terça-feira, 22 de dezembro de 2015

Passas aos olhos

Panis vinumque et ficus

( ಠ_ಠ)┌ Non solo pani vivit homo. In vino veritas.
Quod abundat non nocet. Pane in vino veritas... (´・`) フ
( ಠ_ಠ)┌ Uti, non abuti. Solo vino vivit.
Pane in vino, ficus in fervet. Utile dulci. (´・`) フ
( ಠ_ಠ)┌ Famelico
Omnes sibi prius quam alteri esse volunt. (´・`) フ
( ಠ_ಠ)┌ Annosum vinum, socius vetus et vetus pane!
Incipis invitus cessasque invitus ab esu. (´・`) フ
( ಠ_ಠ)┌ Edendum tibi est ut vivas, et non vivendum ut edas.
Ficus olla, vivit amicitia. (´・`) フ
( ಠ_ಠ)┌ Non in solo pane aut ficus vivit homo. In vino veritas!
Nullum secretum est ubi regnat ebrietas. (´・`) フ
( ಠ_ಠ)┌ Veritas.
Venter plenus somnum parit. (´・`) フ
( ಠ_ಠ)┌ Amici, ad qui venisti?
Pane, ficus, aut vinum acqua (´・`) フ
( ಠ_ಠ)┌ Vilis aqua et panis, potus et esca canis.
Necessitas caret lege. (´・`) フ
( ಠ_ಠ)┌ Quae sunt Caesaris, Caesari.
Gratias ago, Domine! (´・`) フ
( ಠ_ಠ)┌ Aequiparat factum nobile velle bonum.

quarta-feira, 9 de dezembro de 2015

PAVÃO À PORTA



       
     


O pavão que Alécio ganhou na rifa de domingo chegou excitado à nova morada.  Posto no quintal barrento, sassaricou pelos quatro cantos do terreno em solene e educado porte. Pupilou para as galinhas velhas que ali ciscavam, satisfeito com as acomodações.  Faminto, buscou uma bicada de qualquer coisa pelo chão. Não conseguindo uma boa sobra da ração das galinhas, ponderou se o magro senhor, que lá o pôs, pudesse oferecer algo melhor.    

Aproximou-se em desfile lento até a única porta do casebre e patinhou em círculos de forma a roçar a longa cauda na madeira. Tardando a funcionar o intento, parou de frente a entrada encarando com um olhar apatetado as paredes sujas.  Não muito, a porta rangeu, assustando o pavão.        

Uai! Qui bichesse?    

Ara, para di ganí a toa, Café. Isso é um pavão! Táveno, não?       

Coisim doido.   

Vai vê qui tá no lugar du galo Zeferino.  

Pavão é galo, Janja?  

— Ieu qui sei? Tôgarrada pá brinca fora, vamo?          

Tô fora, sô...    

O pavão recuou, alerta. Ciscou duas vezes e pensou em girar, fez que ia pra perto das galinhas, parou, voltou.  Por fim, desfraldou a cauda. O pescoço alongado, o peito endurecido e as penas a trepidar as pontas na brisa. Sua gigante cauda, aberta em cores vibrantes, fez as galinhas encolherem-se no fundo do quintal.

Óia, qui horror, Janja!         

Pavão faz isso, Café.

Pra mó di quê? Ispantá muriçoca?         

 
Qué metê!      

Diacho... Taca u osso pra distraí ele.      

Nada! Só qui tem é osso enterrado nes quintal tudim.        

Dá nem pra passa pressa lapa esgandaiada.  Bem queria u osso!

Nunca qui vi, Café, só di assuntá qui sei. Ele qué metê.     

Vorta di rabo, Janja.  

Vorto nada, sô. Pensa...      

Nóis piamo pra cá e agora pra saí tem disso. Tar di pavão nu mei du camim!

Ié memo porção di osso no quintal, Café. Ói qui eu queria pegá um deles.      

O pavão pendeu pra um lado e pro outro com a portentosa cauda. A fome apertou e a situação parecia longe de acabar. Arriscou ir mais perto, torcendo por desempatar a porta.        

Janja, Janja, corre buscá Alécio!   

