domingo, 30 de junho de 2013

No departamento de evolução da Mãe Natureza:



"Me diz uma coisa, Angico, qual a próxima evolução humana que temos programada?"

A planta consultou suas raízes e respondeu para a imensa samambaia que estava grudada num antigo Ipê Roxo.

"Bom, aqui temos. As pessoas nascerão sem os dentes do siso. Resultado refletor de uma dieta equilibrada, também símbolo de uma era vegan."

"Ah, pois, cancele isso. Dê o recado para os demais. Acabo de receber um relatório de que os sisos vão continuar"

A samambaia farfalhou suas folhas com grande surpresa.

"Oras, Angico, mas por quê?"

"As pessoas estão comendo carne pra caralho, então não vai rolar de cancelar um dente. Antes eram os grãos duros, agora mastigam até o osso. Vamos aumentar a mandíbula. Força total."

"Mas não tem nada pra tirar dos humanos?"

"Sim, claro, vamos tirar os mindinhos"

quinta-feira, 27 de junho de 2013

Pode ler!

OS 5 MELHORES PIORES COMEÇOS DE LIVRO

05"Aquele homem era conhecido como Coração de Alcachofra."
(Olá, Túnel do Amor — George Zerne)

Porque nada impõe respeito numa taverna como ser chamado pelo nome de uma hortaliça emocionalmente instável.


04"Dobrei o papel do mesmo modo que Ishii havia me ensinado. Agora, após agoniante frustração, colocarei o origami de sapo na vagina de Késia."
(Requintes Alucinantes — Vilma Bottu)

Origami, erotismo e zero noção de limites. Um verdadeiro workshop de constrangimento.


03"Ladeira acima, subia o Rei Repolho desenrolando o preguiçoso Rocambole."
(A Verdadeira História de um Padre — William Morju)

Quando a monarquia vegetal encontra a confeitaria sedentária, você sabe que o livro vai feder a couve.


02"Perguntei à garçonete sobre o motivo pelo qual os carros de polícia estavam cercando a lanchonete. Ela me olhou apavorada e, neste momento, um dos ladrões me acertou com a coronha do revólver."
(Vim Pelo Seu Convite — Ênio Copak)

Se sua noite de sexta-feira não envolve pãezinhos, tiroteio e um leve traumatismo craniano, você tá vivendo errado.


01"Dancei uma lambada maluca ontem à noite. E é desse ponto que começo minha narrativa sobre todas as formigas que pisoteamos."
(Camuflados — Zed Rufios)

Porque nada conecta mais com o leitor do que uma coreografia suada e inseticídio filosófico.

Sazon


Irinelson foi em um hipermercado que afirmava ter tudo. Mas sua lista terminou incompleta.

A̶r̶r̶o̶z̶
F̶e̶i̶j̶ã̶o̶
Ó̶l̶e̶o̶
S̶a̶l̶
Amor
a̶ç̶u̶c̶a̶r̶
C̶a̶f̶é̶
c̶a̶r̶n̶e̶ ̶m̶o̶i̶d̶a̶
f̶a̶r̶i̶n̶h̶a̶
Bisnaguinha Seven Boys
f̶e̶r̶m̶e̶n̶t̶o̶
P̶a̶p̶e̶l̶ ̶H̶i̶g̶i̶e̶n̶i̶c̶o̶
S̶a̶b̶ã̶o̶ ̶e̶m̶ ̶p̶ó̶
D̶e̶t̶e̶r̶g̶e̶n̶t̶e̶

Que azar, Irinelson!

terça-feira, 25 de junho de 2013

1001 motivos para gostar de axé

1001 motivos para gostar de axé (Carlinho do Tetê - Editora Cimbalo)

0001- Todo mundo quer ver suas mãozinhas lá no alto!
...

0999 - É bem legal

1000 - Ae, ae, ae, ae Ei, ei, ei, ei Oô, oô, oô, oô, oô, oô

1001 - Todo mundo vai ficar de perna bamba, Eu nunca mais vou namorar em cochabamba

segunda-feira, 24 de junho de 2013

|O último a saber|



Das trinta pessoas em fila na gincana do colégio, eu era a trigésima e responsável por cantar alto a mensagem no microfone. As palavras do telefone sem fio chegaram assim ao meu ouvido:

"Esse é o zagueiro que chutou sua mãe nas montanhas do Peru."

