quarta-feira, 27 de março de 2013
O reduto Poslavk - Denis Miguel
Escrito e viajado pelo escritor Denis Miguel
***
Começo escrevendo, caro leitor, o porquê de começar essa história.
Percepção!
“Percepção instantânea”
O ato de captar algo no ar para que possamos matutar e matutar, tornando a nós uma classe privilegiada; tão privilegiada que é capaz de surpreender até mesmo o nosso ego.
Mas houve um tempo em que nem todos eram assim, até que Victor ultrapassou essa barreira.
Na cidade de Cozmay (lê-se Cosmai), Victor era um típico filho exemplar: ótimo aluno, romântico namorado, querido por todos; porém, possuia um pequeno defeito: gostava excessivamente da boemia. Naquela época (Imagine uma época), um rapaz de 26 anos não poderia fazer algo tão grave assim. A sociedade repudiava, e muito; inclusive os amigos. Após perceber que até mesmo os amigos o excluiam, Victor decidiu “desaparecer” um pouco, pois este era o único meio pelo qual seria procurado.
Suas “desaparecidas” eram sempre para a casa de seu tio Donadôn, que morava em Siat (cidade próxima a Cozmay).
Donadôn era o irmão mais novo da mãe de Victor. Tinha 37 anos e era casado com Telma. Sua casa era o local ideal para a leitura de um livro, para a prática de estudos, para ouvir músicas, enfim, para uma série de coisas bacanas. As alternâncias entre Cozmay e Siat estavam tornando Victor uma pessoa mais culta. Ao decorrer do tempo, ele carregava consigo cada vez mais “íngüas” relacionadas aos acontecimentos da vida.
Indignava-se cada dia mais com os problemas sociais lidos nos jornais. Preocupava-se com as tormentas de guerra que aglomeravam-se nas conversas dos mais velhos.
Até que certo dia, Victor estava em sua casa, sentado em uma poltrona reclinável, serena e aconchegante, lendo uma revista, quando subtamente ouviu um ruido. Um som ávido e irritante; tão irritante quanto aquele incômodo causado pela olvidez de uma palavra no meio de uma conversa, sabem? Pois bem, ouvia-se, mas não sabia de onde vinha. Victor levantou-se da poltrona e foi a procura do som, para interrompê-lo. Na mesma hora, tocou seu telefone:
Trim! Trim!... Trim! Trim!
- Alô? Quem é?
- Victor, sou eu...Willian
- Tudo bem, Willian? Como...
- Victor, cale a boca e ouça: saia já daí. Estou em frente a sua casa, lhe esperando. - Interrompeu Willian, com uma voz bastante ansiosa, desligando o telefone posteriormente.
Rapidamente Victor se trocou (em meio aos ruídos nauseantes), pegou seus pertences e saiu em disparada. Chegou ao portão e avistou Willian, que já estava à sua espera.
-Vamos?- Perguntou Willian
-Pra onde?- Interrogou Victor.
-Apenas entre no carro.
Ao entrar no carro, iniciaram-se as explicações:
- Victor, há muito tempo, um homem chamado Stansky Poslavk, foi capaz de superar a barreira entre o real e o imaginário. Ele descobriu que nós não vivemos nessa vida, e sim, somos apenas seres subordinados, quase comparados à uma mercadoria.
- Mas, quê diabos?- Indagou Victor.
- Sim, somos fruto de um experimento que toma conta de vidas humanas. Através de um Tilly, eles são capazes de influenciar as pessoas a tomarem decisões. Mas isso não ocorrerá conosco, pois fomos selecionados a viver no Reduto Poslavk.
-Ainda não entendi. - Afirmou Victor
- Então veja você mesmo.
A 4 km dali, havia uma ponte que ligava Cozmay a Siat. Willian dirigiu seu carro até a parte inferior da ponte, onde residiam alguns inativos, vagabundos. Desceram do carro e Willian gritou para uma das crianças que estava brincando com uma família de cães sarnentos:
- Qual seu nome?
- Luan. - Respondeu a criança.
Willian então repetiu a pergunta:
- Qual seu nome?
Antes do menino responder, Willian sacou um objeto muito parecido com uma medalha e mirou em direção aos olhos do garoto. Uma luz apareceu e ofuscou momentaneamente a visão de Victor. Depois de um tempo ele percebeu que a luz era uma passagem, só não sabia para onde ela levava.
-Vamos Victor. Venha conhecer o Reduto Poslavk. Não tenha medo, confie em mim.- Disse Willian, passando muita confiança a Victor.
Ao entrar na passagem, ele viu um corredor branco, mas havia um som (o mesmo que escutou em sua casa, porém, com o volume cada vez mais alto) que o ensurdecia. Até que... PZIU!
Um estouro atordoante; seguido de um silêncio absoluto, irreconhecível. Ao voltar a si, Victor estava em uma fila indiana com milhões e milhões de pessoas. A fila era protegida por uma gosma gelatinosa de tonalidade azul (semelhante ao azul do fogo) e fora da gosma... um breu!, um nada.; um nada "inimaginável".