Aquele leque imenso bloqueou toda a entrada. A única coisa que Café distinguia na contraluz era o pontiagudo bico do pavão na soleira. De instinto irrefreável, Café avançou no pescoço do pavão. Este saltou com toda força que o perigo lhe carregou aos músculos, mas não o suficiente para escapar do chacoalho. Café sacudiu a ave, batendo-a de um lado ao outro do batente. Janja voltou derrapando, trazendo um chinelo velho na boca. Alécio atrás, arremetendo descalço na cozinha e escorregando no piso perfumado de pinho.   

Tá qui pariu, Café!! – Alécio ergueu-se de um pulo, esfregando a anca esquerda.    

Fássunão, Café – Suplicou Janja largando o babado chinelo.       

Alécio chutou Café na barriga, fazendo-o rolar pelo piso. 



Réda pra lá, tiriça
O pavão caiu de ponta cabeça na terra vermelha do quintal. Janja ameaçou sair da cozinha em direção à ave, mas Alécio a bloqueou enfiando o pé em seu nariz. Penas coloridas planavam ao redor de todos.  
  

Paz daqui, trem vira lata! Polvilhou tapas no ar o dono da casa.

Os dois cachorros fugiram acuados pra debaixo da cama do pequeno quarto. Alécio ergueu com cuidado o pavão, que girava os pequenos olhos e aos poucos fechava a cauda despenada.   

Pai do céu, qui destrambeio ti fizeram us purguento?         

Fungando no carpete, Café chorava baixinho consolado em lambidas por Janja. O pavão, agora triste e envergonhado, aos poucos se recuperou da violência. Satisfeito por não ter seu prêmio de rifa ido pro além, Alécio providenciou um pires cheio de sementes de abóbora e o colocou ao lado das galinhas, que estavam trêmulas no fundo da casinhola.  

Cê tá bão, bicho duro. Vai vive mai dia. — Contentou-se o homem enquanto desentortava algumas penas da cabeça da ave.         

O pavão macerou as sementes, moroso, alimentando um desejo de vingança. Após um sono picado, no primeiro traço de sol que cortou a goiabeira, ele pateou cambaleante até a porta. Desfraldou mais uma vez o estandarte de plumas, agora alquebrado e sujo de barro; e lá permaneceu, rigoroso, até Alécio abrir a porta.    

Janja, Janja, ói lá! — Apontou Café com o focinho úmido, ainda enfurnado debaixo da cama. — Mai dinovo quele pavão nu mei du camim.    

Cê incomoda? U bicho qué memo metê.

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Conto de Sérgio Ferrari; do Livro Alguma Objeção - antologia de contos da Contenda Literária de 2014, coordenada pelo mestre Marcelino Freire e, além do próprio, participam do livro:


Alícia Peres, Andréa Moraes, Anita Deak, Carlos H. Schoroeder, Eliana Castro, Estefânia Barsante, Fábio Ferreira Pinto, Gabriel Sotero, Gê Martins, Graziele Shimizu, Janaína Quitério, Maíla Sandoval, Marcos Zeller, Mário Aviscaio, Mauricio Leite, Mauro Rubens, N. Zuccala, Nicole Anne Collet, Priscila Jácomo, Roberto Miike, Rossana Di Munno, Sérgio Ferrari, Sheila Ferreira, Tina Morais.


A edição do livro ficou por conta do mestre: Vanderley Mendonça do Clube Hussardos e Selos Demônio Negro e Edith.

Lançamento Limitado. (quem quiser uma cópia, me procure no Face.) Obrigatô

sexta-feira, 4 de dezembro de 2015

O paradoxo da mágica


— Como você fez isso? UAU!
— Não posso contar. É mágica.
— Náá... Eu quero saber o truque. Como fez?
— Desculpe...
— Espera lá, pô! PELO AMOR DE DEUS ME CONTE O SEGREDO
"..."
— EU TENHO QUE SABER! EU QUERO, QUERO, QUERO
— Tá bom, você venceu. O truque é que ********* ***** ******
— Afê, que B-O-S-T-A! Arruinou a mágica. Por que foi me contar?

sexta-feira, 27 de novembro de 2015

Diário Devir (1)



 O RANÇOSO



É isso aí, Baby. Recolha todas as joias vagabundas do chão e me acompanhe pelo começo da noite. O último trem para a central vai partir em poucos minutos. Não ligue para os protofotons que tentam perfurar teus olhos. Confie em mim. Essa viagem ao inferno vai ser tão rápida quanto você imagina.