Essa era a mensagem ridícula que definitivamente havia chegado distorcida. Os colegas atrás de mim estavam todos segurando o riso. Qual era a frase original que a professora havia dito ao primeiro? Agucei a mente, fui até a frente de todos e arrisquei uma nova formulação.

"Esse é o zagueiro que chupou a professora e enfiou o peru."

"ACERTOU!" - Anunciou a professora.  Safadona.

segunda-feira, 17 de junho de 2013

Viajando no tempo com:

EDIÇÃO ESPECIAL: “OBJETOS QUE VIAJAM NO TEMPO (E VOCÊ TEM EM CASA!)”

Por nossa equipe de colunistas, ocultistas, camelôs e videntes de beira de estrada.


🚬 Isqueiro Transparente de Trem

💥 Após centenas de testes levemente irresponsáveis, Pedrosa Maromba descobriu que os isqueiros vendidos em vagões conseguem antecipar o futuro em exatos 4,5 segundos. Só perdeu a pontinha do dedo. "Ganhei tempo", declarou. Foto antes e depois disponível via e-mail:
pedrosa_maromba@bol.com.br


🍶 Manteiga de Garrafa

Produção nacional, ótimo rendimento para combustão de espaço-tempo. Esqueça o pão: use pra hackear a realidade junto de eletrônicos de segunda mão.


🖊️ Caneta Bic 4 Cores

Relíquia ignorada pela Geração Z. Com sua rosca em Z e cheiro vagamente radioativo, essa caneta carrega o segredo dimensional. Teóricos já surtaram tentando desvendar a fórmula da tinta azul.


🥓 Apresuntado

O embutido de quinta categoria esconde um sabor químico que altera a percepção cronológica. Mafra M. ingeriu três fatias e afirma ter visto a própria avó mais jovem… e mais revoltada.


🐟 Lambaris

Condutores naturais de fluxo cronológico. Francisco Fradinho testemunhou o sumiço do primo num cardume e aguarda notícias. “Só lamentei não apresentar as piranhas.”


🥄 Maionese

Fora da geladeira por dois dias vira capacitor temporal. Possibilita realidades alternativas onde você talvez já tenha pago o IPVA.


🛋️ Terapia

Sessões cíclicas entre terapeutas criam paradoxos locais. Restrito a consultórios com divãs sintéticos e revistas de 1998.


📺 Talk Show: “NA NOSSA MENTE”

Vinheta:
“ZuuuuuuuuUUUUUUUUMMMMM NA NOSSA MENTE!”

Contra-regra engatinha, plateia aplaude por obrigação. Jorge Gino Garcia, bronzeado nível forno de pizzaria, recebe Doutor Claus Silveirinha.

JORGE GINO:
— Quer dizer que essas maluquices chegam por e-mail e Twitter?

DR. CLAUS:
— Isso. Muita bobagem, mas algumas… perigosas.

JORGE:
— Vamos testar?

Claus tira duas raspadinhas. Jorge arregala os olhos.

JORGE:
— Loteca? Tá de sacanagem?

DR. CLAUS:
— Com moeda de um centavo, ativa campos magnéticos do cérebro. Expectativa + metal vagabundo = viagem no tempo.

Eles raspam. Jorge ganha 50 mil, Claus ganha um carro zero.

JORGE (pra câmera):
— Viajar no tempo? Não sei. Mas azarados a gente não é!

Plateia enlouquece, governadores invadem, faixa cai:

“BEM-VINDOS AO ANO DE 2.031. VIAJANTES DO TEMPO. HERÓIS.”

Vinheta de novo. Jorge e Claus estão boquiabertos. Fade out.

quarta-feira, 12 de junho de 2013

Mudando a paisagem

Mudando a Paisagem

Desanimado, passo pela praça Charles Bauder à procura de um almoço razoável e um canto que, ao menos, atenda às exigências básicas do meu dia-a-dia. É primavera — ou dizem que é —, e tudo parece excessivamente vivo, como se as coisas tivessem feito um pacto para zombar de mim.

Pequenos círculos de grama se espalham como manchas verdes num tapete mal cuidado. Árvores de tronco largo exibem suas cascas enrugadas, enquanto lírios do vento sacodem suas pontas finas num deboche silencioso. Legiões de formigas marcham em fila, carregando lascas de pão maiores que elas próprias, como se desfilassem em uma parada militar. A cada canto, aves ensaiam trinados histéricos, como se celebrassem uma festa para a qual eu não fui convidado.