Era impossível avistar o fim daquelas camadas. Suas filas eram infinitas. Lateralmente, notou que existiam mais duas camadas idênticas à que ele estava. A sua esquerda, estava ele (sim, ele mesmo), só que com dez anos de idade. "Espanto!"
Victor acenou, o chamou, porém, o Vick (apelido de infância) estava intacto, rígido como um colosso, olhos fixados na nuca do menino em sua frente. À sua direita, homens e mulheres com panos escuros sobre a cabeça, impossibilitando a visualização de suas faces; mas Victor nem prestou muita atenção a isto, pois estava bestificado com aquele cenário.
-O que é isso? Como vim parar aqui? - Perguntou para si próprio.
De repente, uma fenda apareceu por trás da gosma. Parecia um pergaminho enrolado, do tamanho de uma perna (na posição horizontal). O pergaminho desenrolou-se, fazendo um barulho de esmeríl, transformando-se em uma porta, onde do outro lado encontrava-se Willian. Willian estava diferente. Estava ruivo e trajava uma malha de cetim cinza que lhe cobria todo o corpo.
- Saia da Lóren e venha conhecer o Reduto, Victor. - Disse Willian.
Ao cruzar a porta, Victor agora tinha cabelos ruivos e trajava uma malha de cetim amarela. Descobriu que as cores das malhas baseavam-se nas preferidas de cada pessoa. O lugar era estranho.
Um lugar onde todas as cores eram muito fracas. Forrado de enormes poliedros, uma espécie de república habitava cada poliedro. Dentro das repúblicas, somente pessoas ruivas e suas malhas de cores variadas. Não havia sol. O tempo era nublado e opaco. Ouviam-se apenas ruídos incessantes parecidos com o som emitido pelo estralo dos dedos.
- Que som é esse?- Questionou Victor, com os pensamentos trafegando desgovernados.
- Este é o Reduto Poslavk. É aqui que nós, Auris, vivemos.
- Nós? Auris?- Hesitou Victor
- Sim. Auris são as pessoas capazes de descobrir, através da sabedoria, o Reduto Poslavk. Somos também os responsáveis pelo desenvolvimento do Harmmabin dos Djelwrys. Harmmabin é o mesmo que Q.I ; já Djelwrys são os habitantes da Lóren, ou seja, são as pessoas que vivem na sociedade hoje.- ( todos presentes naquela fila).
- Certo, mas o que é uma Lóren? - Questionou Victor.
- É cada uma daquelas camadas cubulares e gosmentas que você viu antes de chegar no Reduto. Elas privam os seres humanos de raciocinarem por si só. A Lóren é o exímio meio pelo qual o Tilly influencia toda a sociedade, tomando conta de todas as mentes. Esses subordinados são chamados de Djelwrys.
- E o que é um Tilly?
- É um ser malígno que deseja comandar o Reduto, assim, ele teria total condição de persuadir qualquer ser humano, até mesmo nós Auris. O Tilly é o ser mais inteligente de todos e se ele conseguir o domínio sobre os Auris, as sociedades virarão ruínas. Mas não se preocupe, pois é pouco provável que ele domine nossas mentes.
- Então quer dizer que eu sou um Auri porque consegui me libertar da Lóren através de minha sabedoria?
- Exato! Seja bem-vindo ao Reduto!- Concluiu Willian.
Victor ainda não havia se acostumado àquele ambiente de clima tosco e som desagradável, mas, naquela hora, ele sentia um orgulho muito grande de si mesmo. Havia um glamour em seu olhar. Victor estava feliz e triste: feliz por conseguir provar para si o seu valor, e triste porque gostaria que Donadôn estivesse ali presente.
Agora, entendida toda a trama que envolveu Lórens, Djelwrys, Auris e Tilly, Willian e Victor continuaram andando pelo Reduto. Durante a caminhada, Victor surpreendeu-se ao ver pessoas famosas (todas ruivas) como: Albert Einstein, Bob Marley, Che Guevara, Elvis Presley, Santos Dummont, entre vários outros. Mas o que mais chamou a atenção foi que, logo ali, dentro de um poliedro, estava nada mais nada menos que Adolf Hitler. Hitler não era apenas um Auri, era sim um dos que mais conseguiam converter Djelwrys em Auris. Uma enorme dúvida pairou sobre a cabeça de Victor, até que ele, já inquieto, interrogou:
- Como Hitler é um Auri se ele foi um dos maiores aniquiladores de todos os tempos?
- Hitler sempre foi uma pessoa de altíssimo Harmmabin. Isso fez com que todos os seus planos funcionassem. Mas como ele conseguiu tanto apoio? Simples, Hitler elaborava seus planos juntamente com a alta cúpula ariana, que na verdade eram protótipos do Tilly. Os protótipos estão presente na Lóren não só como pessoas, mas também como objetos, animais, músicas, etc. Esses protótipos são os responsáveis pelas influencias das sociedades, tornando os habitantes da Lóren em seus subordinados.