 É uma crença antiga. Os garotos que se drogam na linha do trem temem o Rançoso (ponto) Acredite nas minhas palavras. A onda do terror é a respeito do Rançoso. Será que eu me lembro da história? Puta merda, vou contar. Não espere fidelidade ao original. Era um jovem cheio de espinhas no rosto, quero dizer... abarrotado de espinhas no rosto, nódoas purulentas prontas para estourar sem aviso, cuspindo pus amarelo em quem estivesse na frente. 


O cara derretia sobre os passantes. Morava na rua, debaixo da plataforma de trens. Recolhia bitucas de cigarro e comia ratos. Ninguém sabia seu nome e nem como havia chegado até lá. Até ai tudo bem, era ele lá e nós cá.

 Como todo bom moleque desalmado, eu e meus amigos nos aventurávamos pelos trilhos na madrugada, esperando pela aparição do Rançoso. Cada um com uma pedra na mão e muito medo nos joelhos bambos. Foram meses de uma fé devota nas sextas feiras, dia em que nos reuníamos para descer aos trilhos. Sempre lá, armados e tensos. Uma coisa muito boa passava pela nossa corrente sanguínea, creio que fosse algum tipo de veneno, e nos excitava ao máximo. Até a noite do último encontro. 

Partimos da região dos campos no ultimo trem para a central. Eu tinha uma bolsa feita de cipós. Dizia minha mãe que era ecologicamente correta. Aquém disto, muito maneira aquela bolsa. Um punhado de pedregulhos de tamanhos variados, uma faca enferrujada que furtei da garagem de casa e meio pão com tomate. Tudo desorganizado na maçaroca de cipós. Xiu, o único japonês que tive como amigo em toda vida, estava sem nenhum objeto potencialmente ameaçador. Em outras palavras, ele não havia trazido porra nenhuma para encarar o Rançoso. Todo mundo fez cara feia, falaram que ele ia se dar mal, que ele queria ser o machão. Mas a verdade é que nós nunca tínhamos ficado cara a cara com o Rançoso, então estávamos mais de sacanagem com o Xiu. 

O trem deslocou suas travas polarizadas e o imã gigante que acompanhava toda a lateral do vagão grudou firme nas barras de ferro do trilho. Sentimos o corpo retornando a força de empuxo e nossos órgãos voltarem ao lugar. Nada mal para a recém tecnologia. 


As portas foram abertas e saímos em disparada pelos corredores de acesso aos túneis. Lá, guarda nenhum inspecionava, pelo menos não pela noite. Esqueci de dizer, tínhamos ganhado apitos navais, dados pelo pai de Pierre. Esse era o garoto mais boa vida que conheci. Ainda hoje, quando o vejo desfilar no Trápido Bala, me deixa embasbacado com o luxo que o rodeia. 

Um breu intenso cobria a extensão do túnel. Assoviávamos o apito, com empolgação à medida que avançávamos pé por pé, rindo de nós mesmos e do medo que sentíamos. Até bater aquele cheiro. Um odor azedo que avançava até o estômago. Paramos de assoprar o apito para não vomitarmos em nossos próprios sapatos. 

― Ei garoto, tá perdido?

A voz que saiu detrás de Xiu foi como a ponta de um iceberg gigantesco avançando até nossos crânios, o que bastou para entrarmos em pânico. Xiu ajoelhou e mesmo sem ver absolutamente nada, assim como nós, ele começou a implorar.

― Pelo amor de Deus, senhor Rançoso, não faça mal a nós. Eu te peço perdão. Por favor, por favor. A gente já vai embora.