No meio dessa natureza maranhada entre prédios modernos, arrojados e imponentes, percebo que jamais poderei alcançá-los, nem mesmo se me fosse devolvido o vigor da juventude. E é aí que me invade uma nostalgia esquisita. Recordo-me de praças antigas, maiores, onde eu era levado sem entender o motivo. Às vezes sozinho, às vezes em bando, sempre cheirando a orvalho de manhã. Hoje, a paisagem parece me fitar com olhos zombeteiros.

Velhacos jogam xadrez mascando sanduíches indefinidos que insistem em me oferecer. Uma confraternização insólita, como se eu fosse uma espécie de mascote perdido. Tudo quase perfeito, se não fossem os ternos alinhados e os vestidos ornamentados que cruzam a praça apressados, figuras cinzentas borrando a cena como manchas de carvão numa aquarela.

Homens e mulheres me lançam olhares duros — invejosos? Raivosos? — e sinto o incômodo latejando. Encosto-me, então, numa árvore ao lado da passarela e recuo, temendo esses cinzentos. Gente que murmura pragas contra mim! Meu espanto é tanto, pois nada fiz que não fosse normal. Aliás, ninguém além desses vultos corridos parece notar minha presença. Sou apenas mais um. Finjo indiferença enquanto mordo mais um pedaço do meu lanche de ameixas — presente dos velhos teimosos —, que me agulha em cólicas leves. Meu intestino nunca foi confiável.

De repente, ouço:

MQue horror! Nojo, nojo, ai ai...

E em seguida, um outro, mais ríspido:

HCagão maldito! Meu terno novo! Essa laia… emporcalhando a passagem!

MAi, que nojo, que nojo…

HComo vou pro serviço deste jeito?

ME eu? E eu?!

Como ousam? Que gentinha desajustada! Não ficarei parado ouvindo tamanha calúnia. Ainda mais agora que meu estômago protesta, péssimo, traidor. Acho prudente atravessar a praça rápido, antes que algo embaraçoso aconteça.

Ui.

O pipoqueiro também me lança impropérios. Ora, apenas disfarcei um peidinho, dois peidinhos. Minha expressão foi das melhores. Mas as crianças… as crianças! Elas correm em debandada para suas mães, gritando como se tivessem visto o próprio capeta. Onde está a brisa perfumada? Onde se escondeu a harmonia? O que fizeram com o chão? Tudo degenera numa tragédia fétida. A praça cheira mal, e as pessoas começam a escorregar em… algo.

Ui.

Eu já queria sair, mas agora preciso. E rápido. Vou-me embora, quase voando.

Ui.

Atrás de mim, um coro crescente, desesperado, se forma. Homens, mulheres, velhos, crianças. Todos, à uma só voz, gritam:

– Maldito! Pombo maldito!

– Pombo sujo! Seu… seu… seu… p o o o o m m m b o o o o o o…

E eu, cada vez mais longe. Cada vez mais leve. Cada vez mais pássaro.

terça-feira, 11 de junho de 2013

Preste atenção nos fios do macarrão

Preste Atenção nos Fios do Macarrão

Olavo Mariano amaldiçoou Ferreira de Tarso com tamanha fúria que pequenas gotas de saliva dançaram no ar e salpicaram a mesa da taberna Aleblebê.

— E que morra entalado nesse grude insosso que tem a ousadia de me servir todo santo dia! Paspalho!

Possesso, empurrou a mesa de madeira, fazendo ranger as pernas mal firmadas, e ergueu seu corpanzil, apontando para a jovem servidora de aperitivos da floresta de Grumixama.

— E você, lagartixa risonha? Tá achando graça, é? Sirva-me logo um Vespusiano Lara, copo de boca larga. E capriche na dose — meia medida dessa gororoba eu não engulo mais. Já me basta esse tempero de cruz-credo feito por Tarso.

Um burburinho se espalhou como fumaça pelo salão. Ferreira de Tarso, do outro lado da cozinha apinhada de pratos, carnes e bagunça, ouviu o eco da voz rouca de Olavo e largou a meia pata de cabrito na pedra de corte. Adentrou o salão mal iluminado, limpando as mãos no avental já encardido.

