“A Penúltima Edição”, desdobramento do projeto literário iniciado com “A Última Edição”, é uma antologia subversiva, a começar pelo título, que embaralha a ordem cronológica. Da mesma maneira, este volume com 16 contos recusa qualquer enquadramento, é composto por fios soltos, heterogêneos e imprevisíveis como conversas tarde da noite regadas a álcool. Todos operam algum tipo de desordem. “Vlag Hotel” renova com a aura do sexo o gênero das histórias de castelos mal-assombrados, mas aqui se trata de um hotel decadente da cidade grande, com o interior corroído por perturbadoras manchas.
A história manjada do progenitor violento se
transforma, em “Meu Querido Pai”, na comunhão perversa possível entre
pai e filho. “Anti-Santos”, relato de suspense sobrenatural, traz tipos
ambíguos (como o matador de atendentes do INSS) cultuados popularmente
depois de mortos e que, talvez, no inferno intercedam por nós. No hilário
“Trotes de Nostradamus”, as profecias do mago servem a um propósito
irreverente. O humor e o disparate alcançam um pico no ritmo de “Deixa o
Menino Queimar”.
Uma metáfora de uso cotidiano é desenvolvida de forma literal e engraçadíssima em “Fome Inerente”.
A tensão no diálogo entre um homem e uma mulher se acumula como que a
conta-gotas em “Intervalo”. Em “De Volta às Telas”, um velho ator de
novelas, agora no ostracismo, parece enredado num jogo de máscaras.
Lidas em conjunto por alguém que senta-se para
percorrer sua edição da primeira à última página, essas e outras
penúltimas narrativas causam a ilusão de uma noite vertiginosa em que os
convivas vão do riso às lágrimas, da recordação ao delírio
– as anedotas e histórias de fantasmas contadas pelos companheiros de
copo intempestivos mesclando-se à programação ao mesmo tempo familiar e
bizarra da TV sempre ligada.
(Raione Pedrosa)
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