 Meu amigo Pierre começou a chorar e eu também comecei a entrar no turbilhão do choro. A voz afogada de Xiu humilhando-se para algo que nem sequer podíamos ver. O choro, o medo. Éramos garotos estúpidos num lugar mais estúpido ainda. 

― Ai, bebezinho, ai bebezinho. Num vô mais jantar ratos bebezinho, pra quê chorar?

Ele gritou desesperado. Eu agarrei todas as pedras da bolsa e comecei a jogar a esmo, gritando mais alto do que Xiu. Pierre assoprava forte o apito. Senti quando ele passou correndo por mim e o som agudo ficando cada vez mais fraco. Minhas pernas estavam travadas e Xiu gemia de dor ou medo ou ambos. 

― Ai que gostoso bebezinho. Ai, ai.

Aquela bestialidade me deixou sem sono por anos. Embora eu não tenha enxergado absolutamente nada naquela noite, pude mensurar o acontecimento quando li o jornal online da manhã seguinte. Estava lá: “Encontrado pequeno escalpo no túnel da linha norte.” Mais nada foi dito, nunca mais. Eu nunca abri a boca sobre aquela noite e nunca mais procurei Pierre, nem para dizer que eu também havia corrido. 


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E cá estou, de volta ao trem da linha norte, tantos anos depois, sentindo o mesmo cheiro tenebroso e azedo. Eu sei, eu tenho consciência de que experiências traumáticas nunca são totalmente esquecidas. E o cheiro azedo que estou sentindo é o mesmo que senti na infância. É um registro claro na minha memória. E a cara podre desse velho ao meu lado... porra, não pode ser... Será? 


Com certeza! Ele está sentado com um capote velho e manchado e seu rosto é inchado e forrado de verrugas, a pele fina com um tapete de veias escuras. Só de olhar pra esse velho começo a enjoar. E ninguém no vagão quer olhar pela segunda vez. Só eu estou interessado neste filho da puta.

― Ô velho... Está perdido?

Ele ergue a cabeça surpreso com minha intromissão.

― É você mesmo velhote. Está perdido por aqui?

A garota ao meu lado faz uma expressão de repulsa, como reação a garfos riscando uma panela. O velho ergue a palma das mãos e as balança como quem diz que não esta entendendo nada.

― Eu só quero um favor teu. Em troca eu lhe deixo duas baratas fritas no óleo.

Eu ergui o pacote de nylon e imediatamente me levantei em sua direção. Permaneci de pé à sua frente segurando o pacote diante de seus olhos.

― Hum.

Ele assentiu com a cabeça.

― Repita essa frase com sua voz normal: “Ai bebezinho, ai bebezinho”.

Um cara negro, com um bigode enorme, estava sentado no fundo do vagão. Ele abaixou o jornal que cobria seu rosto e passou a me observar com as sobrancelhas cerradas. E ele não foi o único, pois eu estava fazendo um show freak particular com aquele velho nojento. E ele repetiu a frase com um sorriso na boca.

― Ai bebezinho, ai bebezinho... esse cara já me viu por ai?

Filho da puta, filho da puta. Ele sabe do que eu to falando. É o Rançoso. Meu sangue ferve. Não digo nada. Inclino o corpo para trás, respiro fundo, ao tempo em que ergo minha perna direita até o solado da bota ficar emparelhado na cabeça. Enterro todo o pé naquele rosto deformado. Eu já matei, já vi sangue e ossos se partirem, mas este cara fez jus ao apelido. Minha bota atravessou todo seu crânio como manteiga, sem encontrar a mínima resistência, uma mistura de pus amarelo, massa encefálica e uma gosma rosada espirraram por todo o piso, no vidro, no teto, nas pessoas em volta. E é o fim do Rançoso, sem dar um pio.

E é o começo também da gritaria diante do desfecho grotesco. O homem no fundo do vagão não pensa duas vezes e soca o grande botão vermelho de emergência ao seu lado, quebrando a caixinha de vidro e acionando o freio. Bom, este é um trem a velocidade do som e a alavanca que salta para travar o gigantesco imã deve estacionar esse monstro em 0,02 segundos. Portanto...

“A...aaa..q u e     m eeeeer     daaaa!”