— Muito bem… que desgraça a vossa pessoa traz à minha honesta casa de comilança, hã?

Olavo Mariano, general das tropas de Vovorovovo, arreganhou um sorriso de grandes dentes moedores de novilhos.

— Teu prato do dia, ó gênio dos temperos, fede mais que teu sovaco. A menos que tenha usado essa axila para esfregar as costelas do porco preto antes de botar no forno. Ou, vá saber, peneirado teus molhos com uma rede de pentelhos e carunchos.

Ferreira de Tarso, acostumado a lidar com forasteiros ingratos e mal cheirosos vindos dos confins da floresta, esticou calmamente as mangas de seu uniforme creme-que-já-foi, deixando à mostra o cotovelo ossudo — um gesto discreto e eficaz de ameaça.

— Quem sabe, bravo general, a Estrada Real não lhe sirva melhor aos gostos… e aos narizes.

— De fato, cozinheiro de mão amarela, de fato. Meus homens e eu partiremos para lá. E fique sabendo: tua espelunca só permanece de pé porque estamos com pressa. Mas fica o aviso: o Rei Vovô Vinólio ainda é meu senhor, e meus Touros sempre voltam.

Disse, virou as costas e saiu tilintando a espada contra a malha de aço, seguido por vinte Touros satisfeitos, mas caloteiros, esvaziando a até então movimentada Aleblebê.

Moça Mariana Queteparta, inexperiente servidora da floresta de Grumixama e a caçula de uma longa linhagem de bruxas curandeiras, percebeu num susto que as mesas recém-abandonadas não traziam nem uma mísera moeda de prata. Nem mesmo as raspas de cobre, que ela tanto prezava. Indignada, seu rosto corou, e os pés bateram furiosos contra um barril de Vespusiano Lara, fazendo-o estremecer.

— Que me quebre um Vespusiano Lara de oitenta e oito e eu te mando de volta pra tua avó Senhorinha Mariluce! — ralhou Tarso, arqueando as sobrancelhas. — Não adianta bufar, Mariana. O que era pra ser dia de lucro virou um dia de desaforo. Vou repor o estoque devorado, e os custos… um tantinho pra ti, um tantão pra mim e mais outro pra taberna. Assim é a vida fora da Estrada Real.

Enquanto isso, pela Estrada Real, os Touros e seu general se acabavam de rir.

— E quando o cozinheiro ergueu as mangas? Ah, Mauá, Mauá, Mauá!

— General! — gargalhou outro — Quase chorei de alegria só de saber que não ia deixar nem raspa de cobre de gorjeta.

Um terceiro, rindo a ponto de soluçar:

— Flaviolouco, viu a queridinha que servia a gente? Ajeitadinha ela, hein? Eu dava a raspa de cobre… e mais um agrado!

— Mauá, Mauá, Mauá!

Riram tanto que tiveram de parar e, como bons Touros, esvaziaram as bexigas na beira da estrada. Mas logo as risadas se tornaram caretas.

— General… que cheiro horrendo é esse?

— Mauá… Mauá… espera… pelos deuses, é do meu também!

— Meu jato tá borbulhando nas folhas!

De súbito, um a um foram tombando, contorcidos, sufocados pelo odor agridoce de vinagre e sangue. Olavo Mariano tentou alcançar a rédea de seu cavalo, mas o animal relinchou e se afastou, deixando o general a derreter na própria urina.

Na Aleblebê, Tarso contava pratos e restos.

— Prôpala nos acuda. Que rombo no orçamento. Amanhã tuas tias, Moça Mariana, estarão aqui pro quebra-jejum e não vou ter nem migalha pra oferecer… Sorte que sobrou Vespusiano pro gelo da manhã.

Moça Mariana coçou a lateral da barriga e confessou, a voz trêmula:

— Senhor… peço perdão. Quando o General reclamou, servi-lhe uma taça de Vespusiano… depois os Touros pediram, e eu servi. Aí, possessa, servi mais uma. E antes de você dar as caras lá fora… servi de novo.

Tarso olhou pro teto, balbuciando coisas que nem os deuses queriam ouvir.

— Mas fiz o bem com o mal, senhor Tarso. Na segunda rodada, adicionei Poeira de Vintém. Dancei abraçada ao barril pra misturar tudo. Uma maluquice que a gente, bruxa curandeira, se permite uma vez na vida. Matei-os por dentro. E agora terei de passar a vida curando gente pra equilibrar a conta.