Após a explicação de Willian, Victor começou a raciocinar:
- Se existem Djelwrys, Auris e Tilly, então existem diferenças. E se as diferenças são os principais causadores de problemas na sociedade, então de que adianta ser um Auri, se sempre haverão pensamentos de superioridade e inferioridade?
Naquele momento, uma forte pancada, semelhante a um trovão fortíssimo, soou no ar. Novamente silêncio absoluto!. Uma fenda (idêntica àquela vista na Lóren) surgiu acima de sua cabeça e o sugou para dentro... Luz. Victor pairou em um corredor bastante iluminado. Ele não conseguia enxergar nada além de luz. Entretanto, sentia uma brisa muito forte em seu rosto. Estava mais leve. Tentou relaxar e aproveitar aquela brisa, quando ouviu uma voz áspera; temerosa:
"Seja bem-vindo, Victor. Zotrí agora é um Halie (lê-se réli). Antes que zotrí comece a perguntar, apenas ouça o que tenho a dizer e depois faça zótrica escolha. Não existe nenhum Tilly. O que existem são parâmetros. Parâmetros que desde o início da era dos homens, prevalecem e fazem com que as pessoas sejam alienadas de alguma coisa. Infelizmente, isso acabou contaminando até mesmo os mais inteligentes (Auris), mas nunca contaminará um Halie, pois um Halie observa além desses parâmetros; consegue compreender que o âmago universal jamais será satisfeito. Por isso, zotrí obteve a chance de escolher o seu Hype".
Compreendidos os fatos, Victor repentinamente vê-se em frente à três Lórens, com ele próprio presente nas duas primeiras versões ( 10 anos e atualmente, respectivamente), e na terceira ( um homem com um pano sobre a cabeça). Atrás dele, o mesmo corredor iluminado que há pouco esteve presente. Ao seu redor, breu!
- Victor, qual será tua escolha?- Questionou a voz.
- Como assim?- Refugou Victor.
- Em zotica frente, poderá escolher entre continuar zotrica vida (Lóren do meio) ou viver da forma em que zotrí sempre sonhou (Lóren da direita; do homem cujo pano estava sobre a cabeça). Em zotrico dorso (corredor iluminado), zotrí optará por ser o Halie do reduto Poslavk. Zotrí se tornará a única fonte que mostrará para os habitantes da Lóren, e até mesmo do Reduto, o “complicado valor da simplicidade”. Viverá assim em pleno equilíbrio até que o Hype de alguém tome zotrico lugar.
- Mas e depois, para onde irei?
- Zotri conhece a resposta, mas não percamos mais tempo, pois chegou a hora. Victor, qual será zótrico Hype?
Depois de um tempo de reflexão, Victor respondeu:
- Gostaria de continuar minha humilde vida.
- Zotri tem certeza?
- Sim, responde novamente.
- Muito bem! Como é zotrica escolha, eu não posso interferir. Mas lembre-se: Jamais selecione as amizades. Apenas limite-as, pois são elas as principais responsáveis pelo controle cultural.
Dado o lembrete, um clarão raiou e Victor fechou seus olhos. Ouviu-se então o som de um telefone. Abriu rapidamente os olhos e percebeu que estava em sua casa, sentado em sua poltrona reclinável, serena e aconchegante; a revista que lia estava agora em seu colo. Levantou-se e foi atender ao telefone. A ligação caiu.
Victor percebeu que estava de volta a sau casa, mas não entendia o porquê havia escolhido aquela opção. Refletiu por um instante e convenceu-se de que sua escolha havia sido a mais sublime, pois tudo o que ele almejara em sua vida era a busca da felicidade (amorosa, financeira, ou seja, conquistas pessoais), mas se essa felicidade fosse, digamos, “encontrada”, qual seria então o propósito de sua vida?
Complicado? É, eu sei. Mas se você obtiver a resposta, esteja preparado para conhecer o Reduto Poslavk. Mas não se esqueça: Victor era um Halie.
por: Denis Miguel
GLOSSÁRIO:
OLVIDEZ = IMPORTAÇÃO DA PALAVRA OLVIDAR, PARA USO NO DIÁLOGO EM PORTUGUÊS. OLVIDAR = ESQUECER
ZOTRÍ = PRONOME DE TRATAMENTO DOS HALIES. SIGNIFICA O MESMO QUE VOCÊ
ZOTRICA = PRONOME DE TRATAMENTO DOS HALIES. SIGNIFICA SUA, VOSSA.
ÂMAGO UNIVERSAL = DESEJOS DE CADA SER HUMANO
HYPE = DESTINO
ZOTRICO = PRONOME DE TRATAMENTO DOS HALIES. SIGNIFICA SEU, VOSSO.
CONTROLE CULTURAL = MANEIRAS, MODOS PESSOAIS
Assinar:
Postar comentários (Atom)
Nenhum comentário:
Postar um comentário