Os passageiros flutuam por um microssegundo e o estalo ensurdecedor ribomba por todo o corpo do trem.  Uma sirene aguda percorre os vagões e a voz metálica sai das caixas presas como um ralo de banheiro no chão.

“Nosso sistema de contenção será acionado para avaliar qual a fonte do problema. Permaneçam calmos. O nível de ferro em seu sangue será estimulado pelos assentos. Agradecemos o bom comportamento diante da inspeção dos agentes da NOM...**Rzzzz..sic*” 

Eu ouço a marcha dos soldados atravessando os compartimentos. Olho para os bancos e eles mudam da cor creme para um azul intenso. Minha cabeça começa a latejar e sou sugado para a superfície de metal. É outra espécie de ímã, só que orgânico. Ele nos prende conforme o nível de ferro que temos na corrente sanguínea. 


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“Não me diga que tem medo de altura. Não diga que tem medo de escuro. Não diga que não tem culhões pra massacrar quem estiver te enchendo o saco. Vá à merda! Tá com nojo de serviço sujo?”

                           
Uma única chance de escapar e por mais dolorosa que seja vou ter que me aplicar. Tenho uma seringa de Solução Híbrida de São Filipe. Ela vai restaurar os miligramas de ferro aglutinados nas minhas costas. A dor na lateral da cabeça atinge um nível perturbante. 


"SIP" 


Livre! Grudo uma plastiexplosão no vidro e ele esfarela por inteiro, três homens armados entram no vagão e sem ensaios  salto de uma altura medonha para um abismo escuro. Se morrer agora,  partirei vingado.



Um vento frio, frio demais e na queda meu joelho direito enrosca em uma cerca e meu tronco gira para bater em uma pilha de garrafas pet. Se eu tiver muita sorte vou me espatifar do lado da avenida, se tiver azar caio no final dos gigantescos túneis desativados que circundam toda a linha suspensa. 


― Desgraça... Merda do caralho... Ugh...

Minhas costas doem minha cabeça idem e essa agulha quebrada na veia do meu pulso. Todo fodido. Mas é estranho, geralmente  sou um cara de muita sorte, mas nesse exato momento, estou de volta a escuridão eterna de uma vala abandonada. É algo de impulsivo o que me move. Não, não da pra simplesmente explicar a verve de matar, o que fiz no trem estava empatado na consciência há muito tempo. Fiz o que tinha de fazer, fiz o que sempre faço. A questão é que dói fisicamente tirar a vida de alguém, pelo menos quando você cai de um trem alto pra cacete! 

Ah, o que rola de interessante por aqui? Além dessa cortina de trevas e barulhos estranhos. Vaza um tipo de cochicho das laterais de concreto e um arrastar que lembra folhas secas ao vento. O Rançoso vivia aqui e eu to começando a voltar ainda mais à noite em que eu e meus amigos o encontramos, no entanto, nunca tinha estado em um posto tão avançado por debaixo dos trilhos. O cochicho fica cada vez mais intenso. Eu imagino ratazanas dando cria, famintas, cheirando o ranho que está por todo meu corpo, mas, infelizmente não é um rato imundo. Porra... São Protofotons!

E milhares de focos de luz minúsculos explodem como um painel de estádio feito de leds incessantemente azuis, de um incandescer tão repentino e forte que me põem desnorteado, completamente cego. Tenho de correr. O que fazer? O que fazer? Protofótons são párias bizarras de experimentos do governo. Eu sei que estão em todo lugar obscuro que tenha muito lixo. Certo, elas ingerem lixo, e... O que era...? Disseram-me uma vez... Ah... Claro... Atração pelo globo ocular humano. Nossa, que agradável. Coisas que petiscam a massa branca do olho até ficar tudo limpinho no buraco. Eu queria muito um tapa olho pra realçar meus disfarces. Que belo encontro. E estão vindo. Porra, Rançoso. São teus filhos? Fodeu. MASTIGA MASTIGA MASTIGA MASTIGA. 


OK

Vou virar a página e te dizer como escapei. 


Segue o jogo. 


Diário Devir
Fulgor Malone 27/11/2028