Tarso arregalou os olhos.

— Minha filha… que inferno. Mesmo mortos… eles saberão. E quando souberem, virão atrás. Não estou contente. Que os deuses nos guardem.

Longe dali, o espectro de Olavo capengava entre os Touros pálidos.

— Guerreiros juramentados não caem fácil! Vamos vingar a vilanesca cilada! O veneno veio de onde?

— Da Aleblebê!

— Do cozinheiro!

— Da gostosa!

— A bruxa!

— O cozinheiro e a bruxa!

— Nos serviu dançando!

— Pó de Vintém!

— Pen-te-lhos…

— Vin…

— …gan…

— …ça!

Na taberna, Tarso e Moça Mariana preparavam defesas.

— Mandei um coelho-mensagem pra Vigoroso. Vai chegar mantimento amanhã cedo. Boa notícia, preço salgado, mas boa. Me preocupa é se Olavo voltar…

— Está morto, senhor. Todos mortos. Pó de Vintém não perdoa.

— Mas um espírito traído sempre volta. E quando volta, pega quem estiver por perto. Você, eu, qualquer um. Então vamos selar esta casa!

E selaram. Portas, janelas, fosso, chaminé, até as colheres. A noite desfez-se, o galo cantou, o vento soprou do noroeste. Do lado de fora, a marcha fúnebre de espectros se dissipava, restando só a sombra de Olavo, que antes de sumir apontou um dedo cadavérico para a taberna.

— Parece tudo tão calmo! — disse Mariana.

— Fecha a janela, menina. Numa sopa morna dessas, até alma penada mergulha.

— Relaxe, mestre cuca. Minhas tias chegaram.

— Tranquei a porta direito?

— Com o conjuro da "Minha Mãe Mortinha". Aqui não entra nem o diabo.

Os fantasmas flutuavam, esbarrando uns nos outros.

— General… aquela velha de bengala nos viu.

— Larga essa pedra, seu tolo!

As avós entraram, uma a uma.

— Que saudade, sua linda!

— Que linda!

— Saudades!

Moça Mariana abraçou-as, emocionada.

— Vou buscar pão preto e azeite.

Uma densa bruma se avizinhou da taberna. Dela, surgiam cabeças flutuantes — pálidas, translúcidas, olhos esbugalhados e bocas que nada mais faziam além de praguejar. No alto da névoa pairava o General Olavo Mariano, rosto de pedra rachada, e logo atrás os Touros de Marfim, seus leais soldados espectrais.

— Por que não invade de uma vez, General? — perguntou uma das cabeças.

— Não consigo! Estou estancado, ancorado feito pedra no fundo de um lago. Magia. Alguma bruxaria velha de taverna! Flaviolouco, tente a janela.

O espectro Flaviolouco colou o corpo na janela lateral, mas sua perna parou num arco de violetas.

— Também não passa — rosnou. — É como bater contra um muro de tijolos invisíveis. Só que só tem violetas ali. Violetas, céus!

— Feitiço de proteção — sussurrou o General. — Malditas!

— A bruxa!

— O cozinheiro!

— O sovaco!

A bruma remexeu-se e deslizou pela viela, rondando até a porta dos fundos — a entrada da cozinha.

Dentro, Ferreira de Tarso preparava a refeição mais importante de sua carreira acidental. As Avós Celestinas, lendas esquecidas do vilarejo, ocupavam a taberna desde o romper da manhã, bebendo infusões ardentes e exigindo iguarias ancestrais.

— Elas aprovaram o pão preto, Moça Mariana? — perguntou Ferreira, virando o molho de ervas.

— Amaram. Disseram que é receita digna de avó para avó.

— Mas os mantimentos… que demora!

Bateram à porta.

Moça Mariana destrancou-a e três senhores calvos, carregando caixas de iguarias, entraram. Mal os entregadores deram dois passos, um dos Touros tentou possuir seus corpos, mas logo se deu conta:

— Ué… Acho que não consigo!

— Nem eu! — rosnou outro. — É como tentar calçar uma meia úmida. Eles não são convidados, esses daí.

— Então que tal dizermos que estamos com fome? — sugeriu um espectro esperançoso.

