudo para acostumarem-se com a calmaria local. A única coisa que os impedia de desfrutar de alguns dias 100% offline, era o sistema de câmeras de segurança que instalaram na casa da cidade. Sábado a meia noite, olharam pelo celular a filmagem em tempo real do portão. Um homem esguio debatia-se contra as grades do lado de fora. Envolto em trapos encardidos, com manchas vermelhas ao longo e com a cabeça completamente enfaixada. Erguia os braços em direção ao quintal. Henrique olhava com medo e curiosidade pelo avanço infrutífero daquele homem ferido. 

Rita tentava contato com o vizinho. Aparentemente, o homem nos trapos conseguiu entrar com metade de seu corpo esguio pelo portão e seu braço agarrava algo na mureta. O ângulo da câmera impedia a visualização, mas Henrique sabia que ali era a caixa de correio. Sem sucesso ao telefone, Rita passou a rezar um Pai Nosso. A criatura parou de se mexer e lentamente recuou. A filmagem começou a travar, e o ultimo quadro que viram foi a mão direita de trapos segurando uma correspondência. Era a conta do condomínio da casa de campo. Alguém bateu na porta da casa. "Seu Henrique, tá todo mundo indo pra porteira. Tem um troço lá." O casal não foi ver o que era.

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