— Vamos fazer melhor — retrucou o General. — Mauá, Mauá, Mauá, Mauá…

Enquanto isso, Ferreira despejava macarrão na água fervente, ignorando o estranho ruído vindo de um dos caixotes. Rataria, pensou ele. Chutou a caixa sem hesitar, agarrando um feixe de macarrão.

— Maravilha na panela. Maravilha de refeição. Meu ganha-pão, macarrão, macarrão!

As Avós Celestinas brindaram com água feroz recolhida em potes de mel. Os aromas de anis e alho-fantasma encheram o ambiente.

— Coma conosco, garota. Hoje teu mestre cuca permite. Afinal, a féria vem de nós — disse Senhorinha Mariluce.

Ferreira de Tarso irrompeu da cozinha, trazendo um tacho fumegante de macarrão.

— Boa fartura a todas!

As avós, que andavam vagarosas, empunhavam garfos com destreza de serpente. Os fios de massa sumiam rápido nos bicos miúdos. Moça Mariana já levava um garfo à boca quando ouviu:

— Prove e me elogie, mulher! — pediu Ferreira, peito cheio.

— Provaria, mas… o que são essas porcarias penduradas no macarrão?

O cozinheiro se aproximou, franzindo o cenho. Pendurados entre os fios brilhantes estavam formas diminutas, tal qual pedaços de giz branco.

— Mas que… — sussurrou ele.

As Avós largaram os garfos, Mariana recuou.

— Preste atenção nos fios! — advertiu a mais velha.

Ali estavam eles: os Touros e o General Olavo Mariano, diminutos, escalando os fios de massa como quem sobe a corda de um poço. Uma bruma fina os acompanhava como vapor de vinho barato.

— Mas que tipo de fantasma é esse que se mete na comida alheia? — perguntou Ferreira.

— É o General que eu matei! — confessou Mariana, corando de leve. — E os soldados. Mas era só um feitiço simples! Um lacre de passagem! Elas disseram que ninguém notaria!

— Moça Mariana Queteparta! Era selado que nenhuma magia faria fora de nossa morada! — advertiu uma das Avós.

Sem ter como escapar, Mariana contou a história. Ferreira remexia a massa com um garfão, fascinado.

— É incrível… Ao mesmo tempo que parece apetitoso, é repulsivo. Talvez… exótico. Qual o gosto de um bom fantasma?

Ninguém sabia.

— Pois esta é a receita que todo cozinheiro sonha. — disse Ferreira, olhos cintilando.

— O quê todo cozinheiro sonha? — perguntou Mariana.

— Um novo sabor.

— Tão caprichoso.

— Até parecem gostosos.

— Lembra algodão doce. : )

— Podem engordar!

— Podem matar! _ _

— Estão tão coladinhos… — murmurou uma das Avós.

— …aos fios de macarrão! — completaram em coro.

Naquela manhã, os fantasmas tiveram um gosto peculiar. Um gosto de não sei o quê. Olavo Mariano e os Touros foram devorados, fibra a fibra, entre garfadas apressadas e goles de água feroz.

E no umbral, o pensamento recorrente de cada um deles era:

O umbral é um lugar estranho quando se está dentro de um estômago.

segunda-feira, 10 de junho de 2013

O que é suspeito?




Suspeito é um buraco na rua, na frente do borracheiro.

Suspeito é um buraco na rua, na frente do borracheiro, cheio de pregos.

Suspeito é um buraco na rua, na frente do borracheiro, cheio de pregos e cacos de vidro.

Suspeito é um buraco na rua, na frente do borracheiro, cheio de pregos e cacos de vidro e com o poste de iluminação queimado.

Suspeito é um buraco na rua, na frente do borracheiro, cheio de pregos, cacos de vidro, com o poste de iluminação queimado e o atendimento passar a ser 24 horas.

Suspeito é um buraco na rua, na frente do borracheiro, cheio de pregos, cacos de vidro, com o poste de iluminação queimado, o atendimento passar a ser 24 horas, a prefeitura arrumar o buraco e na madrugada ouvirmos o barulho de uma britadeira.

Suspeito é o buraco ter voltado.

O borracheiro >

¯\_(シ)_/¯

O buraco >

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quarta-feira, 5 de junho de 2013

O ʜɪᴘɴᴏᴛɪᴢᴀᴅᴏʀ ᴅᴀ ᴘᴀᴅᴀʀɪᴀ

* Galera, descobri que pra visualizar de forma correta a história, tem que ter um pacote de fontes recentes e bem atualizado, senão fica tudo bagunçado na postagem. Uma pena. Alguns vão ver de forma correta, outros vão ver uma salada cheia de quadradinhos loucos e sem sentido rs*

(/_^)/ Iɴᴛᴇʀʟᴜᴅɪᴏs Cᴏᴛɪᴅɪᴀɴᴏs  \(^_\) apresenta:

|| O ʜɪᴘɴᴏᴛɪᴢᴀᴅᴏʀ ᴅᴀ ᴘᴀᴅᴀʀɪᴀ ||

~

(^_^) "E aí, cara. Vamos lá na padaria comigo?

( ^◡^)っ "Claro, vamos nessa."
   


               ( )
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/\ / /\/\ //___\ \__/ \ \/
/ \ /\/       \//_____\ \ |[]| \
              //_______\ \|__| \|
/ \       /XXXXXXXXXX\ \
\ /__\PADOCA DO GODÔ\
I_I| I__I_____[]_|_[]_____I
I_II I__I_____[]_|_[]_____I
(^_^) (^_^)

(^_^) (^_^) "Boa tarde" (ʘ‿ʘ) "Boa tarde rapazes, em que posso ajudar?"

^) ( ^◡^)っ "oito pães e dois litros de leite, por favor"

(ʘ‿ʘ) "É pra já!"

(^_^) ( ^◡^)

|・)*

|_・)*

... *( ・_・)* (^_^) ( ^◡^)

*( ・_・)* "Boa tarde!" (・_・)(・_・) "Opa, boa."

*( ・_・)* (・_・)(・_・)

*( ・_・)* (・_・)(・_・)

*( ・_・)* (・_・)(・_・) 〠〠 \(ʘ‿ʘ ) "Aqui estães os pães"

〠〠\(ʘ‿ʘ) "Rapazes?"

*(۞_۞)* "OLHEM EM MEUS OLHOS, CONTEMPLEM O ABISMO!"

(⊙_⊙') (⊙_⊙') "OH, mano, que bizarro"

*(۞_۞)* "TEUS OLHOS ESTÃO FICANDO PESADOS"

( >.< )( >.< )

*(۞_۞)* "ADORMEÇAM, ADORMEÇAM"

(-, - ) (-, - )…zzz

〠〠\(ʘ‿ʘ) "Ué, mas que merda..."

*(۞_۞)*

:*・°☆.。.:*・°☆.

(⊙▂⊙✖ )(⊙▂⊙✖ ) "CARALHO! Que porra foi que aconteceu?"

(⊙▂⊙✖ ) "Mano, eu não sei. Cadê todo mundo? Onde estamos?"

(⊙▂⊙✖ ) "Cara, aqui não é a padaria, parece um circo."

(⊙▂⊙✖ ) "Porra, foi aquele maluco sinistro. Ele hipnotizou a gente."

(`・ω・´) "ᖇ〇〇〇ᗩᗩᗩᖇᖇᖇ " (⊙▂⊙✖ )(⊙▂⊙✖ ) "URSO????!!!!!!"

(╯▅╰) "VÉI, VAMOS SAIR DAQUI"

ε=ε=ε=ε=ε=ε=┌(; ̄◇ ̄)┘
ε=ε=ε=ε=ε=ε=┌(; ̄◇ ̄)┘

(`・ω・´) "ᖇ〇〇〇ᗩᗩᗩᖇᖇᖇ "

(`・ω・´) "ᖇ〇〇〇ᗩᗩᗩᖇᖇᖇ "

(`・ω・´) "ᖇ〇〇〇ᗩᗩᗩᖇᖇᖇ "

ε=ε=ε=ε=ε=ε=┌(; ̄◇ ̄)┘ "Mas nem tem urso no Brasil"
ε=ε=ε=ε=ε=ε=┌(; ̄◇ ̄)┘ "Devemos estar presos num tipo de ilusão"

"PAREM! JAMAIS SAIRÃO DOS MEUS DOMINIOS MENTAIS!" *(۞_۞ )*

*(۞_۞ )**(۞_۞ )**(۞_۞ )**(۞_۞ )*

(⊙▂⊙✖ ) "O MALUCO SE MULTIPLICOU"

"TOMA ESSA BICA NA FUÇA, SEU CUZÃO" (ヽ `д´)┌┛★)`з゜)

\( ゚ヮ゚)/ "YEAH, MANO! Tu pegou ele!"

(ヽ `д´)┌┛★)`з゜) (ヽ `д´)┌┛★)`з゜) (ヽ `д´)┌┛★)`з゜)

*(۞﹏╥)* "aaaaaaarrrrggghhhhh"

*(۞﹏╥)* "VÃO SE ARREPENDER DESSA AFRONTA"

*(۞﹏╥)* "QUE COMECE A INVASÃO!"

:*・°☆.。.:*・°☆.

(-'.'-)(-'.'-) "Olhe, estamos de volta à padaria!"

(-'0'-) (-'0'-) "mas... o... quê... diabos... é... isso?"

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░░░░░░░░░░░░███████████░░░░░░░░░░░░
░░░░░░░░░░░░░░░██▄██░░░░░░░░░░░░░░░
░░░░░░░░░░░░░░░█████░░░░░░░░░░░░░░░
░░░░░░░░░░░░░░░░░░░░░░░░░░░░░░░░░░░

"ATENÇÃO HUMANOS. AFASTEM-SE
DE MINHA NAVE! DIZIMAREI A TODOS".

〠〠\(ʘ‿ʘ) "Rapazes, não vão querer os pães?"

ε=ε=ε=ε=ε=ε=┌(; ̄◇ ̄)┘ "EITA!"
ε=ε=ε=ε=ε=ε=┌(; ̄◇ ̄)┘ "FOOOGE"

┐(ʘ‿ʘ)┌ "Ué, acho que nães!"

(ʘ‿ʘ) "Olá senhor Berzequetréfe!"

░░░████████░░░░░░░░░░░░░████████░░░
░░░██▄██░░░░░░░░░░░░░░░░░░░██▄██░░░
░░░█████░░░░░░*(۞_۞ )*░"Olá" ░█████░░░
░░░░░░░░░░░░░░░░░░░░░░░░░░░░░░░░░░░
░░░█████░░░░░░░░░░░░░░░░░░░█████░░░

(ʘ‿ʘ) "Brioches com mantega pra viagem, como sempre?"

░░░█████░░░░░░*(۞_۞ )*░"SIM" ░█████░░

░░*(۞_۞ )*░"por favor!" ░██

(ʘ‿ʘ)

(`・ω・´) "ᖇ〇〇〇ᗩᗩᗩᖇᖇᖇ ? "

(ʘ‿ʘ) "Nães"

ʕ •ᴥ•ʔ

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ℱℑℳ

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terça-feira, 4 de junho de 2013

Versículo


Jokenpo 
Não sei Isaac. Acho que foi Isaías quem colocou isso aí.

Ah, tudo bem. Obrigado, Jó.

De nada, Isaac.

Ali a baba



No meio da empada tinha uma azeitona
No meio da azeitona tinha um caroço
No meio do dente um trinco
No meio da alma, a dor.
Puta que pariu!

Comi coxinha com gosto de sardinha
Ao terminar, tinha uma peninha
Que dózinha da galinha

As três pontas da esfiha
As três pontas queimadas
Mordi no meio e era massa
 

Meme já


L(・o・)」

Você aí, já pensou hoje no "Como não pensei nisso antes?", para que amanhã não tenha que pensar em como não pensou nisso antes? Fica ligado, gênio!

L(・o・)」

Imagina na World Cup 2014




That beautiful view of the beach. It is a paradise. VAI TIO, PERDEU. Is all that I wanted for our family. PASSA A GRANA GRINGO LOUCO. I want to prove all the typical foods. NÃO OLHA PRA MINHA CARA, OTÁRIO. How many nice people here. VACILÃO. This World Cup will give us valuable life lessons in community. EU SENTO O DEDO SE TU FICAR NESSE EMBAÇO. The joy of the sport, the communion, the victory and the defeat. TÔ A MÓ CARA TE FITANDO, MALUCÃO. Everything in this tropical paradise, the samba, the smile, the caipirinha. TÁ CHEIO DE DÓLAR NESSA PORRA. I'm so happy. BELEZA MANÉ. Look, there should be the police station. Lovely place. By chance, you are the last of the queue?


Oui, oui. S'il vous plaît, Monsieur. Je suis le dernier de la file d'attente

Namorados?